quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Mudança de hábitos alimentares leva doenças crônicas às aldeias


Mudança de hábitos alimentares leva doenças crônicas às aldeias

Alterações nos padrões alimentares e de atividade física têm provocado drásticas transformações na saúde indígena, levando para as aldeias problemas como obesidade, hipertensão arterial e diabetes. Essa foi a principal conclusão do 1º Inquérito Nacional de Saúde e Nutrição dos Povos Indígenas, maior estudo sobre a saúde dos povos indígenas já realizado no país. Apresentado na 74ª reunião da Comissão Intersetorial de Saúde Indígena (Cisi) do Conselho Nacional de Saúde, em Brasília, em 26 e 27 de julho, o estudo teve seus primeiros resultados divulgados por dois de seus coordenadores, Carlos Coimbra e Andrey Cardoso, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), e tratou das recentes transformações observadas na situação alimentar e nutricional e seus fatores determinantes, em crianças indígenas menores de 60 meses de idade e em mulheres indígenas de 14 a 49 anos no Brasil. A pesquisa também apontou altas prevalências de desnutrição (em crianças) e de anemia (em mulheres e crianças).

Foto: Adriano De Lavor

Coimbra , que coordenou o estudo com Andrey: “precisamos ir além da roça, entrar no supermercado e na cozinha a gás”
O inquérito teve a participação de pesquisadores de dezenas de instituições brasileiras, sob coordenação geral de pesquisadores da Ensp — além de Coimbra e Andrey, Ricardo Ventura Santos — e da Universidade Federal de Pelotas — Bernardo Horta. Na Ensp, a equipe conta também com a participação de alunos dos programas de pós-graduação da Escola e egressos. Os pesquisadores fizeram sua apresentação ao lado de representantes de setores interessados na condução das ações de saúde indígena no país, como a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), responsável pela área no Ministério da Saúde, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), a Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), e lideranças indígenas, como Edmilson Canale Terena, do Conselho Indígena de Cuiabá e coordenador do Fórum de Presidentes dos Conselhos Distritais de Saúde Indígena (Condisi). Edmilson Terena considerou que os resultados refletem a situação “crítica e caótica da saúde indígena” e a falta de resolutividade da Funasa — “se estivesse tudo bem, não estaríamos pleiteando a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai)”.

INTERSETORIALIDADE E PROTAGONISMO

A secretaria a que Edmilson Terena se refere é uma das seis previstas para o Ministério da Saúde, segundo o Projeto de Lei de Conversão (PLV 8/2010) da Medida Provisória (MP 483) que modifica a estrutura da Presidência da República. Aprovado no Senado em 3 de agosto, o Projeto de Lei depende da sanção do presidente Lula.

Os defensores da proposta da secretaria advogam que, com a retirada da Funasa, o atendimento à saúde indígena seguirá um “novo modelo de gestão focado na intersetorialidade”. Diante de problemas apontados pelo estudo — desnutrição e anemia entre crianças e obesidade, hipertensão arterial e diabetes entre mulheres adultas — Edmilson comentou: “Se já temos este diagnóstico, temos que tomá-lo como norte”.



Ele lembrou que muitos dos problemas são velhos conhecidos e têm como origem a falta de saneamento e a baixa qualidade da água consumida pelos índios (Tabela 1), que levam a problemas como a diarreia (Tabela 2). Os dados indicam a necessidade de ações permanentes e uma solução para além do setor Saúde, como observa Edmilson, que defendeu o protagonismo: “Cansamos de ser coadjuvantes”.



Para Carla Teixeira, representante da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) na Cisi, o estudo demonstra, além da complexidade da situação dos índios, que o modelo de atendimento implementado nas áreas está mais focado no tratamento do doente e que os dados serão importantes para ajudar a implementação de uma alternativa “mais fiel aos preceitos do SUS, com promoção à saúde no subsistema de saúde indígena. Além disso, revela também a disposição dos índios em se colocarem como sujeitos do processo, no sentido de “ditarem o rumo e o ritmo das mudanças”.

TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA E NUTRICIONAL

O inquérito trouxe à tona outras informações importantes sobre o perfil atualizado das sociedades indígenas no Brasil — são aproximadamente 500 mil pessoas, divididas em mais de 200 etnias, e que falam cerca de 180 línguas. As terras indígenas constituem aproximadamente 15% do território nacional, ausentes apenas no Piauí e no Rio Grande do Norte.

Os dados retratam que os índios experimentam importante transição nos modos de produção e consumo de alimentos. Os sistemas de subsistência indígenas foram afetados por fatores como a redução territorial e a pressão exercida pela expansão dos projetos de colonização rural e empresas agropecuárias, garimpos e indústria extrativista, além de sofrerem as consequências de ambientes degradados.

Muitas comunidades indígenas, em particular, nas regiões onde as extensões das terras são menores, como no Nordeste e Sul/Sudeste, já não comem mais aquilo que produzem, ocasionando um processo que os pesquisadores definem como transição epidemiológica e nutricional (Tabela 3). Essa mudança compromete sua segurança alimentar e a saúde em geral, como demonstram os números.


A tendência de aumento registrada no consumo de alimentos industrializados também tem relação com a introdução de fontes de renda entre os indígenas, oriundas de trabalho assalariado, venda de produtos diversos, aposentadorias e outros benefícios sociais (Tabela 4).




Edmilson considera o programa Bolsa Família “um mal necessário”, já que supre necessidades urgentes das famílias indígenas, embora, por outro lado, estimule o consumo de produtos que não fazem parte da dieta nas aldeias, trazendo problemas como diabetes e hipertensão.

Valdenir Andrade França, coordenador da Cisi e representante da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), é contrário à distribuição de cestas básicas em locais onde há produção de alimentos. “O governo está criando índios preguiçosos”, alerta.

Clovis Boufler, coordenador adjunto da Cisi e conselheiro nacional de Saúde, destaca a relevância do estudo na política de etnodesenvolvimento e economias sustentáveis em áreas indígenas, objeto de reflexão da comissão desde que era coordenada pela médica Zilda Arns (1934-2010), cujo objetivo é encontrar saídas de acordo com realidades regionais. Ele acredita que o inquérito permitirá a definição de “políticas mais estruturantes” no setor e será utilizado como instrumento de pressão política: “Os parâmetros de urgência da pesquisa sugerem ações imediatas no campo. São áreas de perigo para a saúde”.

O conselheiro defende, ainda, o protagonismo dos indígenas, informando que, cada vez mais, as reivindicações dos índios são levadas em consideração. Na área de segurança alimentar, ele indica que deve existir uma política intersetorial, baseada no diálogo e auxiliada por apoio técnico. E ressalta: “Quando se fala de alimentação, fala-se de um processo produtivo de longo prazo, que exige assistência técnica”. Para ele, os principais problemas apresentados — obesidade e diabetes — devem ter prioridade e exigem programas de combate urgentes, já que são apenas “a ponta do iceberg” e escondem outros problemas.

ANEMIA E SOBREPESO

Os dados do inquérito justificam a preocupação dos integrantes da Cisi. A anemia foi diagnosticada entre os povos indígenas em todas as macrorregiões, atingindo em 51,3% as crianças (Tabela 5). Os índices verificados entre as mulheres, que chegam a 32,7% (Tabela 6), são muito superiores aos descritos em pesquisas para a população brasileira em geral. Os resultados confirmam que a desnutrição, mensurada por meio do indicador baixa estatura/idade atinge uma em cada três crianças indígenas (Gráfico 1). A prevalência supera os 40% na macrorregião Norte.







Por outro lado, o estudo registra a emergência de sobrepeso e obesidade em jovens e adultas indígenas e a ocorrência expressiva de doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão arterial e diabetes. Segundo a pesquisa, além da mudança no padrão alimentar, verifica-se também tendência à redução da frequência e intensidade da atividade física, devido às alterações nas estratégias de subsistência e nos padrões de assentamento.

O binômio alimentos industrializados/sedentarismo pode fornecer explicações para os números que indicam que em torno de 50% das mulheres no Centro-Oeste e no Sul/Sudeste sofrem com sobrepeso e obesidade (Tabela 7), enquanto 15% são atingidas pela hipertensão arterial (Tabela 8). Em relação ao diabetes, o índice de 1,2% verificado no país (Tabela 9) é um alerta, como analisa Ricardo Ventura Santos, um dos coordenadores da pesquisa. “É um valor baixo, mas significativo, pois indica um problema de saúde emergindo”, explica.

Carlos Coimbra considera que as ações em saúde indígena ainda são muito conservadoras e alerta para a complexidade da situação. “A ênfase na autossubsistência é certamente a mais importante, mas há outros aspectos que precisam ser considerados”, defende. Segundo o pesquisador, mudanças importantes estão em curso nas aldeias. Ele citou como exemplo os jovens indígenas que já fazem cursos na área de Saúde e que não estariam dispostos a voltar a trabalhar nas atividades de subsistência tradicionais.

