segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Anjos


Os Anjos

Por Moshe Miller


Maimônides escreve que tudo que D'us criou pode ser dividido em três categorias: aquelas que são composto de substância e forma mutáveis; aquelas de forma e substância imutáveis; e aquelas criaturas que são forma mas não substância. Essas últimas são os anjos. Não são corpos nem seres físicos, mas sim formas separadas umas das outras pelos princípios que eles representam. Assim, “forma” nesse caso não significa estrutura dimensional, mas sim um princípio espiritual claramente definido, ou permutação da energia Divina. Anjos… são separados uns dos outros pelos princípios que eles representam.

Os seres angélicos se enquadram em duas categorias gerais – aqueles que foram criados durante os seus dias da Criação (chamados de “anjos ministrantes”) e aqueles que são criados numa base diária para cumprir várias missões neste mundo. Os nomes dos anjos mudam de acordo com sua missão.

Quando os anjos são enviados a este mundo como emissários do Eterno para cumprir uma missão específica, se revestem num corpo formado pelo elemento do ar ou do fogo. Os anjos também podem aparecer na forma humana. Uma vez que tenham completado seus deveres terrenos, eles se despem do corpo e retornam ao antigo estado espiritual.

Existem anjos que habitam cada um dos quatro mundos: Ofanim no mundo de Asiya; Chayot no mundo de Yetzira; Serafim no mundo de Beriya. Também existem anjos no mundo de Atzilut.

Os anjos são ainda subdivididos segundo a sefirá da qual derivam. Os anjos são assim divididos em “campos” segundo a divisão das sefirot. O anjo Michael e seu “campo”, por exemplo, deriva da sefirá de chessed, e o anjo Gabriel e seu “campo” derivam da sefirá da gevura, e assim por diante.

Mais detalhes:
A palavra para “anjo” em hebraico, “malach”, também significa “mensageiro”. Como seu nome em hebraico significa, a natureza do anjo é ser um enviado a certo grau, constituindo então um contato permanente entre os mundos. As missões de um anjo transpiram em duas direções: ele pode servir como um emissário de D'us para o terreno, para outros anjos e criaturas abaixo no mundo de Yetzira, e/ou podem também servir como aquele que leva de baixo na direção do céu, de nosso mundo para os mundos superiores.

A verdadeira diferença entre homem e anjo não é o fato de que o homem tem um corpo, porque a comparação essencial é entre a alma humana e o anjo. A alma do homem é mais complexa e inclui um mundo inteiro de elementos existenciais diferentes de todos os tipos, ao passo que o anjo é um ser de essência única e portanto num certo sentido, unidimensional. Além disso o homem, por causa de sua natureza multifacetada e sua capacidade de conter contradições (incluindo seu dom do poder interior da alma) tem a capacidade de distinguir entre o bem e o mal. É essa capacidade que torna possível para ele elevar-se a grandes alturas, e pelo mesmo critério cria a possibilidade de falhar e retroceder, o que não ocorre com um anjo.

Sob o ponto de vista de sua essência, o anjo é eternamente o mesmo. É estático, uma existência imutável, seja temporária ou eterna, fixado dentro dos limites rígidos de qualidade devido à sua própria criação.

Lançado o Núcleo Regional do ODIN em Dourados (MS): mais uma ferramenta na luta pelos direitos indígenas

Lançado o Núcleo Regional do ODIN em Dourados (MS): mais uma ferramenta na luta pelos direitos indígenas

Por racismoambiental,

Um advogado e dois bacharéis indígenas integram a equipe do ODIN em Dourados

Foi lançado, no dia 25/2, o Núcleo Regional do Observatório dos Direitos Indígenas (ODIN) que irá atuar no município de Dourados (MS). O lançamento ocorreu na sede local da OAB e contou com a participação de 40 lideranças e estudantes indígenas da região e de representantes de instituições parceiras do movimento indígena.

Wilson Matos, advogado indígena que irá coordenar as atividades do ODIN em Dourados, apontou o direcionamento inicial do trabalho do núcleo no sentido de combater a criminalização de lideranças, interpelar o Estado pela omissão e o abandono das aldeias e atuar como mediador dos conflitos causados pelas disputas de terras na região. “Queremos agir na garantia dos direitos indígenas com a responsabilidade de esclarecer a sociedade de que a luta pela terra é uma luta jurídica e não um embate campal”, declarou.

A falta de terras demarcadas é apontada pelos indígenas como causa principal das diversas formas de violência vivenciadas por eles diariamente no município e nas regiões próximas. O cacique da etnia Garani-Kaiowá Feride Mariano vive, há três anos, com 37 famílias acampadas à margem da BR-163, onde três jovens indígenas com idades entre 15 e 20 anos já morreram atropelados.

As famílias reivindicam a demarcação de suas terras para poder plantar, pescar e viver com tranquilidade. Enquanto esperam sobrevivem com o auxílio de cestas básicas distribuídas pelo governo. As ameaças de jagunços quando tentaram retomar suas terras e ocuparam durante um ano e meio a Fazenda santo Antônio, a falta de escola diferenciada para as crianças, o barulho constante da rodovia, além das mortes por atropelamento são situações vivenciadas por estas famílias. Porém, dentre as mais graves situações apontadas pelo cacique também estão a violência e a exploração sexual de menores devido à exposição constante por morarem à margem da BR. “A gente espera que o ODIN também possa ajudar na demarcação das nossas terras”, disse.

Segundo Gersem Baniwa, diretor presidente do Centro Indígena de Estudos e Pesquisas (CINEP) ao qual o ODIN é vinculado, a proposta do núcleo regional é de que, inicialmente, ele tenha seu trabalho direcionado a questões do povo Guarani (Ñandeva, Kaiowá e Mbya) que vive na região. “Essa é uma iniciativa nova que tende a se expandir. E o importante é que é uma iniciativa nossa, indígena, para garantir nossos direitos”, declarou. Os Guarani do MS constituem a segunda maior população indígena do país com mais de 53 mil pessoas e a situação na região se revela como uma das mais delicadas questões indígenas do país.

O Núcleo Regional do ODIN em Dourados contará, neste primeiro momento, com um advogado e dois estagiários bacharéis em Direito, todos indígenas da etnia Terena. Contará ainda com financiamento da Fundação Ford, o apoio logístico da Missão Kaiowá, que cedeu duas salas para a sede do núcleo regional, e o apoio institucional da Rede de Saberes e Aty Guasu.

Para o vereador indígena por Caarapó (MS), Otoniel Ricardo, a instalação do Observatório também é importante pelo fato de o indígena que venha a ter seus direitos violados poder contar com um interlocutor que, por também ser indígena, apresenta maior capacidade de compreensão da sua situação. Já para o professor Antônio Brand, que coordena o projeto Rede de Saberes, o Observatório é também relevante no seu aspecto de inclusão no mercado de trabalho de indígenas que concluem a graduação. “Temos muitos profissionais indígenas disputando vagas de trabalho com a mesma capacitação de outros concorrentes, mas eles não chegam a ocupar as vagas por preconceito. Precisamos criar mecanismos de apoio aos estudantes indígenas depois que se formam”, avaliou.

Durante o lançamento, representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Dourados, Rede de Saberes, Aty Guasu, Fundação Nacional do Índio (Funai), Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), Centro Universitário da Grande Dourados (Unigram) e Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) estiveram presentes e declaram apoio às ações do núcleo regional do Observatório dos Direitos Indígenas.

http://www.cinep.org.br/?code=0.1

Obras da transposição do Rio São Francisco violam direitos humanos


Obras da transposição do Rio São Francisco violam direitos humanos

Por racismoambiental,
Por Maristela Lopes

Falta de água potável, falta de titulação e demarcação das terras dos quilombolas e indígenas, falta de escolas, de posto médico.

Esses são alguns dos exemplos de violação dos direitos humanos que constam no Relatório da Missão à Petrolina e região do Rio São Francisco, apresentado pela Plataforma Dhesca Brasil – Rede Nacional de Direitos Humanos, que congrega entidades ligadas às redes de direitos humanos da sociedade civil.

O relatório foi apresentado oficialmente pelo sociólogo Sergio Sauer (Foto), no plenário da Assembléia Legislativa de Pernambuco, no dia 22 de fevereiro.

Sauer fez um breve relato das principais demandas e recomendações do relatório, frisando que todo o trabalho foi estruturado a partir da coleta de depoimentos e denúncias dos integrantes das comunidades de Pernambuco atingidas pelas obras de transposição do rio São Francisco e pela construção de barragens no semi-árido.

Ele lembrou que a missão de verificação in loco aconteceu em outubro de 2010, com visitas aos municípios de Petrolina, Santa Maria da Boa Vista e Cabrobó, região do sertão do São Francisco, onde está concentrado grande número de assentamentos da Reforma Agraria.

Para ele, essas obras “violam os direitos humanos dessas populações, principalmente o direito à terra e território. E nem as obras de compensação como habitação adequada e escolas até agora foram cumpridas”.

O documento assinado em 2008 entre o Ministério da Integração e o Incra nacional, que garantia compensação das perdas de lotes individuais e das áreas dos assentamentos da Reforma Agrária com a construção de dutos da transposição, não foi cumprido.

As comunidades tradicionais como os quilombolas e indígenas e moradores dos assentamentos da Reforma Agrária são os principais atingidos pela transposição do São Francisco e pela construção de barragens de Riacho Seco e Pedra Branca, ambas obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

À margem da cidadania

A área da comunidade quilombola de Cupira formada por 200 famílias, e que fica localizada à margem do São Francisco, não possui água potável. O atendimento médico só é possível há 18 quilômetros, sendo que os casos mais graves são levados para Petrolina, distante há 100 quilômetros. E essa área será totalmente inundada com a obra da Barragem do Riacho Seco.

Fernanda Rodrigues, representante dessa comunidade e uma das coordenadoras do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB), denunciou durante o lançamento do relatório “a falta de respeito com a história de mais de duzentos anos de meu povo. Para nós, a terra não é somente um espaço. É o nosso território, é onde vivemos com nossas tradições e manifestações culturais”.

Ela disse ainda que as empresas que chegam por lá querem interferir até mesmo “na nossa cor dizendo quem é ou não é quilombola”. Esse exemplo se expressa como uma negação ao que diz a Constituição brasileira, que garante o direito fundamental de ser quilombola. Das 18 comunidades reconhecidas daquela região, nenhuma até agora possui título territorial.

Na comunidade de Jatobá, no município de Cabobró, as 116 famílias mesmo vivendo às margens do São Francisco, não contam com água. O relatório registra que Codevasf instalou os canos, com a promessa de água potável, mas simplesmente não há fornecimento de água.

Escolas e postos de saúde, como obras de compensação também não foram realizadas. Com isso, crianças e adolescentes para frequentarem a escola precisam se deslocar a cidades em transporte escolar precário – quando ele existe, pois muitas vezes encontra-se quebrado.

Dentre a série de denúncias feitas pelos ribeirinhos, quilombolas, indígenas e trabalhadores rurais assentados, uma diz respeito à falta de informações oficiais sobre quais são os planos governamentais para essa região.

