ONG associa alta taxa de suicídio entre índios jovens a
problemas fundiários
Agência Estado
A taxa de suicídio entre os índios guaranis é
34 vezes maior que a taxa nacional. Só ano passado 56 indígenas daquela etnia
cometeram suicídio, de acordo com dados do Ministério da Saúde. A maioria das
vítimas tinha idade entre 15 e 29 anos. A pessoa mais jovem da lista era uma
criança, de 9 anos.
Esses números foram divulgados hoje pela Survival International
para lembrar o Dia Mundial da Saúde Mental, que será comemorado amanhã, 10 de
outubro. A organização, que se dedica à defesa de populações indígenas que
enfrentam ameaças, alerta que o problema do suicídio entre os jovens guaranis
está associado à desorganização social, decorrente da perda de suas terras.
Segundo a organização, o caso dos índios
brasileiros não é isolado. Povos indígenas ao redor do mundo apresentam taxas
de suicídio mais altas que a média nacional. No caso brasileiro, o problema
poderia ser reduzido se as terras reivindicadas pelos guaranis fossem
demarcadas.
Ouvido pela organização que tem sede em Londres, o índio Rosalino
Ortiz também associa os suicídios entre jovens aos conflitos pela terra. “Os
Guarani estão se suicidando por falta da terra. A gente antigamente tinha a liberdade,
mas hoje em dia nós não temos mais liberdade. Então, por isso, os nossos jovens
vivem pensando que eles não têm mais condições de viver. Eles se sentam e
pensam muito, se perdem e se suicidam.”
No Mato Grosso do Sul, grupos indígenas que reivindicam terras
estão vivendo em condições precárias à margem de rodovias. As poucas reservas
que possuem estão superpovoadas e são comuns casos de desnutrição e alcoolismo.
A Survival tem feito campanhas para que o
governo brasileiro demarque as terras dos guaranis em regime de urgência.
Também está procurando sensibilizar empresas internacionais para quem deixem de
comprar produtos oriundos de terras reivindicadas pelos índios. Na maior parte
dos casos elas foram ocupadas por lavouras de cana-de-açúcar.
Em Brasília, porém, o Congresso caminha em
outra direção: discute uma proposta de emenda constitucional, a PEC 215, que
retira do Poder Executivo a autoridade para a demarcação de terras indígenas.
Para a Survival, a mudança da Constituição seria um desastre, uma vez que a
bancada ruralista passaria a ter força para vetar ou postergar as
reivindicações indígenas.