sábado, 26 de março de 2011

Amanhã pode ser tarde

Amanhã pode ser tarde


A vida, maior presente dado ao ser humano, é uma fonte inesgotável de emoções.

A cada dia experimentamos novas sensações. Boas ou ruins, essas impressões são singulares e distintas. E esteja certo de uma única coisa: elas não se repetem jamais.

Tudo, absolutamente tudo passa. Nem mesmo a mais intensa alegria ou a mais profunda tristeza serão permanentes.

O tempo todo, tudo muda, às vezes, radicalmente, outras vezes, nem tanto, e mesmo assim, independente disso, a história segue seu curso.

E dessa forma a vida vai se desenhando como numa imensa tela de pintura.

Talvez um dia, seremos expectadores de nós mesmos, e assim poderemos constatar, com uma nitidez que não é possível agora, tudo o que pudemos acrescentar aos diversos cenários criados diante de nós.

Será que demos à “tela da nossa vida” o colorido apropriado?

Será que vivemos intensamente todos os minutos concedidos a nós?

Será que fizemos de nossa existência uma história que valha a pena ser contada?

Será que sentimos e experimentamos tudo que nos era permitido?

Será que vivemos o amor em sua plenitude?

Os mais afortunados, desde o primeiro sopro de vida e principalmente após as primeiras lágrimas experimentam a mais sublime das sensações: o amor de seus genitores. Tal sentimento cuja razão não consegue mensurar é tão forte e tão profundo que instala dentro da alma; e certamente, marcará o curso de uma vida inteira.

Outros, não tão agraciados assim, talvez só conhecerão esse sentimento tempos depois, de outras fontes e origens.

Mas fato é que de uma forma ou de outra todos nós elegemos companheiros de jornada, consangüíneos ou não, que ocuparão lugares absurdamente importantes em nossas vidas.

É o se chama de afinidade, algo que não se explica não se controla e não se acaba nunca, independente do que aconteça.

Mas a vida é tão engraçada...

Mesmo sabendo que determinadas pessoas são as coisas mais importantes do mundo, e que os momentos que vamos viver ao lado delas, serão os mais especiais de nossas vidas, muitas vezes deixamos o tempo passar sem que elas estejam ao nosso lado.

Afinal, no decorrer de nossa longa caminhada somos obrigados a fazer tantas escolhas.

Escolhemos tudo desde o momento em que abrimos aos olhos de manhã.

Escolhemos o que fazer, o que vestir, o que comer, onde ir, quem visitar, com quem estar, o que dizer, o que silenciar, o que demonstrar, o que sentir, tudo... Exclusivamente tudo depende de nossas escolhas.

Talvez seria mais fácil se essas escolhas fossem livres.

Muito embora acreditemos que sejamos livres para optar, na verdade, não somos. Em geral nossas escolhas são conduzidas, determinadas e até mesmo, delimitadas sem que ao menos tenhamos consciência disso.

Em cada escolha feita, haverá, implacavelmente, uma outra possibilidade perdida... Certamente restarão palavras por dizer, momentos não vividos, omissões, decepções e incertezas.

E naquele exato momento em que escolhemos isto por aquilo, o tempo nos rouba as alternativas. Tudo sempre foi e sempre será uma questão de tempo...

E o tempo, às vezes inimigo implacável do ser humano, se esvai de forma cruel e silenciosa. E de repente, quando percebemos, ele terá levado consigo aquelas coisas mais importantes de nossas vidas: nossos companheiros de jornada, as pessoas que amamos.

E nesta hora, tudo que era tão rápido, tão urgente, tão importante, deixa de fazer qualquer sentido.

Não há forças para seguir em frente, nem ânimo para continuar... De repente abre-se aos nossos pés um enorme vazio, capaz de engolir nossa própria consciência. Como prosseguir?

Perdemos a fé em nós mesmos, e temos a nítida certeza de que o fim está próximo.

E agora, ironicamente, acredite: só restará o tempo!

Tempo para chorar, tempo para assimilar, tempo para sentir, tempo para pensar, tempo para refletir, tempo para desesperar, tempo para acostumar, tempo para cicatrizar... Enfim: tempo para reaprender a viver diante de uma realidade tão difícil de encarar...

E sem dó ou piedade, o tempo continuará passando... passando...

O mais curioso de tudo isso é que conseguiremos sobreviver. Sempre foi assim.

E por mais incrível que pareça, o tempo terá cumprido sua missão: acalmará a dor... E no lugar dela permanecerá uma imensa saudade, menos desesperada, menos angustiante, menos aflitiva, mais racional.

E daqui há pouco tempo nossas vontades, nossas aspirações, nossos desejos, nossas emoções, nossos sonhos e até nossos momentos presentes farão parte do passado... Também é só uma questão de tempo...

Seja como for, a única coisa que devemos realmente nos preocupar é viver plenamente a beleza desta vida.

Os bons momentos que vivenciamos ao lado daqueles que amamos farão parte de um grande acervo como numa imensa biblioteca; mas com uma notável diferença: o dono da biblioteca só organiza o seu conteúdo; muitas vezes, nem conhece todas as suas obras; já o dono do “acervo da vida” além de profundo conhecedor de cada um dos itens catalogados, já vivenciou cada momento, experimentou cada sensação; e quando quiser, poderá reutilizar todos os dados arquivados.

Recordar é a única maneira de voltar no tempo, e ter uma nova chance de viver de novo momentos que já não podem se repetir. É única forma de reencontrar aquelas pessoas tão importantes e tão especiais que já não estão mais conosco.

Nossas lembranças são capazes de enganar o tempo, criando uma esfera de eternidade, um limite estreito, mas que é só nosso, que se localiza entre a mente e a realidade. Neste pequeno domínio o tempo perde o seu poder, não é capaz de alcançar.

As recordações realmente significativas, nem mesmo a enfermidade consegue exterminar. Certamente elas são eternas.

Felizes daqueles que conseguem chegar ao fim da vida com um imenso banco de dados a recorrer, cheio de informações emocionantes. Se o saldo final for positivo, ou melhor, se os momentos de alegria superarem os momentos de tristeza, pode-se ter certeza, tudo valeu a pena!

Só seremos responsáveis pelo peso dos anos passados e suas conseqüências se eles tiverem transcorrido à nossa revelia...

O que realmente importa é chegar ao final de cada dia com o sentimento de dever cumprido para consigo mesmo, não deixando nada para amanhã.

Lute pelas batalhas realmente importantes, conquiste o que desejar, mas, nunca, em nenhuma hipótese, deixe de estar ao lado das pessoas que ama...

A maior de todas as dádivas, sem a menor sombra de dúvida, é saber viver plenamente, afastado de qualquer remorso ou culpa por uma vida que poderia ter sido diferente. E esteja atento para isso hoje, porque amanhã .... Amanhã pode ser tarde...

FONTE: http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=5551