No documento, consta também que os estudos antropológicos dos povos indígenas Truká e Tumbalalá não foram finalizados e já perduram por muito tempo, cujos territórios não são reconhecidos e nem demarcados, na sua integralidade. Essas áreas, ou serão inundadas ou impactadas por essas obras na região. E diante dessas incertezas têm ocorrido conflitos entre esses povos indígenas e os órgãos governamentais.

Reforma agrária

No acampamento Lagoa da Pedra, do MST, as 103 famílias, embora cadastradas no Incra, não recebem cestas básicas há cerca de quatro meses. A explicação é que não há transporte para a entrega por falta de licitação. E outro agravante é que não existe fornecimento de água para o acampamento. Essas famílias são obrigadas a comprarem a água dos carros pipas, em média por R$150,00 a 200 reais.

Para Edgar Mota, do Setor de Direitos Humanos do MST em Pernambuco, “isso demonstra que estado brasileiro tem sido um grande violador de direitos humanos. Por isso, temos que garantir nossos direitos”.

O Relatório da Missão à Petrolina e região do Rio São Francisco será encaminhado às autoridades federal e estadual. E mecanismos internacionais poderão ser utilizados para que os problemas diagnosticados, as recomendações e denúncias possam ser solucionadas e que a situação vivida na região seja reconhecida como violação dos direitos humanos.

O relatório também será utilizado como forma de dar visibilidade a toda articulação e às mobilizações das comunidades e entidades
envolvidas.

http://www.mst.org.br/Transposicao-do-Rio-Sao-Francisco-viola-direitos-humanos

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Sassá Tupinambá: Carta aos Parentes

Sassá Tupinambá: Carta aos Parentes

Por racismoambiental,

Parentes,

Acompanhei de perto, estive todos os dias junto com os parentes Kaiowa Guarani e o Tribunal Popular (organização que participo pelo Movimento Indígena Revolucionário, que vem crescendo em todo Brasil) e CIMI-SP. Fizemos várias articulações para garantir alimento e o ônibus de volta para Dourados, pois a FUNAI retirou o ônibus antes do término do julgamento, ou seja, mais uma vez foi provado a ineficiência, a incapacidade e a negligencia deste órgão para com os povos indígenas. Se não fossem as organizações que citei em nota, os parentes ficariam na rua durante 5 noites e passariam fome.

A grande São Paulo conta com uma população indígena de cerca de 70 mil pessoas, morando nos bairros periféricos e nas 4 aldeias, mas o número de indígenas da região que foram lá prestar solidariedade aos parentes foram muitíssimo baixo. Antônio Xucuru (familiar de Chicão Xucuru, assassinado em 1998) e eu estivemos durante todos os dias e passou algumas lideranças Pankararé e na quinta-feira um representante do Conselho Estadual dos Povos Indígenas de São Paulo – CEPISP, o parente Tupã Mirim (citei apenas os que vi, pode ser que outr@s passaram por lá sem eu ter visto).

A presença de indígenas de São Paulo seria fundamental para as lideranças Kaiowa que estiveram aqui, ainda mais por 5 deles serem filhos do grande líder da nação Kaiowa Guarani, o Cacique Marco Verón. Prestar solidariedade é o mínimo que poderíamos fazer. Só a presença ali já dá força e conforta o sofrimento do povo na luta por justiça e reparação.

Este julgamento foi vitorioso sim, por tudo que já foi dito e o não dito; este julgamento foi também vitorioso pelo fato de termos conseguido manter durante 5 dias os parentes abrigados, alimentados (3 ou mais refeições diárias) e garantido a volta em segurança sem a mediação do Estado brasileiro, tudo isso articulado pelos movimentos sociais e entidades de classe. Essa é uma vitória imensurável e um grande avanço na luta dos povos indígenas.

Sentimos a falta de muitos parentes nesses cinco dias de julgamento. Não era pra levar comida, agasalho, dinheiro ou qualquer outra coisa material. Os Guarani Kaiowa precisavam era de demonstração de solidariedade, o que a presença dá conta inicialmente.

Esse não será o único julgamento. Esta luta não é só dos parentes Guarani Kaiowa, mas de cada povo que sofre a violência do Estado. Continuaremos com a articulação e estamos alertas.

No momento que Aymbere foi assassinado, ali estava sendo todos nós! Quando Zumbi foi assassinado, ali estava sendo todos nós! Quando Sepé Tiaraju foi assassinado, ali estava sendo todos nós! Quando Marcelino Tupinamba foi assassinado, ali estava sendo todos nós! Quando Marçal Guarani foi assassinado, ali estava sendo todos nós! Quando Antônio Conselheiro foi assassinado, ali estava sendo todos nós! Quando Emiliano Zapata foi assassinado, ali estava sendo todos nós! Quando Chicão Xucuru foi assassinado, ali estava sendo todos nós! Quando Galdino Pataxó foi assassinado, ali estava sendo todos nós! Quando Marco Verón foi assassinado, ali estava sendo todos nós!

Eles estão todos vivos em cada um de nós quando lutamos juntos!

Devemos ser cada um de nós o espelho de cada liderança; nos reconhecermos e nos indentificarmos naqueles e naquelas que lutam ao nosso lado. Eu sou Babau Tupinambá, eu sou Valdelice Tupinambá, eu sou Raoni Kayapó, eu sou Ladio Veron, eu sou Arão Guajajara, eu sou Urutao Guajajara, eu sou você, eu sou o manifestante ferido nos atos pela policia, eu sou o manifestante ferido por grupos nazifascistas, eu sou todos e todas que lutam!

Contra o capital e o agronegócio, temos a solidariedade entre os povos!

Viva a retomada Guarani Kaiowa!

Viva a retomada Tupinambá!

Liberdade a@s indígenas pres@s já!

Sassa Tupinambá.

Enviado pelo autor para a lista superiorindigena.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Sul da Bahia - Encontro buscar evitar expulsão de indígenas

Encontro busca evitar expulsão de indígenas no sul da Bahia

Por racismoambiental,

A Defensoria Pública da União (DPU) vai atuar na proteção aos direitos de grupos indígenas pataxó e tupinambá do sul da Bahia, que estão ameaçados de expulsão por liminar de reintegração de posse a ser cumprida na próxima segunda-feira (28). Entre outras iniciativas, Defensores Públicos Federais vão buscar, ainda hoje, apoio do Tribunal Regional Federal da 1ª Região para apreciação imediata de recurso apresentado pela Fundação Nacional do Índio (Funai), destinada a sustar a execução daquele ato.

O compromisso foi prestado pelo Defensor Público-Geral Federal, José Rômulo Plácido Sales, em reunião com 17 lideranças indígenas que estão em Brasília, pleiteando apoio para as 119 famílias que serão afetadas pela decisão judicial. Também participaram da reunião a Diretora de Programas da Secretaria de Políticas para Comunidades Tradicionais do governo federal, Silvany Euclênio, e o consultor para Assuntos Indígenas, Alfredo Silva Wapixana, além de Defensores Públicos Federais.

Os Defensores Públicos Federais Claudionor Barros Leitão, Ricardo Emílio Salviano, João Paulo Picanço e Kléber Vinicius Melo apresentaram proposta de atuação que foi chancelada pelo Defensor Público-Geral Federal. Além de agirem junto ao TRF para o julgamento imediato do recurso contra a liminar de reintegração de posse, o Defensor Claudionor Leitão propôs ações de médio prazo, como realização de audiência pública na região e a apresentação da questão ao Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana.

A reintegração afeta a região de Barra Velha, no município baiano de Belmonte, onde estão instaladas três aldeias indígenas pataxóGuaxuma, Pé do Monte e Aldeia Nova. De acordo com o Defensor Claudionor Leitão, documentação entregue pelos indígenas aponta que a Procuradoria da Funai já teria apresentado recurso, cujo número ainda não foi identificado pelas lideranças. Pela origem do processo, a ação deve ser apreciada no TRF da 1ª Região, com sede em Brasília. Por isto, o apoio da DPU será de acompanhamento junto ao Desembargador designado para o caso.

O cacique Aratikun, da aldeia Pataxó de Santa Cruz Cabrália, informou que a Polícia Federal já notificou as lideranças indígenas de Belmonte para desocupação da área até o próximo dia 28. Caciques de outras aldeias disseram que existem novas ações de reintegração de posse em andamento e todos se sentem ameaçados. As lideranças pediram apoio da DPU para suspender as liminares de remoção, enquanto processos de demarcação da Funai avançam para legitimar a posse indígena.

Antes da chegada dos índios, os dirigentes federais da Secretaria de Políticas para Comunidades Tradicionais, da estrutura da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) da Presidência da República, foram recebidos no gabinete do Defensor Público-Geral Federal. Também participou da reunião o Defensor Público Federal Afonso Carlos Roberto do Prado, além dos Defensores que estiveram no encontro que tratou da ameaça à aldeia pataxó.

Comunicação Social DPGU

http://www.cimi.org.br/?system=news&action=read&id=5330&eid=342

A longa Luta dos Guarani do Araça’í

A longa Luta dos Guarani do Araça’í

Por racismoambiental,

História, Resistência e Esperança

Os Guarani do Araça’í vivem, há vários anos, confinados em áreas do povo Kaingang. Nestes espaços, alimentam o constante desejo de recuperar sua terra tradicional. Reivindicam o direito de retornar para o “Araçá’í”, terra aonde viram nascer alguns anciãos Guarani, que hoje lutam pela demarcação. Reivindicam apenas uma pequena parte de uma área de seus antepassados.

Na luta pela justiça e pela dignidade, alimentada no sonho da “Terra sem Males”, os Guarani decidiram retomar as suas terras. Na madrugada de 10 de julho de 2000, cerca de duzentos guarani, homens, mulheres e crianças regressaram para sua terra tradicional, localizada nos municípios de Cunha Porá e Saudades, no oeste do estado de Santa Catarina.

A retomada do Araçá’í significou, para os Guarani, a possibilidade de viver sua cultura e suas tradições, educando as crianças dentro de um espaço conhecido, reconstruindo o seu tekohá. Para tanto, enfrentaram muitas dificuldades, tempestades, geada e todo o frio do inverno em barracos improvisados. Suportaram a escassez de alimentos. Também resistiram às ameaças constantes, vindas de pessoas que rondavam o acampamento e disparavam tiros para intimidá-los, além de toda a pressão liderada por prefeitos e políticos da região que não aceitavam a presença deles naquele local. Assistiram a uma massiva campanha contra a presença indígena naquele espaço, fundada em argumentos preconceituosos e ofensivos.

Apesar de tudo isso, os Guarani demonstram a alegria de estar de volta à terra de sua história, lugar de ser gente por inteiro, que antes havia sido invadida, loteada e devastada pela mão dos colonizadores. Ao regressar para o “Araçá’í”, reafirmaram aquilo que “Sepé Tiarajú”, há a mais de duzentos anos aclamou: “Alto lar! Esta terra tem dono!”.

Durante esse processo de luta, os Guarani conseguiram assegurar a criação de um Grupo Técnico, para realizar o estudo antropológico e histórico da área do Araçá’í. Esse GT foi constituído em setembro de 2000 e iniciou seus trabalhos no mesmo período.

