segunda-feira, 16 de maio de 2011

Sobre o código florestal e a pressão externa

Sobre o código florestal e a pressão externa


Muitos argumentam que o ambientalismo é uma nova forma de colonialismo. De certa forma têm razão, pois os argumentos, os fundos e a ideologia vêm, normalmente, do exterior. Dizem também que países que devastaram seus próprios ambientes naturais não têm moral alguma para criticar o Brasil e outros países que ainda mantêm boa parte de sua cobertura vegetal preservada. Novamente estão certos. O problema é que, a partir dessas duas verdades bem expostas, chegam a uma conclusão falsa: já que os outros países, os desenvolvidos, destruíram o ambiente para crescerem economicamente, nós também temos o direito de fazer o mesmo. É aí que está o engano.

A partir desse raciocínio estabelecem um lógica dual: quem for contrário a esse modelo de desenvolvimento está a favor dos interesses externos que querem impedir o desenvolvimento do Brasil. Ora, o mundo não é tão simples assim. Primeiro, há várias formas de enxergar o desenvolvimento. Segundo, há diversos atores no cenário nacional que são ao mesmo tempo contra o colonialismo e a degradação ambiental. Pensemos, por exemplo, nos conceitos sobre o “viver bem” presentes em muitos culturas indígenas. Entendem que o país pode se desenvolver de outras formas e que a lógica econômica não deve ditar a linha de todas as ações humanas. Afinal, existe algo além da economia.

A chave do problema está justamente na mentalidade colonial ainda muito presente em nossa sociedade. Sérgio Buarque de Holanda tinha razão quando apontou a inércia e a preguiça como traços fundamentais da formação do Brasil. Olhamos para os países desenvolvidos e queremos ser como eles, usar as suas roupas, falar sua língua, aplicar os seus modelos, sem levar em conta as nossas próprias características. É uma imitação rasteira. Um exemplo típico disso são as roupas dos executivos: ternos e gravatas engomados num calor de mais de 40°C realmente faz todo sentido!

Queremos imitar inclusive as maiores idiotices desses países, como a devastação ambiental e até mesmo o imperialismo! Esquecemos, contudo, que nunca seremos os Estados Unidos ou a Holanda, pelo mesmo e simples motivo que eu não serei o George Bush ou o chefe da Igreja Ortodoxa. Somos diferentes na essência e na história. Os próprios renascentistas já tinham percebido a especificidade de cada época e lugar, a especificidade de cada indivíduo. Ora, se é assim, porque insistimos em copiar modelos? Até quando tentaremos ser a Nova Europa? Quando pararemos de querer construir o velho mundo nesse nosso já não tão novo?

Pois bem, os próprios herdeiros dessa mentalidade colonial, os ruralistas, querem agora acusar os que pensam diferente deles de colonialistas. Sérgio Buarque de Holanda, novamente ele, mostrou também como os senhores de engenho se tornaram os novos fazendeiros que, por sua vez, se tornaram os agro-empresários de hoje. Ora, são eles os herdeiros dos privilégios de classe, são herdeiros da espoliação feita aos índios, são eles os que mantêm o estado paternalista e que defendem formas arcaicas de organização social e política para manter seu poder. São eles os herdeiros dos lucros do trabalho escravo, presente ainda hoje em muitas fazendas. E, por fim, são eles que plantam a soja, a cana e criam o gado para atender sobretudo os interesses externos.

Este último ponto merece destaque. Para onde vai a soja plantada? Para onde vai a carne? Sem dúvida não é para a mesa dos brasileiros. Vejam as estatísticas de exportação e as notícias dos jornais. O agronegócio, muitas vezes controlado pelo capital estrangeiro, está de costas para o país. Está interessado no mercado externo, no preço das commodities, e não se importa em ver boa parte da população brasileira ainda na miséria. Ao contrário, quando os miseráveis tentam reclamar, jagunços neles. Procurem saber sobre a violência no campo, é alarmante. Em muitos lugares o Brasil é ainda terra de ninguém, quem manda é o coronel. Sim, esse nome fatídico ainda está presente na vida de muitas pessoas.

O agronegócio é responsável por boa parte da devastação das grandes áreas de vegetação nativa do Brasil. O que é isso? Nada mais é do que a transferência do impacto ambiental. Os europeus querem carne, os chineses querem soja, os estadunidenses querem etanol. Só não querem os enormes impactos ambientais causados por esses cultivos. Imagine só se quantificássemos os danos e cobrássemos por isso? A pecuária brasileira, por exemplo, seria a atividade mais inviável do planeta: tem produtividade baixíssima e consome uma quantidade inimaginável de recursos.

Se fosse para o desenvolvimento do país, se fosse para que as pessoas melhorassem de vida, isso poderia se justificar. Mas o agronegócio gera poucos empregos se comparado em proporção com a agricultura familiar e mesmo com atividades industriais. Além disso promove concentração de terra e riqueza, não considera as necessidades estratégicas do país (como a conservação da água e da biodiversidade) e impede o desenvolvimento de outras formas de produção, tanto através da violência quanto de lobbies. Emperra também o estudo e o aproveitamento da grande biodiversidade brasileira, pois mantém a mentalidade colonial de que o mato é para ser posto abaixo.

Justamente o agronegócio de exportação é que mantém o Brasil quase como uma colônia no cenário mundial. É a velha história repetida tantas vezes, exportamos produtos de pouco valor agregado e importamos outros de muito. Vale a pena? Vale a pena diminuir as áreas de proteção, as matas ciliares – causando assim o assoreamento dos rios? Vale a pena jogar fora boa parte de nossa biodiversidade ainda desconhecida para atender interesses externos e de um poucos barões daqui de dentro?

Não queremos ser colônia nem precisamos imitar as metrópoles. Podemos sim buscar alternativas, criar o nosso modelo, para atender os interesses da nossa população. Queremos um modelo mais equitativo, em que necessidades básicas, como o acesso à água e à comida, a uma moradia digna, sejam atendidas antes de pensarmos em servir outras mesas, cuja fartura foi obtida através da nossa exploração. Não devemos defender o ambiente por causa de pressões externas. Nesse sentido não importam o WWF, o Greenpeace e a opinião pública internacional! É por nós mesmos que fazemos isso.




Geraldo Witeze Jr.
Contatos com ele através do email woitze@gmail.com.