sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Alcoolismo grave problema entre etnias indígenas brasileiras

Alcoolismo grave problema entre etnias indígenas brasileiras






O consumo de bebidas alcoólicas por comunidades indígenas vem se configurando como um grave problema social e de saúde, principalmente pelos danos acarretados, como suicídio, alcoolismo e violência. Soma-se a isso, a escassez de profissionais de saúde especializados e a descontinuidade ou falta de ações de intervenção e prevenção que se coadunem às especificidades de cada etnia indígena ou, no mínimo, sejam voltadas para a população indígena em geral.

De acordo com os dados de 2000 do Ministério das Relações Exteriores, os principais grupos indígenas brasileiros em expressão demográfica são: Tikuna, Tukano, Macuxi, Yanomami, Guajajara, Terena, Pankaruru, Kayapó, Kaingang, Guarani, Xavante, Xerente, Nambikwara, Munduruku, Mura, Sateré-Maué. O que caracteriza uma diversidade sócio-cultural grande, pois além dessas etnias tradicionais conhecidas, existem outros grupos que ainda vivem isolados que não foram contatados, ou até mesmo grupos indígenas semi-urbanos e plenamente integrados às economias regionais.

Artigo publicado pela Revista Psicologia e Sociedade, em 2007, buscou evidenciar a relação entre alcoolismo e violência em etnias indígenas do Brasil, por meio da descrição e análise dos principais estudos epidemiológicos sobre alcoolismo realizados no país.

Os padrões de saúde e doença nas populações indígenas são balizados pelo tipo de contato com a sociedade nacional. Em 2000, a Fundação Nacional de Saúde - Funasa elaborou um diagnóstico indicando que entre as enfermidades mais comuns nos grupos indígenas brasileiros, está o alcoolismo, em especial, nas regiões nordeste, centro-oeste, sudeste e sul, já que os grupos dessas regiões possuem um histórico de contato amplo com a sociedade.

Outros estudos afirmam que tem ocorrido, nas etnias indígenas brasileiras, um aumento de casos das chamadas “doenças sociais”, como o alcoolismo e a depressão. Este fator faz com que a taxa de mortalidade dos índios brasileiros seja três a quatro vezes maior do que a média nacional brasileira não-indígena.

De acordo com o livro Epidemiologia e Saúde dos Povos Indígenas no Brasil publicado pela Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz, o alcoolismo tem sido considerado uma das principais causas de mortalidade, seja pelo aumento da ocorrência de doenças como cirrose, diabetes, hipertensão arterial, doenças do coração, do aparelho digestivo, depressão e estresse ou como causa de morte por fatores externos como acidentes, brigas, quedas, atropelamentos, entre outros.

Vários estudos foram feitos visando traçar o mapa do consumo de bebidas alcoólicas por populações indígenas e da correlação alcoolismo-violência. Estes estudos explicitam que a maioria dos autores concorda com a premissa de que o alcoolismo não deve ser visto de uma forma isolada, devendo ser compreendido dentro do seu contexto sociocultural.

Segundo artigo apresentado no Seminário sobre Alcoolismo e DST/AIDS entre os Povos Indígenas, realizado em 1999 pelo Ministério da Saúde, as bebidas alcoólicas sempre foram utilizadas como instrumento de dominação em relação às populações indígenas. O processo de colonização e ocupação territorial nacional, a expansão das frentes econômicas (trabalho assalariado temporário, projetos de desenvolvimento, frentes de extrativismo), têm ameaçado a integridade do ambiente em que vivem as etnias indígenas, assim como seus saberes, sistema econômico e organização social, reduzindo-os a várias formas de extermínio como o aprisionamento, a escravidão e as epidemias. Ainda, segundo a publicação da Fiocruz, dados da literatura nacional remetem a um aumento considerável da violência associada ao uso de álcool, principalmente pela exposição a situações de tensão social, ameaças e vulnerabilidade.

Os autores destacam a importância de historicizar o alcoolismo desde etapas mais remotas, passando pelas dificuldades de sua compreensão e da sua aceitação como doença, até as dificuldades diagnósticas em função da diversidade de grupos étnicos. O que evidencia a necessidade de intervenções específicas, pois a heterogeneidade cultural faz com que a significação e interpretação do alcoolismo e da violência tenham significados diferentes para cada grupo étnico.

Os autores do estudo arrematam, em acordo com as opiniões apresentadas no livro Epidemiologia e Saúde dos Povos Indígenas no Brasil, que se faz importante a união das etnias, entidades assistenciais governamentais e não-governamentais e da comunidade acadêmica universitária para sanar tal problema.

Texto resumido pelo OBID a partir do original publicado pela Revista Psicologia e Sociedade, Porto Alegre, 19(1): 45-51, 2007. ISSN 0102-7182. Editada pela Associação Brasileira de Psicologia Social.

Título Original: Alcoolismo e violência em etnias indígenas: uma visão crítica da situação brasileira.

Texto completo: http://www.scielo.br/pdf/psoc/v19n1/a07v19n1.pdf