O Ministério Público trabalhou para que os Guarani permanecessem no Araçá’í. No entanto, a Justiça não refletiu sobre a vida e os direitos dos Guarani, fundamentou-se no direito à propriedade privada e sentenciou o despejo dos “filhos da terra”. Foram, uma vez mais, arrancados de sua “terra mãe” e levados, à força, para outro destino, novamente para uma terra que não era sua.

Com muita luta e resistência a terra foi identificada em 2005. Em 2006, retornam uma vez mais para a terra tradicional, cobrando a assinatura da Portaria Declaratória, de onde novamente, foram expulsos pela Polícia Federal.

Em abril de 2007, o Ministério da Justiça assinou portaria que declarou de posse tradicional Guarani uma terra com 2.721 hectares. Em junho do mesmo ano, o juiz Federal Narciso Baez concedeu uma antecipação de tutela, impossibilitando a realização dos trabalhos de levantamento fundiário. Mas a luta e resistência dos Guarani, permanecia viva. Em julho de 2008, uma decisão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre, derrubou a referida decisão da primeira instância.

Embora com atraso de quase um ano, a Funai, em março de 2009, criou um Grupo de Trabalho a fim de realizar o levantamento fundiário da terra. A realização do mesmo durou aproximadamente um ano. Neste período muitas articulações foram feitas em Brasília a fim de impedir a continuidade dos trabalhos, com intensa mobilização dos setores contrários a demarcação, coordenadas por políticos de vários partidos da região.

No início deste ano, o juiz Federal Narciso Baez, em Chapecó, anulou a Portaria. Para justificar sua decisão, defendeu que os Guarani teriam terra suficiente, casas e todo o atendimento necessário para sobreviver (sic). Ignorou, portanto, o fato de que os Guarani vivem em terra emprestada pelos Kaingang. Terra essa que possui 2.400 hectares, onde vivem hoje aproximadamente mais de 600 pessoas. Além disso, o magistrado desconsiderou a cultura diferenciada existente entre estes Povos.

Para a alegria dos Guarani, o desembargador Federal Vilson Darós, do TRF da 4ª região, em Porto alegre, anulou a suspensão da Portaria Declaratória nº 790/2007 no início deste mês. Com isso, a Funai tem a obrigação de atuar com grande agilidade a fim de continuar o procedimento de demarcação dando início ao pagamento das benfeitorias aos ocupantes não-indígenas e liberando a área a fim de que os Guarani possam, enfim, retomar a posse definitiva daquilo que é deles, local onde viveram seus antepassados, espaço pelo qual lutam desde o período em que foram expulsos, a sua Terra Tradicional.

http://www.cimi.org.br/?system=news&action=read&id=5328&eid=293

Conselho Indigenista Missionário – Regional Sul

*********************************************************
NOTA: Deus usa pessoas para abençoar aos pequeninos! Independente de religiões: tudo que o homem planta, colhe.

Investimento na adolescência pode romper ciclos da pobreza e iniquidade

Investimento na adolescência pode romper ciclos da pobreza e iniquidade

Por racismoambiental,

Camila Queiroz

Investir na proteção e no desenvolvimento da população mundial de 1,2 bilhão de adolescentes pode romper ciclos de pobreza e iniquidade, segundo o relatório global do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) “Situação Mundial da Infância 2011 – Adolescência: Uma fase de oportunidades”.

O relatório aborda a adolescência como um período de oportunidades, invertendo a lógica que costuma reduzi-la a uma fase de riscos e vulnerabilidades. O estudo, que contou com a participação de jovens e adultos interessados na temática, traça um panorama da adolescência hoje, abordando direitos e desafios enfrentados pelos jovens e apontando áreas em que os adolescentes mais precisam de investimentos, como saúde e educação.

Nove em cada dez jovens vivem no mundo em desenvolvimento e enfrentam desafios particularmente graves, que vão desde adquirir educação até simplesmente sobreviver. As dificuldades são ainda mais exacerbadas para meninas e mulheres jovens.

“Será que podemos deixar passar o tempo? Neste exato momento, na África, uma adolescente avalia os sacrifícios que precisa fazer para permanecer na sala de aula. Outro adolescente tenta desesperadamente não ser obrigado a juntar-se a grupos armados. Na Ásia Meridional, uma jovem grávida, aterrorizada, espera o dia em que, sozinha, dará à luz seu filho”, descreve o Diretor Executivo do UNICEF, Anthony Lake, que, mesmo diante deste cenário nada acalentador, conclama todos a agir por mudanças.

Segundo a publicação, investimentos realizados nas duas últimas décadas permitiram grandes avanços para os períodos inicial e intermediário da infância. Entre os avanços alcançados desde 1990, está a redução de 33% na taxa global de mortalidade de menores de cinco anos e a eliminação quase total das diferenças de gênero nas matrículas na escola primária em diversas regiões em desenvolvimento.

No entanto, menos avanços foram observados em áreas que afetam os adolescentes. Mais de 70 milhões de adolescentes em idade de frequentar os anos finais do ensino fundamental estão fora da escola. No Brasil, as reduções na taxa de mortalidade infantil entre 1998 e 2008 significam que foi possível preservar a vida de mais de 26 mil crianças; no entanto, no mesmo período, 81 mil adolescentes brasileiros, entre 15 e 19 anos de idade, foram assassinados.

De acordo com o relatório, as conquistas obtidas na primeira década de vida podem se tornar sustentáveis com políticas nacionais e programas específicos que ofereçam aos adolescentes acesso à educação de qualidade, saúde e proteção. Lake reforça que a adolescência é uma fase decisiva, pois o jovem pode consolidar os ganhos da primeira infância ou perdê-los. “Precisamos concentrar mais intensamente os nossos esforços nos adolescentes – principalmente nas meninas adolescentes –, investindo na sua educação e saúde e em outras medidas para envolvê-los nos processos de melhoria de sua própria vida”, declarou.

Situação da adolescência no Brasil

Além dos dados sobre o Brasil incluídos no relatório, o UNICEF também divulgou o Caderno Brasil, publicação que contextualiza para a realidade brasileira as reflexões e dados do relatório global. Para contribuir com a temática, o UNICEF pretende ainda este ano lançar um relatório sobre a situação específica dos adolescentes no Brasil, com foco nas iniquidades, desafios e oportunidades.

O Brasil conta com uma população de mais de 21 milhões de adolescentes. 30% dos seus 191 milhões de habitantes têm menos de 18 anos e 11% da população possui entre 12 e 17 anos.

Em consonância com o relatório mundial, a situação dos adolescentes no Brasil demonstra que atualmente as oportunidades para sua inserção social e produtiva ainda são insuficientes, tornando-os o grupo etário mais vulnerável em relação a determinados riscos, como o desemprego e subemprego, a violência, a degradação ambiental e redução dos níveis de qualidade de vida. As oportunidades são ainda mais escassas quando são levadas em consideração outras dimensões da iniquidade além da idade, como renda, condição pessoal, local de moradia, gênero, raça ou etnia.

Leia o relatório global e do Caderno Brasil na íntegra em:http://www.unicef.org/brazil/pt/media_19830.htm

http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cat=2&cod=54287

Acusado de matar cacique Guarani-Kaiowá é absolvido

Acusado de matar cacique Guarani-Kaiowá é absolvido

Por racismoambiental,

Por Daniel Mello*

Após cinco dias de julgamento, os jurados decidiram no fim da noite de sexta-feira 25 absolver Carlos Roberto dos Santos acusado da morte do cacique Guarani-Kaiowá Marcos Veron. Ele e mais Jorge Cristaldo Insabralde e Estevão Romero eram réus no processo que apura os crimes contra o grupo de índios que ocupou a Fazenda Brasília do Sul, em Juti, Mato Grosso do Sul, em fevereiro de 2003.

Os três funcionários da fazenda, no entanto, foram condenados por seis sequestros, tortura e formação de quadrilha armada. A pena estipulada pela juíza da 1ª Vara Criminal Federal de São Paulo, Paula Mantovani, foi de 12 anos e três meses de prisão. Estevão Romero foi condenado também a mais seis meses em regime aberto por fraude processual.

Todos os réus já passaram quatro anos e oito meses sob prisão preventiva. Como a sentença ainda não transitou em julgado, eles deixaram o tribunal em liberdade.

Para o procurador Luiz Carlos Gonçalves, o resultado foi uma vitória parcial. “ A vitória completa seria a condenação dos réus também pelos homicídios e tentativas de homicídios”. Mesmo assim, ele considerou a sentença um avanço na luta pelos direitos indígenas. “A mensagem de que a comunidade indígena tem direitos e que a violência é intolerável foi dada”, disse.

O próximo passo, segundo o procurador, é buscar a condenação dos mandantes do assassinato de Marcos Veron. O dono da fazenda, Jacinto Honório da Silva Filho, é réu em outro processo sobre o mesmo caso.

A defesa dos acusados comemorou o resultado, já que a pena aplicada é apenas uma fração da penalidade que poderia ser imputada. O advogado Josephino Ujacow, entretanto, adiantou que vai recorrer da sentença.

O juri foi realizado em São Paulo atendendo ao pedido do Ministério Público Federal. O órgão afirma que o dono da fazenda tem grande poder econômico e poderia influenciar no julgamento em Mato Grosso do Sul. Além disso, segundo o MPF, existe no estado um grande preconceito contra indígenas.

Os crimes ocorreram quando um grupo de cerca de 40 seguranças da Fazenda Brasília do Sul desocupou a área à força. Os índios estavam acampados pela segunda vez na fazenda que é reivindicada como terra indígena. Marcos Veron foi morto a coronhadas durante o conflito.

Os cinco dias de juri foram acompanhados por um grupo de índios. Entre eles, estavam três filhos do cacique morto e mais 15 membros da tribo.

http://www.cartacapital.com.br/sociedade/acusado-de-matar-cacique-guarani-kaiowa-e-absolvido

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Sul da Bahia - Indígenas Pataxó expõem situação caótica na saúde indígena

Indígenas Pataxó expõem situação caótica na saúde indígena na Bahia

Por racismoambiental,

Segundo eles, terras indígenas na região não têm nenhum posto de saúde ou atendimento médico. O grupo exige atuação urgente da Sesai

Por Maíra Heinen
Assessoria de Comunicação – Cimi

Crianças morrendo por verminoses, idosos por hipertensão, grávidas perdendo seus bebês ou morrendo em trabalho de parto. Situações como estas foram relatadas pelos pataxó, ontem (23), durante reunião com o secretário Nacional de Saúde Indígena, Antônio Alves, no Ministério da Saúde, em Brasília. A comissão de lideranças indígenas do sul da Bahia veio exigir que o quadro de atendimento à saúde indígena mude o mais rápido possível na região. As consequências do mau atendimento são arrasadoras.

Antônio Alves iniciou a audiência apresentando o quadro situacional que pegou ao se tornar secretário em outubro do ano passado. Segundo ele, a transição do atendimento à saúde indígena da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) para a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) acontece até abril e até lá, a Fundação ainda tem obrigações a cumprir para com os indígenas, até pela falta de orçamento da Secretaria neste início de ano. Porém, de acordo com Alves, isso não vem acontecendo.