AÇÃO PIONEIRA E MOBILIZADORA

Outra das múltiplas situações de sociodiversidade pode ser observada com a introdução de novas fontes de renda, o que modifica a dinâmica das comunidades. Ele sugere medidas que contemplem não somente a agricultura, mas também sejam educativas no que diz respeito ao consumo de alimentos, como discutir com as comunidades os problemas de saúde que podem decorrer do consumo de sal, óleo e açúcar em demasia.

Coimbra lembra que economia doméstica e atividades econômicas não são excludentes: “Precisamos ir além da roça, entrar no supermercado e na cozinha a gás. Muitos não querem mais a enxada e temos que respeitar isso”. Irânia Marques, representante da Fundação Nacional do Índio (Funai) na comissão, concorda e complementa: “Os índios nos mostram que são ótimos gestores”.

O pesquisador da Ensp defendeu que a realização de inquéritos de saúde e nutrição indígena deve se tornar uma rotina, de modo que não se perca a continuidade do levantamento de dados, tão importante para a elaboração e acompanhamento de políticas públicas. Para ele, “não podemos perder o comparativo” e, para isso é preciso investir na regularidade desse tipo de estudo.

Os indígenas nunca haviam sido contemplados como segmento específico de análise nas grandes pesquisas nacionais, com exceção dos censos demográficos conduzidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que, a partir de 1991, passaram a incluir a categoria “indígena” sob o quesito cor/raça. O que se espera é que as informações se transformem em subsídios para a avaliação do subsistema de atenção à saúde indígena e também para o necessário aperfeiçoamento do atual modelo de atenção à saúde indígena no país.

Além disso, espera-se que os dados do inquérito subsidiem a construção de uma linha de base do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional para os Povos Indígenas (Sisvan Indígena), em implantação nos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dseis), contribuindo para a avaliação de ações de saúde conduzidas pelo órgão gestor do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena — atualmente a Funasa — e sirvam de referência para a realização de inquéritos futuros comparativos da tendência da situação de saúde entre povos indígenas. Um caminho para que novas possibilidades, pouco exploradas, possam ter espaço na formulação de políticas: “O quadro é muito mais complexo. A visão tradicional do indigenismo não dá conta”, diz Coimbra.

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Sumário


Documentário denuncia agressões ambientais na Ilha da Madeira

Documentário denuncia agressões ambientais na Ilha da Madeira

Adital -

Os pesquisadores da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio - Fundação Osvaldo Cruz (EPSJV/Fiocruz) produziram um vídeo documentário retratando as agressões ambientais ocorridas na Ilha da Madeira, em Itaguaí- Rio de Janeiro. O tema central é "Território de Sacrifício ao Deus do Capital: o caso da Ilha da Madeira". E está disponível no site www.epsjv.fiocruz.br
O nome do documentário é uma referência ao termo ‘Zona de Sacrifício’, utilizado por alguns autores para definir áreas determinadas pelo poder público para receber empreendimentos econômicos. No caso da Ilha da Madeira, os moradores e pescadores foram coagidos pelo poder público a aceitar as indenizações e imposições das empresas.

Mais informações:
Talita Rodrigues
55.21. 3865.9737

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Funai organiza leilão com madeiras apreendias em TI´s do Mato Grosso


Funai organiza leilão com madeiras apreendias em TI´s do Mato Grosso

Realizado no dia 21 de Setembro na cidade de Conquista D’Oeste – MT - um leilão com cerca de 670 toras de madeiras derrubadas ilegalmente que equivalem a 430 metro cúbicos da reserva do Sararé, aprendidas no ano de 2004. As toras se encontram espalhadas pela reserva e são localizadas por georreferenciamento com trilhas de acesso organizadas.

O leilão irá beneficiar as comunidades indígenas que sofreram com a retirada das madeiras. O prejuízo ambiental será amenizado pela arrecadação do leilão, tendo em vista que 90% do montante será alocado para o desenvolvimento de trabalhos com os indígenas sob orientação da Funai. Os outros 10% serão destinados ao leiloeiro que foi escolhido pela Fundação e aceito pela Justiça Federal de Cáceres, a responsável pela autorização do leilão.
O Coordenador da Funai, Benedito Garcia, convidará a população indígena Nambikwára das terras do Sararé, para juntos poderem discutir como melhor aproveitar o dinheiro oriundo do leilão. “Podemos aplicar o dinheiro na recuperação da aérea desmatada, ou em outro projeto que a comunidade esteja favorável” confirma o Coordenador, que ainda ressalta a desvalorização da madeira, “São toras de madeiras muito antigas. Se o leilão tivesse sido organizado na época, arrecadação para os indígenas seria maior”. A responsabilidade pelos leilões ocorrerem é da Justiça Federal.
O destino das madeiras apreendidas nem sempre é direcionado para a doação, uma forma de transformar os danos ambientais em recursos para as cidades e comunidades atingidas pela exploração ilegal. A Funai tem como objetivo principal fazer com que esses recursos que são de direito indígena, pela exploração de suas terras, chegue e ajude as comunidades no seu desenvolvimento, proporcionando melhorias à sua comunidade.

FONTE: http://blogdafunai.blogspot.com/2010/09/funai-organiza-leilao-com-madeiras.html

FUNAI cria Sistema de Informação Indígena


FUNAI cria Sistema de Informação Indígena
A Fundação Nacional do Índio (FUNAI) realizou nessa terça-feira a reunião de abertura do projeto de implementação do Sistema de Informações Indígenas da FUNAI, viabilizado a partir do acordo de Cooperação assinado entre a Unesco e a FUNAI – Edital 002/210, com previsão para lançamento no ano que vem, que permitirá o compartilhamento de informações de cunho indígena.

Com a nova plataforma no ar, o público externo poderá acessar informações atualizadas sobre as comunidades indígenas de todo o Brasil, como população, tradições, língua, localização e etnia.
A diretora de Proteção Territorial, Maria Auxiliadora Sá Leão, fez a abertura do evento falando da sua satisfação em concretizar um sonho antigo da instituição. “Esse é um momento especial, é um sonho que começou a ser concretizado com a participação das coordenações, e quem ganha com isso não é só a FUNAI, mais também as comunidades indígenas de uma forma mais real”, declara a diretora.

Na ocasião, André Cabral, Gerente de Projeto da Tecnisys Informática, empresa contratada para desenvolver o sistema, esclareceu a importância do projeto para a FUNAI, a adequação aos processos, disponibilidade de informações e os resultados esperados.
O Sistema de Informação Indígena da Funai, irá incorporar o atual sistema de Terras indígenas – STI, realizando a migração de dados existentes e o desenvolvimento de novos módulos. Também será disponibilizado no sistema a legislação indígena brasileira atualizada, a relação bibliográfica sobre temas em relação ao indigenismo brasileiro e sugestão de link’s.
O objetivo é promover atualização rápida e eficaz de dados e disponibilizá-los com mais detalhe ao público.

FONTE: http://blogdafunai.blogspot.com/2010/09/funai-cria-sistema-de-informacao.html

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

10ª Caminhada Tupinambá de Olivença - BA




10ª Caminhada Tupinambá de Olivença - BA

NOTA: "Neste ultimo domingo,dia 26 de setembro de 2009, aconteceu em Olivença-Ilhéus no estado da Bahia, mais uma caminhada indígena Tupinambá em memória ao Massacre do Rio Cururupe. Muitos indígenas, simpatizantes, servidores da FUNAI e admiradores se uniram nesta caminhada histórica e partiram rumo ao Rio Cururupe. Uma caminhada de 9 quilômetros.
Com o apoio da Polícia Rodoviária Federal e a presença de alguns dos novos servidores oriundos deste último concurso da FUNAI, realizado neste ano de 2010."

RELEMBRANDO A HISTÓRIA

Em 22 de abril de 1500, colonizadores portuguêses liderados por
Pedro Alvares Cabral, invadiram e se apossaram dessa nova terra
que veio a ser chamada de Brasil.

Aqui chegando, encontraram logo de inicio habitantes de outra nação:
Nossos parentes TUPINAMBÁ.Além de desconsiderar e de despresar os
habitantes, os colonizadores europeus praticaram atos crueis e
sanguinarios como a escravização dos indios e trouxeram doenças,
condenando a maioria dos parentes a morte.

A pratica do exterminio continuou ao longo do tempo.A ganância
pelas nossas terras aumentava com o passar dos séculos e com isso
prosseguia o massacre dos indios remanescente de OLIVENÇA.

No dia 26 de setembro de 1937 aconteceu nas margens do rio cururupe
aqui em Ilhéus- sul da BAHIA, um grande massacre dos parentes
conhecido pelos mais velhos como:A REVOLTA DO CABOCLO MARCELINO.
Neste massacre foram mortos varios parentes, E NUMCA SE FEZ JUGAMENTO
PARA PUNIR OS CULPADOS.

