sexta-feira, 28 de maio de 2010

Água dos bobos


Água dos bobos


Se a propaganda da mina de água limpíssima em meio a floresta o impressiona a ponto de comprar água engarrafada e achar que está fazendo bem para alguém, você precisa rever seus conceitos.

Há muita gente interessada em convencê-lo que você será mais limpo, mais bonito e até mais ecológico bebendo água engarrafada porque este é um mercado de mais de 10 bilhões de dólares em franco crescimento e baseado em matéria prima muito barata. Se algo nisto o fez lembrar das antigas propagandas de cigarro com barcos a vela e gente bonita, não foi por acaso.

Com a recente queda no consumo de bebidas carbonadas, as grandes engarrafadoras têm se mudado para este mercado promissor. Quando o Seu Zé do bar nos trás uma garrafa de água sem lacre você logo imagina que ele está lhe vendendo água de torneira. Não precisa incomodar-se, a própria Pepsi está fazendo isto. Em 2007 as ações da gigante tiveram uma queda brusca quando veio a público que sua marca Aquafina nada mais era que água de torneira. A única diferença com Seu Zé é que eles podem comprar a máquina que faz um lacre de plástico bonitinho.

Aqui no Brasil a coisa é um pouco pior. A Nestlé comprou todos poços de São Lourenço e não precisa, ao contrário da Pepsi, nem mesmo pagar a conta de água.

De toda forma você está também fazendo mal para você mesmo bebendo a água engarrafada. Como a garrafa é geralmente de plástico, você estará ingerindo disruptores químicos endócrinos que podem bloquear a testosterona, responsável entre outros, pela fertilidade masculina e o desejo sexual feminino. Os ftalatos, usados para deixar o plástico das garrafas e copinhos mais macio também causam problemas na formação de fetos. Leia o volume especial “The Plastic World” da Revista Científica Environmental Research de Outubro de 2008. A Professora Shanna Swan da Universidade de Rochester cunhou o termo “síndrome de ftalato” associado a pênis pequeno e má formação testicular. Até riria do nome da pesquisadora se não tivesse ficado desesperado.

Além do gasto e dos efeitos biológicos, a água engarrafada também desperdiça transporte e combustível. Não precisamos comer arroz do Rio Grande do Sul e frutas de Goiás, posto que todo nosso território é capaz de produzir frutas e grãos. Beber água transportada por caminhão é ainda pior, só se justifica em casos de calamidade pública. Se você não é um refugiado, compre um filtro de cerâmica onde a água ficará por umas horas perdendo o cheiro de cloro e beba uma água saudável, fresca, com flúor, barata para seu bolso e boa para o ambiente de todos.
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Efraim Rodrigues, Ph.D. (efraim@efraim.com.br) é Doutor pela Universidade de Harvard, Professor Associado de Recursos Naturais da Universidade Estadual de Londrina, consultor do programa FODEPAL da FAO-ONU, autor dos livros Biologia da Conservação e Histórias Impublicáveis sobre trabalhos acadêmicos e seus autores. Nos fins de semana ajuda escolas do Vale do Paraíba-SP, Brasília-DF, Curitiba e Londrina-PR a transformar lixo de cozinha em adubo orgânico e a coletar água da chuva.