Ele ressaltou que o quadro de saúde em áreas indígenas em todo o Brasil é caótico e dramático e que a Funasa, ao invés de ajudar, vem fomentando movimentos contra a nova Secretaria. “Há aldeias que não recebem visitas de equipes de saúde há vários meses, servidores contratados precariamente, sem garantia de continuidade do serviço; faltam médicos, o saneamento está sucateado”. Ele lembrou também as condições dos indígenas Xavante e dos que vivem no Vale do Javari, que estão morrendo por falta de assistência e por precariedade em estruturas de saneamento básico. Para a Bahia, o secretário afirmou que deve construir um plano de intervenção, pois sabe que a falta de ações efetivas e indefinições no governo afetam muito mais os povos indígenas.


Realidades cruéis

Várias lideranças fizeram relatos de suas realidades, citando perdas de parentes por falta de carros e de atendimentos de urgência. Aruã Pataxó lembrou que nenhuma terra indígena no Sul da Bahia tem atendimento médico ou posto de saúde. Também informou que dos 16 carros destinados a atendimento, 14 estavam quebrados e os dois que sobraram são para atender cerca de 15 mil índios. “Queremos que o senhor dê encaminhamento às ações de saúde o mais urgente possível. O senhor explicou o quadro caótico, mas nós na base é que sentimos na pele as consequências. A doença não espera que o medicamento chegue ou que o governo tome decisões”, afirmou o cacique.
Na maioria dos depoimentos indígenas, falou-se na exoneração do responsável pelo Dsei da Bahia, Jorge Araújo. “Isso já foi muito discutido. Nós não queremos esse homem no Dsei, porque ele compra pessoas, fica fazendo acordos”, disse Aruã. Valmir Pataxó, que é conselheiro local de saúde, também pediu a saída do superintendente. “Jorge promete o que não pode dar e quer subornar lideranças! A Sesai precisa tomar providências urgentes. Até quando vamos esperar?”.

Aratikum Pataxó afirmou que o governo só não toma providências porque seus integrantes têm, juntamente com suas famílias, atendimento diferenciado na saúde. “Se algum governante passasse 24 horas numa aldeia ia perceber o que a gente passa. O Brasil está se desenvolvendo apenas para alguns: é avançado para grandes empresários e políticos, mas nós não passamos de pobres, miseráveis!”, ressaltou.

Muitos indígenas lembraram que são 511 anos de história vergonhosa e que a história vem se repetindo em pleno século XXI. “Será que o diretor da Funasa teria coragem de tomar a água contaminada que a gente bebe?” questionou Aratikum. “Nós queremos uma mudança real na saúde, pois o governo não criou a secretaria só para criar cargos, mas para apresentar serviços de qualidade”, finalizou.

Encaminhamentos

Muitas ações que deverão ser tomadas ainda dependem do decreto de orçamento da União, que deve ser publicado até o final da próxima semana, como ressaltou o secretário de saúde. O montante para a saúde indígena deverá ser de 640 milhões. Segundo Alves, a partir desta aprovação orçamentária, poderá ser criado o pólo base de Itamaraju, mas até a sexta-feira (25) será definida uma data para que um representante da secretaria vá à Bahia, veja um imóvel na região que possa ser a sede do pólo. A secretaria também deverá mapear a região e definir, juntamente com os indígenas, o melhor local para se construir uma Casa de Saúde Indígena (Casai). Sobre a falta de veículos, a Sesai explicou que existem oito veículos parados esperando emplacamento no pátio da Funasa, em Salvador. O secretário se prontificou a ligar para o governador da Bahia para liberar os emplacamentos o mais rápido possível. Além dos oito, ainda há quatro veículos para serem entregues ao Dsei da Bahia e também veículos a serem consertados para voltarem a trabalhar, o que deverá acontecer após a liberação do orçamento.

Na reunião foi solicitado que Luzia Pataxó, indígena técnica de enfermagem que acompanhava a reunião, fosse cedida da prefeitura de Porto Seguro (onde é servidora), para a Sesai, a fim de que ajude no atendimento de seus parentes indígenas. Antônio Alves assegurou que o pedido será feito à prefeitura de Porto Seguro ainda nesta quinta-feira.

Outras orientações foram tomadas, como a realização de um seminário sobre a saúde indígena na Bahia (ainda sem data provável), a atuação do projeto de saúde bucal “Brasil Sorridente” nas aldeias da Bahia, campanhas sobre saúde mental e contra o uso de drogas, entre outras. Ao final da reunião, Antônio Alves afirmou que até segunda-feira terá um nome para ser interventor no Dsei da Bahia e que Jorge Araújo deverá sair, se esta é a vontade dos povos indígenas da região.

Depois de quatro horas de reunião, os indígenas saíram satisfeitos e declararam: “Secretário, estamos dando a você um voto de confiança porque temos esperança que a situação pode mudar!”. E a saúde não pode aguardar muito.

http://www.cimi.org.br/?system=news&action=read&id=5324&eid=274

Índios Tembés inauguram primeira cooperativa indígena

Índios Tembés inauguram primeira cooperativa indígena

Por racismoambiental,

Para melhorar as práticas agropecuárias e lutar pelos direitos da terra e produção sustentável, os índios Tembés, da comunidade Iarapé I’wazú, localizada no alto rio Guamá, no município de Santa Luzia do Pará, inauguram no próximo sábado (26) às 9h, a primeira cooperativa agropecuária indígena do Estado – Coop.Indi.Amazon, que tem como objetivo é qualificar a produção.

Segundo o Antropólogo Rudivaldo Souza, as aldeias indígenas ainda enfrentam diversos problemas decorrentes de invasões em seus territórios, além das ameaças que ferem profundamente suas dignidades. “No entanto, não tem sido suficiente para buscar uma participação maior das aldeias no desenvolvimento econômico, ecológico, político e social, junto ao governo federal. Através de diversas informações sobre a população indígena, percebe-se a necessidade dos indígenas a constituírem-se em associações e cooperativas” relata.

Em uma área menor que um campo de futebol, com 300 metros quadrados, 680 índios sobreviveram nos últimos dois anos com recursos mínimos proveniente do extrativismo informal. Antônio Pastana, membro da aldeia e futuro presidente da Coop.Indi.Amazon, explica que a cooperativa é uma forma de profissionalizar o trabalho e melhorar o manejo dos recursos da reserva.

“Com a cooperativa, teremos o fortalecimento e proteção contra a violência exercida por posseiros e expectativas de melhorias no mercado produtivo. Também estamos ansiosos para relembrar e praticar nossas crenças no dia do festejo”, revela o futuro presidente. Durante a inauguração haverá um grande almoço tradicional e Antônio Pastana assumirá a presidência da cooperativa.

A Coop.Indi.Amazon implantará atividades voltadas para o aproveitamento racional dos recursos naturais amazônicos, como a piscicultura, apicultura, artesanato, recuperação de áreas alteradas – por meio da utilização de sistemas agroflorestais e manejo de plantais medicinais.

O presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras do Estado (OCB-PA), Ernandes Raiol, considera esse empreendimento um grande passo para o Estado do Pará, sobretudo em relação à organização social, econômica, institucional e produtiva. “Esse é um projeto piloto em que a OCB-PA espera promover o Estado em âmbito nacional. Estamos fazendo um levantamento para verificar se no Brasil já existe uma cooperativa indígena. Se não existir, podemos afirmar com orgulho que essa é a primeira e é paraense”, comenta Raiol.

http://www.amazonia.org.br/noticias/noticia.cfm?id=378601

Em cada três assassinatos no Brasil, dois são de negros

Em cada três assassinatos no Brasil, dois são de negros

Por racismoambiental,

De 2005 para 2008, houve uma queda de 22,7% nos homicídios de pessoas brancas; entre os negros, as taxas subiram 12,1%

Agencia Estado

No Brasil, em cada três assassinatos, dois são de negros. Em 2008, morreram 103% mais negros que brancos. Dez anos antes, essa diferença já existia, mas era de 20%. Esses números estão no Mapa da Violência 2011, um estudo nacional apresentado hoje pelo pesquisador Julio Jacobo Waiselfisz.

Os números mostram que, enquanto os assassinatos de brancos vêm caindo, os de negros continuam a subir. De 2005 para 2008, houve uma queda de 22,7% nos homicídios de pessoas brancas; entre os negros, as taxas subiram 12,1%. O cenário é ainda pior entre os jovens (15 a 24 anos). Entre os brancos, o número de homicídios caiu de 6.592 para 4.582 entre 2002 e 2008, uma diferença de 30%. Enquanto isso, os assassinatos entre os jovens negros passaram de 11.308 para 12.749 – aumento de 13%.

No Estado da Paraíba, em 2008, morreram 1.083% mais negros do que brancos. Em Alagoas, no mesmo ano, foram 974,8% mais mortes de negros. Em 11 Estados, esse índice ultrapassa 200%. As diferenças são pequenas apenas nos Estados onde a população negra também é menor, como no Rio Grande do Sul, onde a diferença é de 12,5%; Santa Catarina, com 14,7%; e Acre, com 4%.

Pobres

“Alguns Estados têm taxas insuportáveis. Não é uma situação premeditada, mas tem as características de um extermínio”, diz o pesquisador Waiselfisz. “A distância entre brancos e negros cresce muito rápido”, ressalta. Ele credita essa diferença à falta de segurança que envolve a população mais pobre, em que os negros são maioria. “O que acontece com a segurança pública é o que já aconteceu com outros setores, como educação, saúde, previdência social: a privatização. Quem pode, paga a segurança privada. Os negros estão entre os mais pobres, moram em zonas de risco e não podem pagar”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Enviado por Ricardo Álvares.

Indígenas vão a Europa denunciar impactos de projetos hidroelétricos na Amazônia

Indígenas vão a Europa denunciar impactos de projetos hidroelétricos na Amazônia
Karol Assunção
Jornalista da Adital
Adital

Pakitzapango, Complexo Madeira e Belo Monte. Esses são os nomes das três hidroelétricas que ameaçam os territórios e as comunidades indígenas da região amazônica do Peru e do Brasil. Para protestar contra a construção dos projetos, três indígenas da Amazônia foram, nesta semana, para a Europa. A ideia é realizar protestos e manifestações em Oslo (Noruega), Genebra (Suíça), Paris (França) e Londres (Inglaterra).

Os povos amazônicos estão representados pelos/as indígenas: Ruth Buendia Mestoquiari, indígena ashaninka do Peru; Sheyla Juruna, da região Xingu, Pará, no Brasil; e Almir Suruí, de Rondônia, também no Brasil. Os três participam, desde segunda-feira (21), de reuniões e atividades com autoridades e representantes de empresas e organizações de direitos humanos do continente europeu.

De acordo com Renata Pinheiro, integrante da coordenação do Movimento Xingu Vivo para Sempre, o objetivo da missão é fazer um alerta sobre a situação dos indígenas afetados pelas represas. Renata explica que, durante as atividades nos países visitados, a delegação tenta mostrar os danos causados pela construção das hidroelétricas e alertar para os riscos financeiros dos projetos. "A ideia é fazer um contraponto ao que vem sendo apresentado pelo Governo”, destaca.