O movimento que ficou conhecido como a REVOLTA DO CABOCLO MARCELINO,
começou em 1929,conforme se lê no texto extraido da dissertação de
mestrado da Prof Maria Hilda Paraíso."OS INDIOS NA AREA DOS CORONÉIS
DO CACAU":A construção da ponte sobre Rio cururupe teve reflexos
graves aos indios de olivença...A reação dos"caboclos" de olivença
terminou por se processar em 1929, sob o comando de Marcelino,liderança
TUPINAMBÁ na época.
Argumentando a nessecidade de recuperar as nossas terras perdidas,e
expulsarem os atuais ocupantes da ALDEIA.
A reação (das autoridades da época)foi imediata,e em novembro de 1929
uma caravana de praças e de inspetores de quarteirão deslocou-se para o
cururupe iniciando a repressão aos revoltosos...

E o governo covardemente instalou a linha Ilhéus-Olivença usando
caminhões como veículos.


***
Os tupinambá de Olivença são um povo indígena que vive no litoral sul da Bahia ao redor do distrito de Olivença, município de Ilhéus.
Desde o ano de abril de 2002 são reconhecidos como grupo indígena pela FUNAI.

A Terra Indígena Tupinambá de Olivença está situada nos Municípios de Ilhéus, Buerarema e Una, no Estado da Bahia e é ocupada tradicionalmente pelos Tupinambá de Olivença cuja predominância de traços da vida social remonta à grande família Tupi, filiação que não é apenas um resquício histórico remoto, mas uma marca efetiva na organização social e modo de vida atuais. Estimados aproximadamente em três mil, os Tupinambá habitam em pequenas unidades familiares distribuídas em uma área que abrange tanto a costa marítima quanto uma região de Mata Atlântica a norte, ao sul da vila de Olivença, e para o interior, até a uma cadeia de montanhas composta pelas Serras das Trempes, do Serrote e do Padeiro.
A Vila de Olivença é o marco referencial da área que está sendo proposta. O local teve origem em 1680 com a edificação do aldeamento jesuíta "Aldeia de Nossa Senhora da Escada", sendo também área de habitação permanente. É na vila que os Tupinambá praticam um conjunto diversificado de atividades que envolvem a pesca no mar e no rio, a extração de piaçaba, bem como desenvolvem atividades ligadas ao turismo, festas e rituais que caracterizam seu modo de ser e estar no mundo. A vila promove a articulação entre os Tupinambá inseridos nas serras, ou na "roça" conforme classificação nativa, e os residentes nas áreas urbanas, sendo local onde se encontra importante cemitério indígena. Nesse sentido, os limites definidos pela Terra Indígena são vistos a partir da situação atual e do histórico de habitação do território, não correspondendo a um resgate de uma delimitação estabelecida no passado.
No decorrer dos últimos quatro séculos, os Tupinambá de Olivença mantiveram-se em suas terras de ocupação tradicional resistindo, de diferentes formas, à usurpação das mesmas. Além de dados históricos que indicam que os índios ocupavam esta região desde período anterior à ocupação européia, o fato deste ser um território rico em recursos fluviais e matas explica essa permanência contínua na Terra Indígena. Digno de nota, inclusive, é que apenas na década de 1930 constam registros de que alguns índios deslocaram-se para área de Caramuru-Paraguaçu - neste caso à procura de proteção do Serviço de Proteção ao Índio - o que indica um padrão de permanência perene nesse território, só alterado diante de sérias restrições quanto ao acesso e ocupação do mesmo. Se por um lado os Tupinambá sentiram a usurpação histórica de extensas áreas do seu território tradicional, processo intensificado no período em que a região da mata começou a ser comprada e transformada em propriedade privada - o que ocorreu a partir da década de 1930-1940 - é principalmente a partir da década de 1960-1970 que ganham consciência de que a presença dos "brancos" em suas terras estava inviabilizando seu relacionamento com o espaço. A partir de então a percepção do confinamento se faz sentir na vida cotidiana pela impossibilidade de fazer novas roças, de estabelecer novas unidades de habitação ou mesmo deslocar-se no espaço. O impedimento de dispor de recursos naturais provenientes das áreas de mata, de aceder a rios próximos aos locais de habitação, bem como o confinamento em espaços exíguos são dimensões do processo. Não obstante, a Terra Indígena Tupinambá de Olivença faz-se conhecer pelo significado social e cultural atribuído pelos Tupinambá ao território, sendo para tal central a ligação entre os habitantes e seus cultivos. No seu modo de ocupação tradicional do território, os Tupinambá de Olivença vão se movendo e abandonando locais antigos de residência em ciclos de cerca de oito anos. Os espaços que já foram habitados nunca deixam, porém, de fazer parte do patrimônio territorial dos Tupinambá. Eles os rememoram por referência a cultivos ali deixados (nomeadamente árvores de frutos) e pelas "capoeiras" - áreas de rejuvenescimento da mata que indicam o cultivo antigo de roças.
Ocupação Tradicional