Além disso, querem "desconstruir uma série de argumentos apresentados pelo Governo Federal [brasileiro]”, como os de que, se não construir Belo Monte, haverá um apagão no país; e que as grandes hidrelétricas são fontes de energia limpa e barata. "Queremos mostrar qual o preço da política energética que o Brasil está querendo impor para o Brasil e para o mundo”, ressalta.

De acordo com informações de Survival International, o projeto da hidroelétrica de Pakitzapango, no rio Ene (Peru), por exemplo, inundará quase 100 mil hectares e afetará mais de 10 mil indígenas ashaninka. O projeto custará cerca de 6 bilhões de dólares e teve a concessão outorgada sem informar ou consultar a população indígena afetada.

Situação parecida acontece em Rondônia, no Brasil, com a construção do complexo do Rio Madeira, projeto que prevê a construção de quatro represas hidroelétricas. Duas delas, de Santo Antonio e Jirau, já estão em fase de construção. Entre os impactos, destacam-se: deslocamento de indígenas e demais comunidades da região, risco à biodiversidade, perda do acesso a produtos agrícolas e de extração florestal, e problemas sociais associados à ida massiva de pessoas em busca de emprego, como superpopulação e aumento da violência.

A usina de Belo Monte, no rio Xingu, Pará (Brasil), também é alvo de protestos. Segundo Survival, o projeto desviará boa parte do curso do rio Xingu, o que provocará sérios danos às populações que dependem do rio. Além disso, estima-se a destruição de mais de 1.500 km quadrados e o deslocamento forçado de mais de 20 mil pessoas. Isso sem falar nos 800 indígenas e milhares de famílias ribeirinhas afetadas.

Atividades

As três lideranças indígenas estão desde o dia 19 na Europa para realizar atividades e manifestações contra os projetos hidroelétricos na região Amazônia. Na segunda-feira (21), os indígenas foram a Oslo (Noruega) participar de um seminário para alertar investidores sobre os riscos de projetos na região Amazônica. No dia seguinte, reuniram-se com representantes de empresas e do governo norueguês para discutir sobre o papel do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) como financiador dos projetos hidrelética.
Dia 23, a delegação esteve em Genebra (Suíça) para uma reunião com o Alto Comissariado para os Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) e com o Relator Especial para Assuntos Indígenas da ONU. Hoje, participaram de uma sessão do Comitê para Eliminação da Discriminação Racial.

Na sexta-feira (25), vão a Paris (França) para reuniões com empresas que participam de consórcios dos projetos no Brasil e no Peru. No dia seguinte (26), ainda na capital francesa, marcarão presença em uma manifestação contra as hidrelétricas e a empresa Suez, uma das investidoras nos projetos na América Latina. A mobilização será na Praça dos Direitos Humanos, a partir das 12h (horário local).

A viagem terá a última parada em Londres (Inglaterra), onde a delegação se encontrará com integrantes do Parlamento e com representantes das embaixadas do Brasil e do Peru. No dia 2, promoverão uma manifestação em frente ao escritório do BNDES.

Amazonas - Waimiri-Atroari Desaparecidos na Ditadura

Waimiri-Atroari Desaparecidos na Ditadura
Egydio Schwade

Casa da Cultura do Urubuí-CACUÍ/Amazonas

Adital

É justo e necessário o país se mobilizar pelos desaparecidos políticos da Ditadura Militar no Brasil (1964-1984). Entretanto, por que não há o mesmo interesse na busca dos índios desaparecidos durante a Ditadura Militar por se oporem a política do governo sobre seus territórios?

Em 1968, o Governo Militar invadiu com a rodovia BR-174, Manaus–Boa-Vista, o território Kiña (Waimiri-Atroari). Em 1975, pelo menos 2000 pessoas já haviam desaparecido, todos pertencentes ao povo Kiña. Isso porque se opunham ao processo de invasão de seu território imposto pelos Militares.

O massacre ocorreu em etapas. Na primeira delas quem esteve a frente da construção da rodovia foi o Departamento de Estradas e Rodagem / Amazonas (DER/AM). Os relatórios mensais dos trabalhos sempre se faziam acompanhar com pedidos de armas e munição como este: "Vimos pelo presente, solicitar seu especial obséquio no sentido de ser expedida pelo S.F.I.D.T., uma autorização para compra de 6 revólveres "Taurus” calibre 38 duplo (...), 2 espingardas calibre 16, 53 caixas de cartuchos calibre 16, 16 caixas de balas calibre 38 longo, 25 caixas de cartuchos calibre 20, e 2 caixas de balas calibre 32 simples.

Esclarecemos, outrossim, que referida munição será utilizada como medida de segurança e de certo modo manutenção (...)”. (Of.DER-AM/DG/No. 170/68 de 04 de abril de 1968. Ass. pelo Eng. Otávio Kopke de Magalhães Cordeiro, Diretor Geral, ao Major Luiz Gonzaga Ramalho de Castro). Oficialmente a FUNAI era encarregada da política indigenista, mas logo ficou evidente que a a área Waimiri-Atroari ficaria sob o controle militar.

A segunda etapa se inicia no ano seguinte. Em junho de 1968, o Pe. João Calleri, nomeado pela FUNAI para a direção dos trabalhos de atração, fez um plano minucioso para os primeiros contatos e posterior fixação dos índios fora do roteiro da BR-174. No entanto, foi obrigado pelo Major Mauro Carijó, Diretor do DER/AM, a mudar o seu plano o que causou a trágica morte do Pe Caleri e seus auxiliares, em outubro de 1968. Isso possibilitou uma intensa campanha de repúdio aos Waimiri-Atroari criando uma situação favorável à intervenção militar brutal.

O Governador do Amazonas, Danilo Areosa, pedia providencias para garantir "a construção da estrada através do território indígena, a qualquer custo”, considerando o índio um inútil, que precisava "ser transformado em ser humano útil à Pátria”. E prosseguia: "os silvícolas ocupam as áreas mais ricas de nosso Estado, impedindo a sua exploração, com prejuízos incalculáveis para a receita nacional, impossibilitando a captação de maiores recursos para a prestação de serviços públicos”. (A Critica / Manaus 27 de novembro de 1968). Seu colega, Governador de Roraima, Fernando Ramos Pereira, completou: "Sou de opinião que uma área rica como essa não pode se dar ao luxo de conservar meia dúzia de tribos indígenas atravancando o seu desenvolvimento”.(Resist. Waimiri-Atroari / Marewa / Itacoatiaria / 1983, pg 6).

No final de 1968 o Comando Militar da Amazônia instalou um quartel no Igarapé Sto. Antonio do Abonari, que passou a controlar a vida e o destino dos índios. A partir daí a FUNAI se tornou apenas um joguete do Governo Militar a serviço do 6º BEC - Batalhão de Engenharia e Construção.

O abastecimento de armas e munição ficou a cargo do Exército, não demandando mais autorização especial. Trabalhadores, soldados e funcionários da FUNAI invadiam a área indígena empunhando armas e utilizado-as contra os índios. Revólveres, metralhadoras, cercas elétricas, bombas, dinamite e gás letal, foram algumas das armas utilizadas pelo Exército na guerra contra os índios durante a construção da BR-174.

Entre 1972 e 1975 a população Kiña reduziu de 3.000 (estimativa do P. Calleri em 1968, confirmada por levantamento mais minucioso da FUNAI em 1972) para menos de 1.000 pessoas, sem que a FUNAI e os militares apresentassem as causas dessa depopulação. Esses 2.000 Kiña desapareceram sem que fosse feito um só registro de morte. Durante o processo de alfabetização desenvolvido por nós e continuado pelo lingüista Márcio Silva, os Waimiri-Atroari tiveram, em curto período, uma das raras oportunidades de revelarem o que o seu povo sofreu durante a Ditadura, sofrimento que nenhum outro segmento da sociedade brasileira passou.

Desapareceram nove aldeias na margem esquerda do Médio Rio Alalaú; pelo menos seis aldeias no Vale do Igarapé Sto. Antonio do Abonari; uma na margem direita do Baixo Rio Alalaú; três na margem direita do Médio Alalaú; as aldeias do Rio Branquinho, que não aparecem nos relatórios da FUNAI; e pelo menos cinco aldeias localizadas sobre a Umá, um varadouro que ligava o Baixo Rio Camanau, (proximidades do Rio Negro) ao território dos índios Wai Wai, na fronteira guianense. Pelo menos uma delas foi massacrada por bombardeio de gás letal, com apenas um sobrevivente (Sobreviventes dessas cinco aldeias foram nossos alunos em Yawará / Sul de Roraima).

A partir do 2º semestre de 1974 as estatísticas da FUNAI começaram a referir números entre 600 e 1.000 pessoas e, em 1981, restavam apenas 354.

Em 1987 o Governo Federal passou o comando da política indigenista à responsabilidade da empresa Eletronorte que apenas mudou de estratégia, continuando o controle das informações e a política de isolamento dos índios como ao tempo dos militares. Essa é uma das histórias envolvendo os povos indígenas e a Ditadura Militar no Brasil. Casos semelhantes podem ser observados com os índios Krenhakarore do Peixoto de Azevedo no Mato Grosso, os Kané (tapayuna ou Beiços-de-pau) do rio Arinos no Mato Grosso, os Suruí e os Cinta Larga de Rondônia e Mato Grosso e outros. No entanto, nenhum desses homens, mulheres e crianças é citado nas relações dos desaparecidos da Ditadura.

Casa da Cultura do Urubuí / Pres. Figueiredo / AM
Casa da Cultura do Urubuí - CACUÍ
http://www.urubui.blogspot.com/

Pernambuco - Relatório sobre impactos da Transposição do Rio São Francisco é lançado em Recife

Relatório sobre impactos da Transposição do Rio São Francisco é lançado em Recife
CPT-PE

Setor de Comunicação da Comissão Pastoral da Terra em Pernambuco

Adital

Clique aqui para fazer o Download do Relatório na integra


A comunidade quilombola Cupira, localizada no município de Santa Maria da Boa Vista, sertão pernambucano, terá o seu território completamente inundado em consequência da construção da barragem de Riacho Seco, uma das obras que integra o grande projeto de transposição do Rio São Francisco. Ainda que as obras de construção da barragem não tenham sido iniciadas, as 250 famílias que formam a comunidade - que ainda luta para ter o título de seu território -, já sentem os impactos deste grande projeto e sofrem com a falta de informação. Os quilombolas chegaram a procurar por diversas vezes o Ministério de Integração Nacional para obter informações sobre o futuro da comunidade, mas não foram recebidos nenhuma das vezes, nem têm qualquer expectativa de quando terão seus direitos reparados.

"Essas Grandes empresas entram em nossa comunidade e nos impõe tudo, passam por cima de nosso território. Esses são empreendimentos que não vem pra trazer benefício para a população, e sim para explorar e desrespeitar o nosso direito de viver. Durante os 200 anos de existência da comunidade, não houve nenhuma preocupação por parte do governo em garantir políticas públicas que beneficiassem as famílias”. Explica a quilombola da comunidade e integrante do Movimento dos Atingidos por Barragens, Fernanda Rodrigues.

Este, assim como dezenas de outros casos de violação dos Direitos Humanos causados pela Transposição do Rio São Francisco em comunidades tradicionais, quilombolas, indígenas, ribeirinhas e camponesas encontram-se sistematizados no Relatório da Missão à Petrolina e região do rio São Francisco (PE), realizado pela Relatoria do Direito Humano à Terra, Território e Alimentação, da Plataforma Dhesca. O documento foi lançado na tarde desta última terça-feira, dia 22, na Assembleia Legislativa, em Recife, e contou com a participação de diversas organizações e movimentos sociais. Durante o lançamento, o relator do documento, o sociólogo Sérgio Sauer ressaltou que " são centenas de comunidades atingidas sem o reconhecimento de seus direitos básicos como o de auto-reconhecimento, o direito à terra e território, saúde, educação, informação, alimento e à água. É um investimento grandioso, com uma imensa quantia de recursos públicos e de capital humano para realizar uma obra que viola os direitos mais fundamentais da população”.

Sério Sauer destacou que um dos principais direitos violados é o da terra e território e o direito à informação: Muitas comunidades sabem que serão completamente dizimadas, como é o caso do quilombo de Cupira, mas não recebem informações sobre as obras que inundarão seu território e nem sequer foram ouvidas durante o processo. De acordo com a convenção 169, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário, todas as comunidades tradicionais que tiverem algum tipo de impacto com a construção de obras, incluindo as públicas, deverão ser consultadas durante todo o processo e serão elas que por fim decidirão se querem ou não ver alguma grande obra impactar o seu território.

Para o coordenador da CPT nacional, Padre Hermínio, que também esteve presente no lançamento, a lógica do projeto de Transposição do Rio São Francisco além de todos os fatores já colocados, é a de distribuição vertical das águas, privilegiando as grandes empresas e não garantir o abastecimento para as comunidades, para a população em geral. "Este projeto também fere a nossa cultura, as iniciativas populares de convivência com o semi-árido, o conhecimento tradicional e os territórios das comunidades tradicionais” ressaltou.

Além da denúncia de violações, o documento também pretende incidir sobre os órgãos públicos responsáveis através de uma série de recomendações que possam combater a violação dos direitos humanos. Órgãos do Governo que estão envolvidos na obra, como a Chesf, o Ministério de Integração Nacional, Minas e Energia, Iterpe e o Incra, por exemplo, além dos próprios parlamentares, foram todos convidados a participarem do lançamento, mas nenhum desses esttiveram presente na ocasião.

Outras informações:
Comissão Pastoral da Terra – Regional NE II
Contato: (81) 3231.4445

Peru - Primeiro Conselho de Coordenação Ampliada da Aidesep 2011 elege prioridades na luta indígena

Primeiro Conselho de Coordenação Ampliada da Aidesep 2011 elege prioridades na luta indígena

Adital

Os povos indígenas amazônicos se declaram em luta e mobilização permanente em defesa dos territórios ancestrais. Esta foi a afirmativa do Conselho Diretivo da Associação Interétnica de Desenvolvimento da Selva Peruana (Aidesep) e suas organizações regionais durante o Primeiro Conselho de Coordenação Ampliada da Aidesep 2011, ocorrido no último dia 22. As lideranças denunciam a insistência do governo em gerar políticas sem consultá-los, como prevêem os convênios internacionais.

Dentre as prioridades, os povos indígenas exigem a Promulgação da Lei Marco de Consulta dos Povos Originários – aprovada pelo Congresso em maio do ano passado –, bem como a revogação dos decretos de urgência 001 e 002, que pretendem acelerar a concessão e privatização de 33 projetos de infraestrutura. No mesmo sentido, rechaçam os projetos da Integração de Infraestrutura Regional Sul Americana (IIRSA), com 11 hidroelétricas na Amazônia, dentre outras obras.

Demandam ainda respeito ao seu direito de territorialidade, como certificação e ampliação de seus territórios e o cumprimento de convênios e tratados internacionais relativos aos direitos humanos e dos povos indígenas, a exemplo do Convênio Internacional 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da Declaração dos Povos Indígenas.

O presidente da Aidesep, Alberto Pizango Chota, explicou que a decisão consistirá no fato de que os povos estarão muito atentos a qualquer pretensão de ingresso de empresas extrativistas nos territórios indígenas e que defenderão suas comunidades da destruição dos bosques, lagoas, fauna e flora da Amazônia. "Igualmente, exigimos que os candidatos à presidência e ao Congresso se pronunciem sobre nossas demandas”, disse.

Por sua vez, o presidente da Federação Nativa de Mãe de Deus e Afluentes (Fenamad, na sigla em espanhol), Jaime Corisepa, denunciou que o que ocorre em sua região é uma situação alarmante, pois os bosques não somente estão sendo destruídos pelo impacto da mineração informal, mas também por culpa do governo, que continua entregando terras em zonas de reserva e onde habitam povos indígenas autônomos – erroneamente denominados "isolados”.

No tocante à questão ecológica, Pizango Chota enfatizou que a defesa do planeta será assumida pelos povos indígenas, frente à voracidade da mudança climática. Ele citou as consequências já visíveis disso: desaparecimento da neve, inundações devido a chuvas torrenciais na Amazônia e transbordamento de rios.

"Fazemos um chamado a todo o país a pensar no futuro. Não pensemos em incremento de riquezas econômicas, mas na estabilidade do planeta, cada dia mais enfermo pela crescente contaminação ambiental em todas as partes do mundo”, concluiu.

Panamá - Indígenas rechaçam lei de mineração e seguem em protestos


Indígenas rechaçam lei de mineração e seguem em protestos

Camila Queiroz

Jornalista da ADITAL

Adital

No Panamá, comunidades indígenas das províncias de Chiriquí, Bocas del Toro e Panamá marcham, hoje, em San Felix e outras localidades, para mostrar o seu repúdio à lei mineira. Aprovada em 11 de fevereiro pelo Congresso Nacional, a mudança no código mineiro possibilita a exploração de jazidas por empresas estrangeiras.

A mineração é considerada prejudicial ao habitat indígena e ao meio ambiente. Os povos originários sustentam que não é suficiente o decreto em que o presidente do Panamá, Ricardo Martinelli, proíbe a extração mineira em seus territórios. Eles exigem que a lei seja revogada e o governo convoque um referendo para resolver o impasse.

Líderes da comarca Ngabe Buglé, rica em jazidas de cobre, exortaram a Martinelli que marche junto a eles em San Felix, Chiriquí, e se explique sobre o acordo pactuado com um cacique não reconhecido pela comunidade.

Martinelli firmou com o suposto dirigente indígena Rogelio Moreno um texto em que se compromete a não explorar a mineração, durante todo o seu mandato, nas comarcas com povos originários. Os indígenas alegam que Moreno agiu sem o consenso da maioria, além de não ser um líder legitimado pela comunidade. No dia 22, foi considerado "persona non grata” pela Coordenação de Defesa dos Recursos Naturais e do Direito do Povo Ngabe Buglé e Campesinos.

Os povos indígenas pontuam que a indústria extrativista é muito danosa para o entorno, afetando severamente a biodiversidade e prejudicando a todo o país, não apenas as comunidades indígenas.

O Sindicato Único Nacional de Trabalhadores da Indústria da Construção e Similares reiterou sua participação nas marchas. Na capital, haverá também manifestações nas proximidades da assembleia de deputados, segundo o Sindicato da Construção, cujos afiliados apoiam as demandas indígenas.

Estrangeiros devem sair da zona mineira

A ministra de Governo, Roxana Méndez, informou ontem, 23, aos estrangeiros que realizam atividades mineiras em Ngabe Buglé, que eles devem deixar a região em duas semanas.

Mendéz indicou, em comunicado à imprensa, que a medida busca evitar que pessoas alheias à comunidade gerem "desassossego”. A ministra coordena uma comissão para definir um programa social para o desenvolvimento de Nagbe Buglé e insistiu na necessidade de que os estrangeiros saiam do local.

Com informações de Prensa Latina e Frenadeso Noticias

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Pataxó do Sul da Bahia cobram seriedade no Trabalho da FUNAI


Os pataxó reclamam da remarcação de prazos para a solução de impasses no sul da Bahia
Em reunião, indígenas cobram seriedade no trabalho da Funai

Por racismoambiental,

Por Maíra Heinen

Assessoria de Comunicação – Cimi

Lideranças indígenas do povo Pataxó e entidades do Governo Federal se reuniram nesta terça-feira (22) em Brasília, para tratar das demarcações das Terras Indígenas Barra Velha e Cahy, no sul da Bahia. Mais de 40 pataxó estiveram na audiência, apresentando suas reivindicações e exigindo as soluções para os impasses que ainda existem. Representando o governo, participaram o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Márcio Meira; do Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMBio), Rômulo Melo; o diretor de obtenção de terras do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Celso Lisboa; o secretário nacional de articulação social da Presidência da República, Paulo Maldos; a antropóloga da Coordenação Geral de Identificação e delimitação (Funai), Leila Sotto-Maior, entre outros. A assessoria jurídica e de comuinicação do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) também estiveram presentes.
Aruã Pataxó iniciou as falas reafirmando a expectativa dos indígenas de voltarem para suas aldeias com respostas positivas. “Vocês nos pediram 90 dias para nos apresentar uma resposta e aqui nós estamos. Queremos demarcação o mais urgente possível, pois somos ameaçados de despejo por liminares, somos ameaçados de morte na região. São mais de 11 anos lutando por nossas terras”, afirmou a liderança. Segundo ele, muitas políticas públicas estão paralisadas devido a falta de demarcação das terras onde vivem, como por exemplo a paralisação do programa Luz Para Todos, nas aldeias. “Queremos a garantia de direitos para o nosso povo!”, ressaltou.

O impasse que marca a demora na regularização destas terras é devido à sobreposição entre as áreas indígenas e unidades de conservação (Parques Nacionais Monte Pascoal e do Descobrimento). Na última reunião realizada em novembro de 2010, também em Brasília, o mesmo grupo definiu que a solução para o território Barra Velha seria a demarcação na forma de mosaico. Ainda em novembro passado, ficou acordado que seria elaborada uma Nota Técnica visando a manifestação formal do ICMBio e do Incra para que a procuradoria da Funai elaborasse um documento a ser assinado pelos presidentes dos órgãos envolvidos e encaminhado para a Advocacia Geral da União (AGU), para que a situação fosse destravada. O caso estava parado na AGU pelo fato de, anteriormente às reuniões realizadas com os indígenas, não haver acordo entre Funai e ICMBIo quanto à regularização das áreas. Até ontem, o documento não havia sido enviado para a AGU.

Alongando os prazos

O prazo de 90 dias, contados a partir de novembro, não foi suficiente, de acordo com Márcio Meira, devido às datas de fim de ano (Natal e Ano Novo), férias de funcionários, eleições e troca de governo. Mas afirmou também que a situação avançou, apesar das várias ações judiciais em curso, que atrapalham a atuação da Funai.