O território hoje habitado pelos Tupinambá de Olivença pode ser documentado a partir de transformações históricas contínuas e assentes em critérios de organização social e de reação ao embate político com os missionários, os colonizadores e "brancos" de modo geral, que remonta ao século XVII. Mesmo antes de se fixarem no aldeamento jesuíta, as referências históricas consultadas mostram que os índios já se encontravam nesta região, sendo que a maioria tem a procedência Tupi (Tupiniquim e/ou Tupinambá), havendo a menção da existência de Aimorés e Botocudos e outros grupos provenientes de outros aldeamentos jesuítas da região de Ilhéus. Estes grupos indígenas resistiram à ocupação dessas terras e atacavam os empreendimentos coloniais, o que postergou a ocupação e a fixação de aldeamentos nessa área ao sul do Estado da Bahia. No entanto, se os índios resistiam, a Coroa Portuguesa mantinha fortes interesses na ocupação das terras e, como forma de contê-los, os repreendeu violentamente. Com a edificação do aldeamento o povoamento passa a ser projetado segundo os modelos de espaços quadriculares onde os jesuítas implantaram seu projeto pedagógico e disciplinar. Porém, mais do que se adequar ao projeto colonial, diversos documentos consultados mostram que os Tupinambá de Olivença souberam apropriar- se do espaço, transformando-o em um espaço indígena. Em 1750, por diretiva do Marquês do Pombal, os povoamentos indígenas que anteriormente tinham nomes religiosos ganham toponímias de lugares da metrópole, criando simbolicamente uma idéia do território colonizado como uma réplica de um território 'original' da metrópole. É assim que o aldeamento de Nossa Senhora da Escada passa a designar-se Vila Nova de Olivença, nome de uma povoação que nessa altura pertencia a Portugal. O Diretório dos Índios, projeto colonial desse período, incentivou a mestiçagem de índios com colonos portugueses, fato que facilitou a entrada de portugueses no território das vilas não apenas para "casar", mas também para negociar e ocupar o território (Diretório dos Índios, 1757). Mesmo diante do novo projeto colonial, os Tupinambá continuaram vivendo o espaço da vila e das matas da região de Olivença como território indígena, transformando-o segundo seus padrões, ajustando o aparelho colonial às suas vivências. Perpetua-se uma organização familiar e ocupação habitacional do espaço da vila repudiados pelo modelo colonizador, o cultivo de mandioca nas roças circundantes, e produção do vasto conjunto de derivados alimentares deste tubérculo - desde a farinha à bebida fermentada referida especificamente em fontes históricas sobre os índios de Olivença pelo nome Cauym (Lisboa 1799 in Almeida 1916: 108). Há também referências à prática da pesca no rio, à caça no mato e à coleta de caranguejos nos manguezais (Cf. Dias 2007: 17), bem como elaboração de peças artesanais, sobretudo a partir de piaçaba, que eram remetidas para Salvador onde eram comercializadas (Cf. Marcis 2004: 43, 44). Fontes documentais mostram, ainda, que, no século XVIII e XIX se manteve o mesmo padrão de ocupação do espaço. As diversas ações do estado colonial, que não consideraram o ponto de vista indígena, não apagariam nunca o modo de ocupação do espaço dos Tupinambá de Olivença, segundo sua própria lógica cultural, nomeadamente se deslocando para junto aos rios, para o interior do continente, mantendo a ligação à vila - situada no litoral. Uma análise dos registros do cartório da vila mostra que nos finais do século XIX este modelo de ocupação do território se manteve, permanecendo até a atualidade. A partir de 1875 o Estado brasileiro declarou a extinção do estatuto indígena dos antigos aldeamentos missionários, seguindo interesses absolutamente alheios e desconhecedores do que ocorria nessas vilas, e assim determinando que as terras dos antigos aldeamentos passassem a ter o estatuto de "terra devoluta" (Dantas et alli, 1992:451-2). Como "terra devoluta" essas terras poderiam ser transferidas do domínio patrimonial da Coroa para os Estados e alvo de titulação de propriedade - Artigo 64, da Constituição Federal de 1891 (Garcez e Machado, 2001, p. 239). Em 1897, por meio da Lei nº. 198 do Governo do Estado da Bahia, essa legislação é aplicada abrangendo Olivença. Contudo, mais uma vez, os Tupinambá mantêm-se em suas terras tradicionais, evidenciando a distância entre as leis e a realidade vivida na região. Os registros oficiais de nascimento e falecimento da população da vila até a década de 1930 continuam a identificar a grande maioria da população como índios. A década de 1930 é tempo de forte pressão para que os índios deixem suas terras, fato que fez com que parte dos Tupinambá empreendessem pequenos deslocamentos ou refugiassem-se nas serras. É a partir de então que os índios começam a tomar consciência do processo de usurpação do seu território e passam a adotar diferentes estratégias de resistência. Uma das mais conhecidas corresponde à "revolta de Marcelino" (Paraíso 1989) em que o líder Marcelino, com um grupo de índios, procuraram salvaguardar os seus interesses face à pressão fundiária. Segundo a imprensa da época, o fizeram não apenas por meio do enfrentamento da repressão policial, mas também pelo busca da proteção do SPI que, no entanto, não os atendeu. A eficácia da luta de Marcelino evitou maior usurpação fundiária até ao final da década de 1930, tendo recebido apoio dos índios que já habitavam por todo o território, abrigando-se e conseguindo refúgio, principalmente, nas regiões da Serra das Trempes e da Serra do Padeiro. A revolta de Marcelino é hoje referência fundamental para os índios, já que ele foi capaz de englobar simultaneamente características de herói, guerreiro e encantado, portanto plenamente capaz de ajudar o povo Tupinambá. Porém, a resistência dos Tupinambá se fazia sentir também de formas menos visíveis, fato que dificultou a colonização da área por não índios. Dois anos depois da prisão e do desaparecimento de Marcelino, os índios de Olivença "não acham quem os defenda" conforme afirmou Curt Nimuendaju em 1938. Todavia, para que os brancos conseguissem efetivamente apropriar-se dessas terras tiveram que lutar com forças policiais e poder administrativo, aqui usando e abusando do momento do coronelismo e do projeto autoritário modernizante da ditadura de Getúlio Vargas que marca, efetivamente, as décadas de 1930-1940. Na vila a administração passa a ser controlada por migrantes chamados pelos coronéis da região, os quais implementam leis para afastar os índios da vila A partir de 1945 a multiplicação de fazendas é muito evidente, como pudemos comprovar recorrendo à indicação de locais de nascimento e morte de moradores na região, registradas no livro do cartório da vila. Nunca parando de crescer, a privatização quase plena do território efetiva-se nas décadas de 1960-1970. A partir de 1964 a situação é ainda mais clara já que o Decreto nº 19.132 de 21 de Fevereiro de 1964 obriga que exista uma proporção em pelo menos metade entre a área cultivada e inculta na venda de terras devolutas. Há testemunhos orais de agrimensores ou "Delegados de Terras" que certificam que serviram de mediadores para negociações entre proprietários e os índios que habitavam na região de matas, obtendo as terras por meios economicamente vantajosos para os compradores os quais normalmente nem chegavam a fazer um pagamento monetário. A 'conquista da vila' "pelos brancos" foi complementada pela 'colonização fundiária da mata', envolvendo todo o território da costa até a região das serras. Para os Tupinambá a privatização das propriedades começou a restringir e depois mesmo a impedir a sua reprodução, no modo tradicional de ocupação do território a qual implicava uma mudança cíclica de local de residência e a fundação de novas áreas de habitação pelo menos a cada duas gerações. Na década de 1980 as reivindicações feitas pelos Tupinambá não ficaram muito conhecidas, porque eles procuraram meios próprios para ir diretamente a Brasília procurar apoio da parte da FUNAI. Nos inícios da década de 1990 já há registros documentais na FUNAI sobre a presença de uma comunidade indígena "arredia" em Olivença e a necessidade de ser atendida face à situação de desapropriação do seu território. O primeiro relatório resultante de uma visita da FUNAI à região data de 1997 e nele o representante da FUNAI afirma que "após contacto e revelações do grupo meio arredio pelo pouco que são visitados, pude constatar que vivem em regime fechado e ainda conservam seus traços étnicos, legado dos primeiros povos a habitarem a região costeira da Bahia". No ano 2000 uma índia com maior instrução escolar conseguiu dinamizar um grupo de índios Tupinambá para participar no encontro que juntou representantes da grande maioria dos povos indígenas do Brasil em Porto Seguro. É a partir da consciência de que fazem parte desse mundo mais vasto com quem contataram que os Tupinambá acreditaram serem capazes de vencer a luta pela defesa do seu território tradicional. Depois de solicitarem a delimitação do seu território tradicional à FUNAI em 2002, e tendo conseguido que em 2003 se iniciassem os estudos preliminares de identificação da terra indígena, nos últimos seis anos viram a solução ser protelada com aumento já insustentável de colisões sociais com interesses econômicos na região que, face ao conhecimento da existência de tais estudos, os ameaçavam. Em 2006 os Tupinambá pressionaram os órgãos do Estado para a conclusão de tais estudos por meio de processos de "retomada" do território por si próprios. Tais atos foram acompanhados desde o início pelo envio de documentação à FUNAI, na qual os Tupinambá afirmaram que só estavam realizando tais atos como forma de prestar atenção à urgência na demarcação de suas terras. Os critérios de ocupação foram enquadrados por eles nestas situações que lhes têm permitido criar áreas de "aldeias" com a independência e a reciprocidade entre setores familiares que evidenciam seus modos tradicionais de ocupação do território.
A Marcha em Memória aos Mártires do Massacre do Rio Cururupe é considerada a única expressão pública de massa do Povo Tupinambá de Olivença.O evento tem o intuito de somar forças em prol da demarcação das terras e de dizer não à violência praticada contra o Povo Tupinambá de Olivença ao longo dos anos.Conhecidos como “Caboclos” de Olivença, são 4.300 índios, aproximadamente, numa área das bacias hidrográficas costeiras entre Ilhéus e Canavieiras. Para manutenção da própria cultura, é ensinada a língua Tupi.
Todavia, essa demarcação está sendo contestada pelos não-índios, uma vez que não há existência de indígenas há mais de cem anos na região, conforme estudos realizados pela historiadora profa. Angelina Garcez e a antropóloga argentina Célia Jimenez.
O advogado Vinicius Briglia Pinto, explica que em final de abril de 2009, a Fundação Nacional do Índio surpreendeu os proprietários de terras na região cacaueira, ao divulgar a aprovação do Relatório Circunstanciado de Delimitação da Terra Indígena Tupinambá e Olivença, pleiteando as terras que estariam encravadas nos Municípios de Ilhéus, Buerarema e Una, no Estado da Bahia, cujos territórios identificados e já delimitados, seriam ocupações tradicionais do Grupo Indígena Tupinambás de Olivença, cuja predominância de traços da vida social remontaria à grande família Tupi, filiação que seria um resquício histórico remoto e uma marca efetiva na organização social e modo de vidas atuais.
Apoiado em um trabalho acadêmico de uma antropóloga, que também veio coordenar os trabalhos de levantamento da área na qualidade de antropóloga coordenadora, a FUNAI pretende demarcar o território indígena a que chamam de Tupinambá de Olivença e que estaria situado no sul do Estado da Bahia, estando majoritariamente inserido no Município de Ilhéus, mas também nos municípios de Buerarema e Una. A Vila de Olivença seria o marco referencial da área, por ter sido um dia, o local onde teria sido edificado o aldeamento jesuíta Aldeia de Nossa Senhora da Escada, no fim do século XVII.
Segundo se estima através do relatório apresentado, viveriam aproximadamente três mil indígenas, que habitariam em “pequenas unidades familiares” distribuída em uma área que corresponderia a superfície de 43.376 Hectares e que abrangeria: ao norte, a costa marítima e uma área da Mata Atlântica; ao sul, a vila de Olivença; e para o interior, até uma cadeia de montanha composta pelas Serras das Trempes, do Serrote e do Padeiro.
A primeira vez uma reivindicação relacionada aos supostos índios de Olivença, foi em 1995, através da carta de uma assistente social em Ilhéus, dirigida ao Presidente da FUNAI, em que pede o reconhecimento étnico do grupo pelo referido órgão, sem, contudo, mencionar a que etnia pertencia os referidos grupos, ou mesmo, trata da questão das terras.
Em 14 de novembro de 2001, a FUNAI determina que fosse procedido o levantamento prévio sobre a demanda fundiária da população denominada Tupinambá de Olivença. O relatório, chega a afirmar que a dificuldade maior “não era a reivindicação do reconhecimento mas o fato de afirmarem ser eles Tupinambá”, e ainda, que “a questão de todas mais complexas é a da própria Vila de Olivença. Tendo sido comprovadamente a sede da antiga aldeia, é considerada o lugar de origem da comunidade” e reflete que “a par de toda essa discussão, o pouco tempo disponível, especialmente na Vila e a própria complexidade da questão, não nos permitam reunir dados suficientes para afirmar se uma possível demanda neste sentido estaria contemplada nos termos da legislação pertinente”.
Para o reconhecimento étnico oficial do grupo Tupinambá, foi utilizado o critério de “auto-identificação” como descendentes de povos indígenas, reconhecendo a identidade indígena da comunidade Tupinambá de Olivença.
Em 2004, se dá a “operação retomada”, através do esbulho possessório dos 290 Hectares da Fazenda Futurama, de propriedade e posse de Gildro Lisboa, situada na região de Serra do Padeiro, que impulsionou inúmeras outras invasões de terras particulares, nos anos que se seguiram, cuja motivação alegada era pressionar a FUNAI a concluir o processo de demarcação. A imprensa chegou a acusar de que a própria FUNAI teria organizado, promovido e executado, manu militari, as invasões de terras que se intensificaram.
Os diversos meios de comunicação, noticiam as invasões de terras particulares, em que os supostos os tupinambás de Olivença, estariam portando armas de fogo, além de controlar estradas e até revisar automóveis dos fazendeiros que usam os ramais próximos às suas bases.
Em reposta as invasões, o Tribunal Regional Federal da 1a. região discorre sobre a inexistência de posse indígena e da etnia Tupinambá na região, repudiando o desapossamento repentino do demandante de sua propriedade, onde exerce sua atividade agropecuária há vários anos, provocaria, neste momento, uma situação de desequilíbrio que seria desproporcional ao próprio retardamento do reingresso dos índios em terras que, em tese, seriam destinadas ao seu habitat. A ameaça de esbulho possessório pela violência e a sua conseqüente intranqüilidade social devem ser reprimidas.
A Fundação Nacional a Saúde, que atua junto às comunidades indígenas, passa intensificar o cadastramento de índios de forma indiscriminada.
Com a apresentação do relatório final em 2009, deflagra-se uma manifestação pública da sociedade contra a demarcação indígena.
Os pequenos agricultores, maioria dos proprietários de terras na região se unem, numa cruzada contra a demarcação indígena, marcada por protestos que marcam o fechamento da BR-101 por mais de duas horas, uma das rodovias federais mais importantes do Brasil.
Tal manifestação forçou o descadastramento de mais de 250 pessoas.
Em mensagem postada em seu blog, na internet, o ex-presidente da FUNAI, Mércio Pereira Gomes, admitiu que “as recentes ressalvas exaradas pelos STF a respeito de demarcação de terras indígenas são um grave impedimento para o reconhecimento dessas terras”.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Fórum Indígena discutirá mineração, mudança climática e Bom Viver

Fórum Indígena discutirá mineração, mudança climática e Bom Viver



Karol Assunção *

Adital -

Entre os dias 18 e 20 de novembro, indígenas de diversos países da América Latina se encontrarão em Lima, no Peru, para o Fórum dos Povos Indígenas: mineração, mudança climática e Bom Viver. Durante os três dias, os participantes analisarão os impactos provocados pela mineração e debaterão propostas para consolidar o Bom Viver como modelo alternativo de vida em harmonia com a natureza.
Organizado pela Coordenadora Andina de Organizações Indígenas (CAOI), o Fórum já conta com a adesão de 26 organizações e movimentos indígenas da América Latina. Os interessados em aderir a Convocatória têm até o próximo dia 30 para enviar o pedido para o email coordinadoraandinacaoi@gmail.com. Já as atividades autogestionadas, as delegações e os participantes podem fazer a inscrição até o dia 30 de outubro, através do mesmo email.

A ideia do Fórum é discutir a relação da exploração mineira com a mudança climática mundial e propor saídas para essa situação. Assim, os participantes terão a oportunidade de debater sobre a expansão da atividade mineira e seus impactos ambientais, sociais, culturais e econômicos em comunidades indígenas; e analisar a responsabilidade da mineração na crise climática.
O encontro também será um espaço para proposições. De acordo com as organizações que assinam a convocatória do Fórum, a intenção é aproveitar para consolidar a proposta do Bom Viver como alternativa ao atual modelo de desenvolvimento vigente e organizar uma "Frente Mundial pelo Bom Viver e a Defesa da Mãe Natureza frente à crescente ameaça do extrativismo mineiro e da crise climática".

Segundo a convocatória, 50 milhões de indígenas de mais de 671 povos da América Latina sofrem com as atividades extrativas em seus territórios. Das populações afetadas na região, 90% estão em: Guatemala, México, Peru, Bolívia e Equador. "E é precisamente nestes países onde se observa uma expansão da mineração, vulnerando direitos coletivos, gerando impactos negativos no modo de vida das comunidades e povos, e constituindo uma das causas da crise climática ao contaminar e depredar a Mãe Terra", destaca.

Além de explorar os recursos naturais dos territórios, a atividade mineira contamina solos e rios, e viola direitos de trabalhadores e populações indígenas através da criminalização de protestos, do deslocamento forçado e da militarização de territórios.

"A expansão mineira se inscreve na globalização neoliberal, sustentada no livre mercado, nas máximas vantagens aos investimentos estrangeiros e na priorização das atividades extrativas, com mínimos controles ambientais e trabalhistas. Por isso esta expansão está amparada por políticas de Estado que priorizam o crescimento econômico sobre a base da extração dos recursos naturais e das exportações. Na execução destas políticas, os estados descumprem a obrigação de consultar os povos indígenas antes de aprovar o início das atividades mineiras em seus territórios", lembra.

Mais informações sobre o Fórum dos Povos Indígenas: mineração, mudança climática e Bom Viver em: http://www.minkandina.org/


* Jornalista da Adital

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Povo Tupinambá tem estratégia para enfrentar políticos e elites com práticas coloniais, preconceituosas e violentas


Todos os direitos reservados ao LIS/ICICT/Fiocruz
FONTE: http://www.conflitoambiental.icict.fiocruz.br/index.php?pag=ficha&cod=39

Povos indígenas sofrem discriminação em Ipixuna, no Amazonas

Povos indígenas sofrem discriminação em Ipixuna, no Amazonas


Adital -

Indígenas do povo Madija Kulina estão sendo hostilizados pela população de Ipixuna, município localizado a 1.380 quilômetros de Manaus, ao sul do Amazonas. A denúncia é feita por Ercília Tikuna, coordenadora da AMIMSA - Associação das Mulheres Indígenas do Médio Solimões e Afluentes, organização sediada na cidade de Tefé, Amazonas.

Segundo ela, está acontecendo um descaso muito sério contra indígenas do povo "Madija Kulina" - um povo de pouco contato que vive em área isolada, na região do rio Juruá. "O Conselho Distrital de Saúde Indígena, do qual faço parte no controle social, recebeu uma denuncia verbal, feita pela coordenadora da saúde do município, de que há indígenas com tuberculose, morando em uma casa alugada pelo município, e que estes estariam sendo discriminados pela população local", diz Ercília.

Ela relata que os indígenas teriam sido agredidos quando foram à cidade. Moradores do bairro onde está localizada a casa alugada para os indígenas fizeram abaixo assinado dirigido a prefeita municipal para que ela não aceite a permanência dos indígenas na casa. "Eles poderiam estar na aldeia fazendo tratamento mas, devido a seca nos rios que está crítica este ano, eles têm que ir para a cidade, de onde querem expulsá-los", relata Ercília.

Descaso

Em carta dirigida à Fundação Nacional do Índio - Funai, Ministério Público Federa, Coordenação Regional da Fundação Nacional de Saúde - Funasa e Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira - Coiab, a presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena do Médio Solimões - Condisi, Francisca das Chagas Correia cobra solução para o caso de dois indígenas Kulina que levaram 37 dias em deslocamento de Manaus até a cidade de Eirunepé, na região do rio Juruá.

A assistente social da Casa de Saúde do Índio - Casai, de Eirunepé, Priscila Bezerra comunicou ao Condisi que Pissi Kulina, de 48 anos, e Alfredo Kulina, de 70 anos, passaram fome, frito e sentiram muitas dores durante o percurso. "Os mesmos chegaram a esta Casai desnutridos, doentes, abaixo do peso e desorientados", informou Priscila Bezerra.

Por J. Rosha

FONTE: http://www.adital.org.br/site/noticia.asp?lang=PT&cat=10&cod=51069

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Indígenas do TO e MA participam de encontros para definir implantação da nova estrutura


Indígenas do TO e MA participam de encontros para definir implantação da nova estrutura



Atendendo deliberação da Comissão Nacional de Política Indigenista (CNPI), a Fundação Nacional do Índio está realizando, entre setembro e novembro de 2010, vinte seminários regionais de informação e esclarecimento sobre o processo de reestruturação da instituição, consolidado por meio do Decreto n° 7.056, de 28 de dezembro de 2009. Os seminários terão duração de três dias, sendo um dia de trabalho exclusivo com os servidores da região e os outros dois com servidores e indígenas. A Mobilização dos representantes indígenas foi feito através da CNPI e da Articulação dos povos indígenas do Brasil- APIB.