Novas datas foram colocadas para que o processo caminhe. Até o dia 4 de março, um GT de complementação de estudos para a área Cahy, com um membro do ICMBio, será criado, mas não existe um prazo para que os trabalhos sejam concluídos. Segundo Leila, é necessário ter a liberação orçamentária para que o órgão possa agir neste caso e dar encaminhamento aos estudos. Também definiu-se que, dentro de 15 dias, será criada uma força tarefa de órgãos federais no sul da Bahia para garantir a segurança das famílias indígenas que são ameaçadas.
De acordo com o presidente da Funai, até o final desta semana, a carta declaratória de Barra Velha será enviada para a AGU e assim que sair a apreciação do advogado geral, o processo será encaminhado para o Ministério da Justiça para a demarcação.

Os indígenas, porém, reclamaram das remarcações de prazos. “A gente quer uma decisão urgente, porque vocês sempre ficam protelando e lá na terra a gente está ameaçado. Não queremos conversa bonita, queremos preservar o meio ambiente, mas também precisamos nos sustentar! Queremos que a Funai tome decisões sérias”, ressaltou Aruã. Com as datas definidas ao final da reunião, os indígenas solicitaram a ata da audiência por escrito, afim de assegurar que as promessas e datas sejam cumpridas.

Nesta semana, os indígenas ainda terão encontros com representantes do Ministério do Trabalho e Emprego, com o Secretário da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), Antônio Alves, e ainda com o vice-presidente Michel Temer. Eles ficam em Brasília até sexta-feira (25).

http://www.cimi.org.br/?system=news&action=read&id=5320&eid=342

Como poderia alguém deixar sua moradia, sua família, tudo o que conquistou com o trabalho e o passar dos anos para morar na rua, morar em uma praça?

Como poderia alguém deixar sua moradia, sua família, tudo o que conquistou com o trabalho e o passar dos anos para morar na rua, morar em uma praça?

Por Moradores de Rua.Org

Iniciaremos com uma pergunta reflexão: "como poderia alguém deixar sua moradia, sua família, tudo o que conquistou com o trabalho e o passar dos anos para morar na rua, morar em uma praça?"

Há inúmeras justificativas para tal atitude, cada uma com uma explicações diferentes. Se foi o

alcoolismo, o abandono da família é feito muitas vezes por não suportar as pressões psicológicas dentro de casa, sem emprego, a vergonha de não mais poder arcar com as despesas da família muitas vezes o faz sair de casa à procura de uma oportunidade, sem ela ficam pelas ruas e não mais voltam para o seu lar, pelo orgulho, pelo machismo ainda enraizado na cultura. Há aqueles que optam por morar na rua por se sentirem livres e, mesmo com as dificuldades, o seu corpo tende a se adaptar às situações diversas, passando a se acomodarem na condição em que se encontram, não tedo em sua maior parte uma ambição futura, se resumindo ao hoje, o agora.

As substâncias psicotrópica entram na vida dessas pessoas como um anestésico para o corpo, embriagante da mente e alívio para a alma. O corpo, quando viciado em tais substâncias, passa a ter domínio diante da própria mente, pois a vida passa a ficar em torno de situações que propiciem o uso de alguma delas. O círculo social passa a girar em torno de pessoas que façam o mesmo uso, e assim cria-se uma rotina onde em algum momento tenha que ser ingerido, inalado, injetado alguma substância a qual o corpo já esteja viciado. Tais substâncias são depressoras do sistema nervoso, causam inúmeros efeitos danosos ao organismo e, com o tempo, passa-se a necessitar de outra ainda mais forte, isso porque o cérebro não surte o mesmo efeito depois que se “acostuma”. A dopamina, um neurotransmissor que está relacionado ao vicio, é o mesmo que é liberado quando praticamos atividades as quais gostamos e sentimos prazer. Na pratica, quando estamos fazendo alguma atividade prazerosa, nosso organismo fica cheio de substâncias que proporcionam o estado de bem estar. Com essas atividades pode-se reduzir a necessidade do uso das substâncias psicotrópica.

Diego Frota diz: "Procuro estudar como acontece a substituição dos hábitos danosos à saúde por novos hábitos que passam a ter influência na vida do ser humano quanto a qualidade de vida, relação social e a relação mais importante, a com ele próprio, a mente afetada positivamente tem uma tendência a manter-se mais Sá, ativa e aliviada das sensações contrárias, negativas onde o corpo sente o efeito químico na forma de sensações, emoções que afetam a vida. “Somos privilegiados por tudo que Deus criou, por sermos também criação divina, perfeitos como tudo que Ele fez. Se há mal no mundo, é fruto da mente humana, com tradução filosófica nas variadas religiões do mundo, feitas pelo homem inspirado em Deus, ligando o ser maior e divino no céu ao humano na terra, pela inteligência que nos foi cedida conseguimos chegar além da lua, como podemos com tantas informações acumuladas não resolver os problemas sociais? Será por falta de recursos ou pela falta de conhecimento? É bem mais complexo, o fato é que, quando sonhamos em chegar à lua, fomos muito mais alem, tentemos chegar mais perto dessa vez, chegar próximo dos nossos semelhantes como irmãos que somos".

FONTE:http://moradoresderua.org.br/parceiros/substituindo-o-uso-de-substancias-psicotropica-por-lazer

Escravidão em ferrovia concedida à ALL: detalhes e repercussão


Escravidão em ferrovia concedida à ALL: detalhes e repercussão

Por racismoambiental,

Isolados no meio da Serra do Mar, alojamentos lotados não tinham estrutura adequada (Foto: MH)

Reportagem exclusiva traz mais informações sobre o flagrante de trabalho escravo ocorrido na linha férrea Santos-Mairinque. Isoladas em contêineres no meio da Serra do Mar, vítimas enfrentavam degradância, descaso e ameaças

Por Maurício Hashizume

São Paulo (SP) - O flagrante de trabalho escravo na manutenção da Ferrovia Santos-Mairinque, administrada pela América Latina Logística (ALL), ganhou destaque em dezembro último por dois motivos principais: pela prisão em flagrante do dono de empreiteira menor subcontratada para fazer o serviço e por ter ocorrido nas cercanias da maior cidade do país.

O caso reserva, porém, outros traços e pontos complementares que não vieram à tona na época do ocorrido. Novos detalhes – e o posterior comportamento das empresas e agentes envolvidos – são apresentados nesta reportagem especial da Repórter Brasil, que acompanhou todos os lances da operação.

Ao final da fiscalização, 51 trabalhadores foram libertados pela fiscalização da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo (SRTE/SP), em ação conjunta com a Polícia Civil e com a Secretaria Estadual de Justiça e Defesa da Cidadania (SJDC). Todos atuavam na manutenção de trilhos e dormentes em trecho da ferrovia concedida à ALL que atravessa o Parque Estadual da Serra do Mar, entre Embu Guaçu (SP) e Santos (SP).

O quadro de aliciamento, retenção de documentos, cerceamento da liberdade e condições insalubres e desumanas (marcada pelos alojamentos precários e isolados em contêineres no meio da mata) - pintado pelo delegado Laerte Marzagão na entrevista coletiva convocada no dia da ação – ganha uma dimensão mais concreta nos depoimentos dos trabalhadores.

“A única lei que vale mesmo aqui é a de que o trem não pode parar”, declarou uma das vítimas à Repórter Brasil. O próprio recrutamento das vítimas – boa parte delas vindas de Santo Amaro da Purificação (BA), atraídas, sob ardilosas promessas, por um intermediário da M S Teixeira (quarteirizada da ALL, que contratara inicialmente a Prumo Engenharia) que recebera R$ 50 por cada trabalhador arregimentado – teria sido solicitado, com urgência, para suprir a lacuna deixada por uma outra subempreiteira que perdera espaço na prestação de serviço. Esta última foi preterida por causa da verificação de tombamentos de composições em trechos por ela conservados, sem qualquer relação com as aviltantes condições trabalhistas oferecidas.

“O nosso trabalho garantia o funcionamento de uma das principais vias de circulação de mercadorias que movimenta o Brasil. Mas, assim como nas guerras, só os ´sargentos´ são lembrados. Nós, que estamos na ponta fazendo o nosso serviço, não somos valorizados”, completou outro trabalhador. Os libertados recordaram de episódios em que, para recolocar vagões descarrilados de volta para os trilhos, fizeram intenso esforço físico desde a tarde de um dia até a manhã do outro, sem pausa ou refeição.

Nos dias normais de trabalho, conservadores de vias e auxiliares começavam os trabalhos às 7h e seguiam até às 17h, de domingo a domingo, com supostos descansos de oito dias a cada dia três semanas (22 dias). Se quisessem tirar as folgas asseguradas por lei, contudo, eles eram obrigados a desocupar os alojamentos mantidos pelos empregadores, como confirma outra vítima libertada. ”Fui pedir a folga e disseram assim: ´Se quiser, tire. Mas fora do alojamento´. Eu não tinha onde ficar fora do alojamento. Nem o que comer. A única opção era continuar trabalhando”.

O requinte do aliciamento em Santo Amaro da Purificação (BA) incluiu uma viagem de avião da capital baiana Salvador (BA) até Campinas (SP). Um preposto foi buscar diferentes grupos que chegaram ao longo de agosto de 2010 no Aeroporto de Viracopos. O combinado era de que, cumprida a tarefa, eles também retornariam em transporte aéreo. Além dos migrantes baianos, havia entre os 51 libertados moradores de São Vicente (SP), Embu Guaçu (SP) e outras localidades da região de cumprimento do serviço.

Quando chegaram ao local efetivo de trabalho, deram-se conta de que a situação seria outra. A promessa inicial de salário era de R$ 1 mil, com carteira assinada, por um período seguido de 22 dias de trabalho, seguido de oito dias de descanso. Ao final de mais de dois meses, alguns tinham recebido apenas R$ 680. A insatisfação aumentou em novembro do ano passado. Parte do grupo desistiu de permanecer no local e acabou voltando para a Bahia por conta própria. Outra parte foi deslocada da Serra do Mar para alojamento mantido no centro de Embu Guaçu (SP). Foi lá que a fiscalização encontrou as primeiras vítimas da escravidão contemporânea.

Testemunhos
Na chegada, a equipe de fiscalização foi recebida com uma enxurrada de relatos e informações sobre as situações extremas que tiveram de enfrentar na manutenção da Ferrovia Santos-Mairinque. O tempo médio gasto entre o pátio de alojamentos instalados na mata – próximo à antiga estação de Engenheiro Ferraz, no km 75 da ferrovia – até o meio urbano era de cerca de 4h, por causa das frequentes paradas do trem no caminho.

Muitos relataram ter passado frio e fome. Quando chegaram aos contêineres, alguns dormiram no chão. Para saciar a fome, tiveram de coletar banana verde no entorno para comer. No início, antes da estruturação da cozinha, marmitas chegavam com comida azeda nos alojamentos de Ferraz e de Pai Mathias, outro ponto isolado de abrigo. O banho só deixou de ser gelado na semana anterior à fiscalização, quando foi ligado um gerador movido a diesel. Antes disso, a água era esquentada na lata em fogueiras.