Os Seminários têm como objetivo informar e esclarecer servidores e indígenas sobre a nova estrutura da Funai, e definir uma agenda de trabalho e de planejamento com cada Coordenação Regional, visando a implementação de um plano de gestão institucional e administrativa com foco na criação dos comitês regionais, nos quais se institucionaliza o processo de gestão compartilhada das ações.

O Seminário de Palmas foi realizado entre os dias 08 e 10 de setembro, no Hotel Turin, com a presença de servidores das Coordenações Regionais e Coordenações Técnicas Locais da região de Tocantins e Imperatriz, além da Frente de Proteção Etnoambiental Awa-Guajá, que deverão atuar como multiplicadores das informações junto aos demais servidores das unidades regionais. O primeiro dia de trabalho foi dedicado exclusivamente aos servidores, com 50 participantes, e os outros dias houve a participação de cerca de cem lideranças indígenas.

O moderador Jaime Siqueira fez a abertura do evento, dando boas vindas e compondo a mesa de abertura com a: Diretora de Administração e Gestão, Francisca Picanço, o Coordenador de Palmas Clésio Fernandes de Moraes e do Coordenador de Imperatriz José Leite Pianco.

Clésio Fernandes, falou sobre a o papel da Coordenação de Palmas e suas expectativas em relação a reestruturação, da situação estrutural das Coordenações Técnicas Locais subordinadas à Coordenação Regional de Palmas, e das formas positivas como ele encara esse processo de mudança. Já o Coordenador Regional de Imperatriz, José Leite Piancó, fez um desabafo sobre as dificuldades enfrentadas em sua região, e da esperança que tem depositado no processo de reestruturação. “É algo veio para colocar o trem nos trilhos, é uma luz no fim do túnel. Estamos mostrando aos índios a nova realidade, estamos tentando acabar com o assistencialismo” afirma Piancó.

Na semana que antecedeu o Seminário, as lideranças das terras indígenas na jurisdição da Coordenação Técnica Local de São Luiz/MA participaram de encontro para tratar do tema. Cerca de 100 indígenas, na maioria da etnia Guajajara, receberam orientações sobre a implantação da nova estrutura, com explicações do ouvidor da Funai, Paulo Oliveira Pankararu, e do assessor do Gabinete do Presidente Lula, Paulo Maldos.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Indígenas são protagonistas em novo modelo de gestão apresentado em Eunápolis/BA




Indígenas são protagonistas em novo modelo de gestão apresentado em Eunápolis/BA

O processo de gestão compartilhada, institucionalizado a partir da publicação do Decreto n° 7.056, de 28 de dezembro de 2009, foi o foco dos debates durante os primeiros Seminários de Esclarecimento e Informações sobre a Reestruturação da Funai. Mais de cem lideranças indígenas do sul da Bahia e de Minas Gerais foram chamados à cidade de Eunápolis, na Bahia, onde deram início a uma agenda de trabalho para implantação da nova estrutura administrativa, com especial atenção à criação dos Comitês Regionais.

O presidente da Funai, Márcio Meira, esclareceu que os Comitês irão funcionar de acordo com o regimento interno, que será definido pelos componentes do próprio comitê. “Esse comitê tem papel decisivo pois vai decidir o caminho e o papel que a Funai vai desempenhar na região, e poderão ser criados sub-comitês. Portanto, é muito importante a participação direta do representante da comunidade, o protagonismo da comunidade a partir de seus representantes”, avaliou Meira.

A equipe técnica que conduziu o seminário fez, também, diversos esclarecimentos relacionados ao funcionamento das estruturas descentralizadas da Funai. Dentre as questões levantadas, houve grande interesse dos participantes em conhecer os critérios que definiram a localização das 36 Coordenações Regionais (CR). Francisco Paes, antropólogo designado para coordenar o seminário de Eunápolis, explicou que a abrangência de atuação das CRs são respeitam os aspectos etnico-culturais (características culturais, contato, relações) e geográficos, e houve ainda especial atenção às situações de grande vulnerabilidade de determinado território ou determinado povo.

Ao definir o papel das CTLs, Paes disse que essas unidades poderão programar e executar atividades e projetos de promoção e proteção dos povos indígenas, em conjunto com as comunidades, além de promover a articulação com outras instituições públicas e da sociedade civil para a consecução da política indigenista e a interlocução constante e permanente com as comunidades e o movimento indígena.

“O coordenador técnico não tem o mesmo perfil do chefe de posto, mas deve ter o conhecimento mínimo de como um órgão público funciona, sendo que uma CTL poderá abranger várias terras indígenas. Em uma mesma casa poderá funcionar mais de uma CTL, podendo atender mais de uma área, por exemplo, etnodesenvolvimento e promoção social”, complementou Leila Sotto-Maior, coordenadora de Identificação e Delimitação da Diretoria de Proteção Territorial da Funai. De acordo com a coordenadora, as atividades de cada CTL deverá atender às especificidades locais, sendo que o ideal é que a sede das unidades locais estejam o mais próximo possível das aldeias.

Para o cacique Tupinambá, Nerival Cunha dos Santos, da aldeia Tabajairi de Olivença, há expectativa dos povos do sul da Bahia que a Funai tenha um bom funcionamento, em função da reestruturação. “Acredito que a Funai consegue agora um resultado melhor. O presidente foi corajoso de fazer a reestrutura, que estava engavetada há mais de 20 anos. Foi uma atitude ousada. Vamos acreditar que tudo dê certo. Fomos contemplados com as CTL dentro das aldeias para resolver nossas reivindicações do dia a dia, e com essa nova reestruturação seremos melhor contemplados”, disse o cacique.

A indígena Sandra Nunes Correia, da etnia Xakriabá, da aldeia Barreiro Preto de Minas Gerais, disse que com certeza houve esclarecimento, que é um dos objetivos dos seminários, mas que é preciso haver respeito pelas estruturas culturais dos povos indígenas. “Os comitês regionais surgiram como uma esperança para fazer o trabalho da Funai caminhar junto com a base, ou seja, que seja definido sempre com a opinião das comunidades indígenas para que possa funcionar. A partir dessa organização esperamos que melhore a atuação da Funai” afirmou Sandra.

Sobre os próximos Seminários
Nos dias 16 e 17 de setembro, a Funai realiza simultaneamente mais dois Seminários sobre o processo de reestruturação, que criou Comitês Regionais como instâncias de participação direta das comunidades indígenas. Belém e Manaus foram as cidades escolhidas para sediar os eventos, com cerca de 100 indígenas em cada localidade, contemplando 116 Terras Indígenas atendidas pelas Coordenações Regionais da Funai de Manaus, Belém, Marabá, Tucumã e Tapajós.

As lideranças virão de suas comunidades a fim de conhecer o novo modelo administrativo do órgão indigenista do Governo Federal. Dentre as mudanças promovidas pelo Decreto n°7.056, de 28 de dezembro de 2009, o maior avanço é a criação dos Comitês Regionais. As representações indígenas poderão, nos Comitês, discutir as prioridades na execução orçamentária das unidades locais, monitorar a atuação da Funai e definir planos, programas e projetos para proteção territorial e promoção do desenvolvimento sustentável nas aldeias.

A reestruturação da Funai é uma demanda antiga do movimento indígena organizado. Para adequar-se a realidade dos povos indígenas brasileiros, a Funai precisou passar por um processo de fortalecimento institucional, que inclui a criação de mais 3.100 vagas para serem preenchidas até 2012, melhorias salariais para os servidores da carreira, aquisição de veículos e equipamentos, criação de um Centro de Formação para capacitação de pessoal, além da nova malha institucional, que aproxima as unidades locais das Terras Indígenas e promove a presença da Funai onde antes a instituição não tinha presença.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

A ÉTICA NA CONDUTA HUMANA


A ÉTICA NA CONDUTA HUMANA


Olívio Zanetti Junior

Olivio Zanetti Junior
Acadêmico do 8º semestre do Curso de Direito da Faculdade de Direito de Salto/SP - Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio; Empresário.


RESUMO

Neste presente artigo proponho a tratar em breve síntese a polemica da ética, seu significado grego e latim, na qual converge com a moral. Procurando diferenciar a ética da moral, fazendo referências a pensamentos de grandes estudiosos e traçando a ética ao mundo jurídico, atribuindo os valores e costumes de uma sociedade. Deixando evidente o nascimento da ética na vida de cada indivíduo.


Palavra Chave: Ética, Moral, Conduta humana e Normas.