Para completar a situação, testemunharam agressões físicas de Marcioir Silveira Teixeira, dono da M S Teixeira, contra um dos trabalhadores. Era comum, conforme os testemunhos colhidos, que o próprio respondesse queixas com advertências enfáticas de que era “amigo” de policiais locais. Ameaças derivadas da exposição de facões e armas de fogo também foram registradas. Aliás, de acordo com a assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, Marcioir permanece preso.

A falta de assistência em casos de adoecimento também motivou muitas reclamações. A dificuldade para o atendimento médico foi realçada no discurso dos trabalhadores. No próprio momento da fiscalização, um dos empregados, encarregado da preparar as refeições, sofria seguidas convulsões, foi socorrido e levado ao Hospital Geral do Grajaú.

Houve testemunhos também de ocasiões em que, perante a exigência de atestado médico por parte do empregador, trabalhadores se submeteram a consultas em alguns postos de saúde da região, mas não encontraram médicos dispostos a assinar documentos dessa natureza. Durante à noite, houve até quem permanecesse trancado nos contêineres de metal que, dentro ou fora, não respeitavam nenhum padrão estabelecido.

Depois do primeiro contato, a fiscalização seguiu para verificar os alojamentos no meio da Serra do Mar, não sem alguma dificuldade. No alojamento de Ferraz, constatou que a situação descrita pelos trabalhadores era de fato de extrema gravidade. As instalações elétricas não tinham nenhum aterramento. Todo o ambiente oferecia diversos riscos de acidentes, inclusive com risco de morte - seja por queda ou por descarga elétrica. A água consumida e os banheiros utilizados eram inadequados. Não estavam sendo seguidas normas de higiene e de ventilação, sem contar a exposição aos insetos. Por tudo isso, o referido alojamento foi interditado durante a operação.

O custo da comida era descontado; até a parte destnada ao Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) que cabe ao contratante era cobrada à parte. Os próprios empregados recolheram tijolos da estações desativadas para fazer um “piso” na área comum para evitar o contato permanente com a lama. Havia ainda os extenuantes deslocamentos de ida e volta dos trabalhadores, à pé, para as frentes de trabalho no curso da linha, carregando pesadas ferramentas – máquinas, enxadas, marretas, picaretas etc. De acordo com a fiscalização, esses deslocamentos eram de até 14 km. Os resgatados foram acolhidos pela SJDC e depois retornaram para os municípios de origem.

ALL
No primeiro e único comunicado que divulgou sobre o caso até o momento, a principal concessionária envolvida foi categórica em declarar publicamente que o “evento que envolveu a contratação irregular de trabalhadores não contou com a cooperação ou concordância da ALL”.

Em nota, ALL negou cooperação ou concordância; apurações desmentem alegação da empresa (MH)

Depoimentos dados por trabalhadores e pelos próprios funcionários da ALL à Polícia Civil, à fiscalização trabalhista e à Repórter Brasil desmentem essa alegação. Empregados da companhia tinham pleno conhecimento, acompanhavam cotidianamente e até supervisionavam as atividades dos conservadores de via submetidos a condições análogas à escravidão. No alojamento de Pai Mathias, um representante fixo da ALL foi acusado de impedir diretamente o direito de ir e vir dos trabalhadores, impedindo o acesso aos trens, com recursos de truculência e hostilidade.

Vários libertados relataram ter recebido regularmente instruções diretas de funcionários da ALL, inclusive com cobrança de metas de produtividade por parte de representantes diretos da concessionária.

“O que mais chamou a atenção da equipe foi o nível de degradação a que eram submetidos os trabalhadores, aliado à absoluto descaso da empresa ALL. A empresa mantinha profissionais de alto nível nos locais fiscalizados, sendo beneficiária direta da mão de obra desses trabalhadores. Mesmo assim, não tomou qualquer medida para evitar que essa situação permanecesse”, reforça o auditor fiscal do trabalho Luis Alexandre de Faria, que atuou como um dos coordenadores da operação pela SRTE/SP.

A conexão entre as envolvidas é dissecada no relatório de fiscalização. “Pelo contexto probatório e resultado da auditoria trabalhista efetuada, a empresa ALL – América Latina Logística Malha Paulista S.A deve ser diretamente responsabilizada pelas graves situações apontadas; as relações empresariais mantidas pela ALL com intermediadoras de mão de obra, como a Prumo Engenharia Ltda. ou M S Teixeira & Cia Ltda, prestam-se tão somente ao mascaramento do vínculo empregatício direto com a beneficiária final, e devem ser repudiadas e desconsideradas pelo Poder Público”.

Ao todo, foram 33 autos de infração endereçados à ALL, que se apresenta como a maior empresa de logística com base ferroviária da América Latina. O valor bruto das rescisões de trabalho, também dirigido à concessionária, somou R$ 392,6 mil. A ALL, porém, ”se recusou a assumir a responsabilidade pelos contratos de trabalho: as anotações e pagamentos foram feitos em nome da empresa intermediária Prumo Engenharia Ltda.”, segue trecho do relatório de fiscalização trabalhista, que foi encaminhado para outros órgãos públicos como o Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (TRT-2); a Procuradoria Regional do Trabalho da 2ª Região (PRT-2) – Ofício de Osasco (SP); e o Ministério Público Federal de São Paulo (MPF/SP).

Contactada, a ALL não respondeu as questões referentes ao caso formuladas pela Repórter Brasil, enviadas há mais de um mês (18 de janeiro). Uma das justificativas apresentadas foi a de que a longa espera por respostas estava relacionada com a dedicação da empresa à organização de sua convenção anual, que acabou sendo realizada de 27 a 29 de janeiro em um hotel de luxo em Florianópólis (SC). A decoração do evento - pontuado por premiações e apresentações de resultados de 2010 - foi inspirada no Cirque du Soleil e contou com palestra do ex-jogador Zico e presença da ex-participante do reality show televisivo Big Brother Brasil (BBB), Priscila Pires.

Prumo
A Promotoria de Justiça de Embu Guaçu (SP) ofereceu acusação formal contra Marcioir, da M S Teixeira, por redução de trabalhadores à condição análoga à escravidão. A denúncia da promotora Maria Gabriela Prado Manssur à Justiça, datada de 30 de dezembro de 2010, inclui ainda Joel da Silva Santos, gerente de Recursos Humanos da M S Teixeira, e Harley de Paula Silva, gerente regional de obras da Prumo Engenharia, que foi contratada pela ALL e subcontratou a MS Teixeira para a manutenção de ferrovias.

Em nota enviada à Repórter Brasil, a Prumo Engenharia atribui o ocorrido principalmente à qualidade insatisfatória da subsidiária M S Teixeira – mesmo que a nota da ALL tenha classificado a Prumo como “responsável” pelos trabalhadores posteriormente libertados.

Fernando Vaz, que assina o comunicado como sócio-gerente da Prumo, “reitera sua comunicação de repúdio e indignação com relação às denúncias de trabalho escravo e aliciamento de trabalhadores em face da M S Teixeira e seu proprietário Marcioir Teixeira Silveira nas frentes de serviço de manutenção da via permanente do trecho entre Evangelista e Paratinga”.

A Prumo enfatiza ainda os mais de 30 anos de atuação no setor “sem máculas na sua conduta” e explica que a “contratação da empresa M S Teixeira foi feita para reforçar o ritmo dos serviços” relativos ao objeto do contrato firmado com a ALL “a partir de agosto de 2010″. Nas palavras do gerente da construtora, a M S Teixeira teve o seu contrato rescindido no início de novembro “por não ter apresentado o padrão de qualidade exigido”. A subcontratação, completou a Prumo, não é prática constante da empresa.

Mesmo assim, a Prumo sustenta que, após a blitz, “prestou todo apoio e assistência aos ex-trabalhadores da M S Teixeira”. A empresa, que mantém sua sede em Formiga (MG), admite ter arcado com as verbas rescisórias devidas, “por se tratar de responsável subsidiária na esfera trabalhista no que se refere aos direitos sonegados, sendo esta a sua única responsabilidade pelo lamentável fato em questão”. Funcionário da Prumo garantiu à Repórter Brasil, porém, que técnicos de segurança de trabalho tinham vistoriado os alojamentos problemáticos um mês antes da interdição.

Sobre a acusação contra o gerente Harley, a Prumo Engenharia afirma que “providenciará sua defesa em momento oportuno”. Em depoimento gravado no ato do flagrante, Joel, que é gerente da M S Teixeira e também foi denunciado pelo Ministério Público Estadual, fez afirmações que colidem com o posicionamento da construtora.

De acordo com Joel, o acerto entre as duas empresas previa que o alojamento e a alimentação dos empregados ficariam a cargo da Prumo, enquanto a M S Teixeira trataria da contratação e pagamento dos salários, sob monitoramento direto e sistemático do pessoal interno da ALL. O aliciamento de trabalhadores na Bahia, segundo o mesmo, teria sido realizado a pedido e com autorização da Prumo. Apesar do rompimento anunciado para o início de novembro, nenhum trabalhador havia sido devidamente remunerado pelos serviços prestados à M S Teixeira e contratado formalmente pela Prumo no momento da fiscalização.

Na versão de Joel, a Prumo é que vinha descumprindo o contrato entre as partes, com sucessivos atrasos de pagamento. Para ele, o acordo firmado não era o mais adequado do ponto de vista jurídico e estava sendo revisado por advogados. Ele concorda que os empregados deslocados para a manutenção da ferrovia nos alojamentos Ferraz e Pai Mathias estavam em situação precária concordava. Do ponto de vista do gerente da M S Teixeira, a responsabilidade era compartilhada entre as duas empresas

Em depoimento exclusivo à Repórter Brasil, Marcioir confirmou ainda já ter trabalhado como quarteirizado para a ALL em pelo menos outras duas oportunidades anteriores. Há alguns anos, ele atuara no mesmo regime de subcontratação na manutenção de rodovias concedidas à ALL no Rio Grande do Sul. A partir dessa experiência, ele montou a empresa M S Teixeira com outros ex-conservadores gaúchos. Em 2009, a empresa conseguira o seu primeiro contrato em São Paulo, para fazer a manutenção de outro segmento da mesma ferrovia mais próximo ao Porto de Santos (SP).

A troca de acusações não poupa ninguém, mas, em certa medida, as próprias envolvidas deixam escapar alguns dos motivos por trás do flagrante na ferrovia. As afirmações dos representantes da M S Teixeira corroboram a inexistência de idoneidade da própria para prestar serviços do gênero. O pagamento dos salários dos trabalhadores registrados pela M S Teixeira dependia inexoravelmente do repasse anterior da Prumo.

Quanto à Prumo, a frase em letras negras gravada no uniforme laranja (foto acima) usado por um dos libertados ajuda a resumir aquilo que a direção teima em refutar: “Você é responsável pela sua segurança”.

No tocante à ALL - que entrou com recurso no Tribunal Superior do Trabalho (TST) contra ação que pede o fim da conservação terceirizada das vias pemanentes e para a qual a reportagem abriu espaço de manifestação -, a incisiva auto-afirmação também acaba sendo bastante explicativa. O lema escolhido para acompanhar a conhecida marca da companhia não dá margem para muita hesitação: “A gente nunca para”.

http://www.reporterbrasil.org.br/exibe.php?id=1856