INTRODUÇÃO

Conheceremos em rápida passagem a evolução da ética, seus princípios, valores. Os pensamentos nas quais foram atribuídos para a ética, em diferentes épocas, desde o período pré-socrático até a modernidade. Buscaremos um conceito de ética, na qual há muitas divergências, que ainda mesmo deixam lacunas. Cabe imprescindivelmente a distinção da ética e da moral, tendo base a mesma tradução, porém a primeira ciência e outra a normatização em face da coletividade. Empregar as normas éticas nem sempre é uma tarefa fácil, saber quando e onde aplicar, como em um ordenamento jurídico, haverá sempre a ética na norma? E sua aplicação? É o que veremos, diga que de passagem, porém procurando dirimir as dúvidas, e não ocorrer trocas de conceitos. Portanto ética é uma ciência, que é uma moral compostas de princípios: costume, modo de agir, entre outros que veremos.


História

No período pré-socrático a ética obteve um grande valor, com o surgimento da polis, a praça era ponto de discussão política, onde predominava a razão, a palavra. Para Sócrates a ética representa a humildade, reconhecer que somos menores que os outros.
Platão também buscava a felicidade, conceituava a moral como a arte de preparar o indivíduo para uma felicidade que não está na vida terrena. Para isso era necessário purificar e desvincular-se do mundo material.
A ética para Aristóteles era finalista, no sentido de visar a um fim, no caso que ser humano pudesse alcançar a felicidade. Entendia a moral como um conjunto de qualidades que definia a forma de viver e de conviver das pessoas, uma espécie de segunda natureza que guiaria o ser humano para a felicidade, considerada a aspiração da vida humana.
Na Idade Média ocorreram grandes mudanças, o cristianismo tornou-se a religião predominante e oficial que influenciou grandemente na prática moral. A ética cristã estabelecia relação entre Deus e o homem. A ética cristã tinha o poder regulador sobre as pessoas, tendo em vista um mundo futuro, baseado nas regras de Deus.
Na Idade Moderna a burguesia se expandiu fazendo com que a igreja católica perdesse a hegemonia. Nessa época o homem era considerado o centro de tudo, tratando de um período antropocêntrico, o homem detinha o poder do conhecimento.
Kant valorizava a vontade do indivíduo: “a vontade é independente de condições empíricas, por conseguinte, como vontade pura determinada pela simples forma da lei, e este princípio de determinação é visto como condição suprema de todas as máximas[2].
Na Idade Contemporânea ocorreu o grande progresso cientifico e valoração do ser humano concreto. A ética versava valores absolutos. O fator econômico interfere na superestrutura ideológica e, consequentemente, nos valores morais. “Assim, a moral deixa de ser, como queriam os idealistas, um conjunto de valores externos e imutáveis aos quais os seres humanos deviam submeter-se, e transformando-se em um conjunto de normas construídas por eles a partir do próprio processo de desenvolvimento das sociedades, tornando-se temporais e espaciais.”[3]
Para Friedrich Nietzche “o bom homem é o que não injuria ninguém, nem ofende, nem ataca, nem usa de represálias, senão que deixa a Deus o cuidado da vingança e vive oculto como nós e evita tentação e espera pouco da vida, como nós os pacientes, os humildes e os justos.” (Elisete Passos, 2004, p. 44).
Charles Sanders Peirce afirmava que a verdade é o útil, ou seja, o que melhor ajudar os seres humanos a viverem e conviverem. No que diz respeito a moral, algo é bom quando conduz a obtenção de um fim exitoso. Não existe, portanto, valores absolutos. O que é bom ou mau é relativo, variando de caso a caso. Depende da sua utilidade para a atividade prática.
Portanto, a ética baseia-se na liberdade como fim, em que os seres humanos que atribuem valores ao mundo, pois o valor não nasce consigo, ele é adquirido. O valor do ato moral não se dá pela submissão a princípios estabelecidos e sim pelo uso que o sujeito fizer de sua liberdade, não nenhum outro parâmetro, a liberdade é que impera, impõe e decide.


Em busca de um conceito

A palavra “ética” provem do grego “ethos” tendo como significado modo de ser, caráter. Na tradução do latim “ethos” quer dizer “mos” que significa costume, palavra esta que surgiu a moral. Independente da tradução que atribuímos para “ethos”, nada mudará, pois sempre trará consigo a indicação de um comportamento humano, algo que o ser humano adquire por habitualidade, ou seja, não nasce com isso, somente adquire com seu desenvolvimento em conjunto com a sociedade.
A denominação ética apresenta em seu corpo uma valoração, valores subjetivos e intersubjetivos, em que pese cada indivíduo contém um valor, um costume, ou até mesmo um hábito, em base que a ética é uma ciência humana, há uma perspectiva ampla, em “lato sensu” ao que diz respeito a seu conceito, não sendo portanto uma tarefa fácil, além do que primeiro desenvolvemos a teoria e em segundo plano a prática.
A “priori” encaramos a ética como algo de bom, justo, correto, virtude, boa conduta enfim adjetivos de bons tratos, porém não podemos definir ética com uma visão superficial, temos que ir além, no profundo de cada bloco social, pois aí é habita um costume, ou seja, há uma diferenciação de sociedade para outra, em razão dos costumes, dos hábitos. Portanto o que é ética para uma sociedade, pode ser uma visão antagônica para a outra sociedade. Percebemos então o espaço em que há na ética, uma lacuna que só poderá ser completada por um grupo social de comportamento homogêneo.
Por essa razão a ética tem que ser analisada de um prisma mais contundente, analisando caso a caso, conforme a história de vida de uma sociedade, ou seja, em relação ao padrão moral de vida e comportamento, obtendo um discernimento do que bom para com o mau, do justo com o injusto, do que é certo do errado. Enfim analisar o calor humano, agindo com modulação e dosagem do comportamento humano (ação humana), assim poderá desvendar o que é a ética, porém para aquele grupo especifico.


Conduta Humana

Ao buscarmos o conceito de ética demos ênfase ao então aqui chamado conduta humana, na qual vejo a importância de defini-la para uma melhor compreensão da ética e da moral (assunto de próximo tópico).
A ação humana é um comportamento do ser que reflete à sociedade, ou seja, uma movimentação de energias que se compreende no tempo e no espaço. Comportamentos tais como positivos (trabalhar, elogiar) ou negativos (roubar, ofender), independentemente de qual a maneira que venha a expressar tal ação, esta por fim terá uma repercussão para sociedade, criando assim uma ética nesse grupo social, tendo em vista que ações individuais aglomeradas tornar-se-ão ações homogêneas, ou seja, são ações praticadas por um individuo de forma suscetíveis, praticadas com habitualidade tornando assim como uma referência para aquele determinado grupo social, que na qual passam também a aderir.


Ética e Moral

Nos tempos atuais é muito comum confundirmos ética e moral, por vezes não fazemos distinção dessas palavras, obtendo, portanto um tratamento igualitário. Contundo neste presente subtítulo procuro investir na diferença dessas duas palavras, na qual obtemos com auxilio de alguns estudiosos, como A.S. Vásques.
As duas palavras possuem origens distintas e significados idênticos. Como já relatado a ética vem do grego “ethos”, que quer dizer costume, conduta, modo de agir, enquanto a moral surge do latim “mores” que do mesmo modo quer dizer costume, conduta, modo de agir.
A ética é uma ciência, por sua vez a moral é espécie. Assim como afirma Sanchez Vasquez que “a ética é a ciência que estuda o comportamento moral dos homens na sociedade”.
Portanto, “a moral é definida como conjunto de normas, princípios, preceitos, costumes, valores que norteiam o comportamento do individuo no seu grupo social”[4]. A moral é a pratica da regulamentação ética do individuo em sociedade, porém de certo modo impondo normas a este individuo, como um sistema normatizador, partindo da primicia que não existe moral individual, pois ela é sempre social no que envolve relações entre sujeitos.
A ética, destituída do papel normatizador, ao menos diz respeito aos atos isolados, tornar-se examinadora da moral. Exame que consiste em reflexão, em investigação, em teorização. Poder-se-ia dizer que a moral normatiza e direciona a prática das pessoas, e a ética teoriza sobre as condutas, estudando as concepções que dão suporte a moral.
Concluímos então que a ética é uma ciência que dá o suporte técnico e teórico à moral que por sua é uma espécie dessa ciência. Visto que a responsabilidade (função) da ética além de transmitir tal suporte é de fiscalizar e examinar, compreender, justificar e criticar a moral que é aplicada na sociedade ou em um grupo especifico, pois a ética é filosófica e cientifica.


Ética e Lei

Outro ponto importante que viso tratar é a relação da ética para com o direito (a lei em especifico), pois não podemos confundir essa relação, embora em alguns casos haja leis com princípios éticos.
Transporto para este tópico a teoria do filósofo inglês Jeremias Bentham, teoria esta, também adotada pelo professor Miguel Reale em sua obra “Lições Preliminares de Direito (2006, página 42)”. A teoria do “mínimo ético”, esta teoria representa um mínimo valor de questão ética adotada pelo Direito. Pois nem todo corpo da norma é ético, porém é de alguma forma que o direito através da norma positive algum ponto de ética, tornando obrigatório tal cumprimento pela sociedade ou grupo coletivo. Referindo-se do então conhecido “dever ser” de Hans Kelsen, apesar de a norma ética estar constituída de um juízo de valor em que a própria sociedade culminou, devido às condutas positivas ou negativas e os costumes desta sociedade. Sendo, portanto que esta norma axiológica resulte em uma imperatividade, tornando-se uma obrigação enraizada de sanção para a coletividade de indivíduos.
Contudo mencionado os preceitos éticos, que são os costumes, modos de agir de uma sociedade, devemos convir que o ser humano, um ser racional, está sempre querendo algo mais, diferenciando-se do animal, na qual todos compreendem seu comportamento, portanto afirmo que o ser humano é imprevisível, pois ora quer, ora não quer, ora é justo, ora injusto. Mediante estes fatos encontramos a carência de haver uma norma imperativa para que o indivíduo não desvirtue dos preceitos éticos.
Como já citado anteriormente a norma jurídica nem sempre necessita da ética, na qual aqui invoco os exemplos trazidos pelo professor Miguel Reale, provando que em uma norma jurídica nem sempre encontra ética: “Há um artigo no Código de Processo Civil, segundo o qual o réu, citado para ação, deve oferecer a sua contrariedade no prazo de 15 dias, sob pena da revelia. E por que não 10, 20 ou de 30? Se assim fosse, porém influiria isso na vida mora? Certamente não; Outro preceito do Código Civil estabelece que os contratos eivados de erro, dolo, coação só podem ser anulados dentro do prazo máximo de 4 anos. Por que não no prazo de 5 anos ou de 4 anos e meio? São razões puramente técnicas, de utilidade social, que resolvem muitos problemas de caráter jurídico. Não é exato portanto, dizer que tudo o que se passa no mundo jurídico seja ditado por motivos de ordem moral; Além disso, existem atos juridicamente lícitos que não o são do ponto de vista moral. Veja o exemplo de uma sociedade comercial de dois sócios, na qual um deles se dedica, de corpo e alma, aos objetivos da empresa, enquanto o outro repousa no trabalho alheio, prestando, de longe em longe, uma rala colaboração para fazer jus aos lucros sociais. Se o contrato social estabelecer para cada sócio uma compensação igual, ambos receberão o mesmo quinhão. E eu pergunto: é moral? Há, portanto, um campo da moral que não se confunde com o campo jurídico.”[5]
Portanto percebemos que o direito através das normas tutela uma imensidão de coisas, ora sendo atos de moral, ora amoral, não sendo pertinente ao assunto que a norma tratará.


Cumprimento das normas éticas

Como referenciado anteriormente que há regras que a sociedade cumpre de maneira obrigatória, ou seja, temendo a repreensão do Estado, há também as normas que a sociedade cumpre de maneira espontânea, livre, sem a imposição alheia.
Perante fato exposto onde encontramos a ética? A sociedade é ética quando cumpre a norma, temendo a coação, ou quando cumpre com espontaneidade? Devido esse conflito aqui estabelecido, para melhor esclarecimento do que emana a ética invoco a classificação bem sucedida de Eduardo C. B. Bittar[6]. A ética demanda do agente: a) conduta livre e autônoma; b) conduta dirigida pela convicção pessoal; c) conduta insuscetível de coerção; Então me proponho a explanar estes três pontos:

a-) Conduta livre e autônoma: Ocorre quando o agente pratica o ato ou conduta de livre consciência, sem interferência alheia, gerando uma conduta ética;
b-) Conduta dirigida pela convicção pessoal: Ocorre quando há o auto-convencimento do individuo, transformando as idéias, ideologias, raciocínios e pensamentos em princípios da ação, há uma grande referência em valores, contudo uma decisão individual, gerando uma conduta ética;
c-) Conduta insuscetível de coerção: Ocorre quando há norma ética, porém o agente age de forma livre, sem vício no seu consentimento, não se aplica a coação, gerando uma conduta ética, pois o individuo não age conforme coação;

Portanto se houver qualquer forma de coação, em função de que o individuo age forçado a cumprir tal norma, não falamos de ética, mas sim de um simples cumprimento de norma ética, na qual o individuo teme sanção. Aproveitando o momento exponho a afirmação de Miguel Reale: “Só temos, na verdade, moral autêntica quando o individuo, por um movimento espiritual espontâneo realiza o ato enunciado pela norma. Não é possível conceber-se o ato moral forçado, fruto da força ou da coação.”[7]
Para melhor entendermos quando agimos com ética, ilustro um exemplo que muito admirei, exemplo de conteúdo do professor Miguel Reale: Uma certa vez surgiu em busca de seu serviço, um casal de velhos – de quase 80 anos – expondo sua situação de insuficiência econômica, carecendo portanto de meios para subsistência. O casal revelou que tinha um filho, um industrial de grande capacidade econômica, possuidor de várias fábricas e estabelecimentos comerciais e que, entretanto, não admitia que seus prepostos ou esposa prestassem qualquer auxilio a seus pais. Foi proposta uma ação de alimentos, na qual o juiz proferiu a sentença, condenando o descendente a pagar uma prestação alimentícia mensal. A sentença foi passada em julgado e o filho passou a efetuar o pagamento da pensão, porém com grande revolta. Mediante o caso surge a indagação: Até que ponto a regra moral coexistiu, nesse caso, com a regra jurídica? Até que ponto o pagamento se tornou moral? Nesse caso não há que se falar em moral, pois o descendente somente cumpriu a ordem judicial, mas não teve o “animus” a vontade de pagar a pensão, portanto o filho só praticará ato moral no dia em que convencer de que não está praticando uma obrigação, mas praticando um ato que enriquece espiritualmente, com tanto mais valia quanto menos pesar nele o cálculo dos interesses.

CONCLUSÃO

Realmente falar sobre a ética e moral não é uma tarefa muito fácil. Mas em uma breve pesquisa podemos refletir, pensar claramente, desde a evolução da ética, com o passar dos tempos alterando seus conceitos por pensadores inovadores, mas que sempre em busca da verdade e da felicidade coletiva. Com certeza o individuo que prática seus atos com ética, obtém a felicidade, independente de crença, fé etc. O ponto principal da ética são os seus princípios, ou seja, o corpo, a estrutura para formação do corpo ético. Que princípios são estes? É simples, o valor, o costume, a maneira e condição de agir do individuo, e inegavelmente sempre agindo em suas condutas com livre e espontânea vontade, pois caso contrário descaracterizara a ética, uma vez que individuo está sob coação, temendo a força alheia. Portanto, quando a vontade do individuo está viciada, não é o “eu” que realiza, ou cumpre a norma ética, mas é um terceiro que a impõe ilegalmente. Como já dito no corpo deste artigo, somente ocorrerá ética quando o individuo aceitar fazer algo, de livre vontade, e não de maneira contrária de seus propósitos, por imposição de uma norma jurídica, do Estado ou mesmo de um terceiro qualquer. A ética não nasce com o individuo, pois isso é repassado, e assim transmitido tal preceito, a ética estará incorporada a este individuo, manifestando somente o seu querer, aquilo que é justo, correto para este que detêm o poderio ético. Ética é um compromisso sério, e não “algum babado” qualquer, mas trata de valores e respeito para com os indivíduos, que tal ação certamente será como um espelho, que, certamente refletirá à sociedade.



Referências bibliográficas

PASSOS, Elisete. Ética nas organizações. Editora Atlas, 2004.
REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. São Paulo, 2006. Editora Saraiva.
BITTAR, Eduardo C. B. Curso de Ética Jurídica. São Paulo 2005. Editora Saraiva.
BOTO, Carlota. Disponível em: http://www.hottopos.com/videtur16/carlota.htm. Acesso 15 de setembro de 2008.
http://www.mundodosfilosofos.com.br/vanderlei18.htm. Acesso em 10 de setembro de 2008.
http://www.dhnet.org.br/direitos/codetica/textos/oque_e_etica.html. Acesso em 11 de setembro de 2008.
http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89tica. Acesso em 10 de setembro de 2008.
http://tpd2000.vilabol.uol.com.br/etica1.htm. Acesso em 11 de setembro de 2008.



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[1] Aluno do 4º semestre matutino do curso de graduação em Direito do CEUNSP – Salto
E-mail: zanetti-jr@uol.com.br
[2] Elisete Passos. Ética nas organizações. Pág. 41.
[3] Elisete Passos. Ética nas organizações. Pág. 43.
[4] http://www.dhnet.org.br/direitos/codetica/textos/oque_e_etica.html.
[5] Miguel Reale. Lições Preliminares de Direito. Pág. 42.
[6] Eduardo C. B. Bittar. Curso de Ética Jurídica. Pág. 5
[7] Miguel Reale. Lições Preliminares de Direito. Pág. 44.
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