domingo, 11 de dezembro de 2011

MPES divulga diálogos suspeitos de comandante da PM e comerciante

Os dois foram presos em novembro, durante a Operação Magogue.
Investigação revelou crimes como pistolagem e formação de quadrilha.


Amanda Monteiro e Vinícius Baptista Do G1 ES, com informações da TV Gazeta


O Ministerio Público do Estado do Espírito Santo (MPES) denunciou à Justiça, nesta sexta-feira (9), o comandante da Polícia Militar de Ibatiba, tenente coronel Welington Virgilio Pereira e o comerciante Eduardo Gomes de Matos. Na tarde desta sexta-feira, o MPES divulgou conversas telefônicas que comprometem o comandante da PM de Ibatiba, no Sul do estado, e o comerciante. Eles estão presos, acusados de assassinato, extorsão e crimes de pistolagem.

Segundo o MPES, a denúncia foi motivada pela quantidade de armas apreendidas com o comerciante Eduardo Gomes de Matos, que foi preso em novembro, no município de Iúna, também na região Sul, e era ligado ao comandante da PM, tenente coronel Wellington Pereira, que também foi preso. Por meio de investigações, o Ministério Público descobriu que os dois agiam juntos para cometer os crimes.

Uma das conversas divulgadas é uma ligação entre os presos, depois que a Polícia Civil apareceu no armazém do comerciante e o levou para a delegacia. O comandante se mostrou nervoso ao saber da descoberta da polícia.

Welington - "O cumpadre, eu passei aqui na rua e me disseram que tinha umas viaturas perto do seu armazém aí, o que ta havendo aí, fala aí veio"

Eduardo - "Tá todo mundo aqui,(...) nós estamos todos na delegacia"

Welington - "Mas por quê?"

Eduardo - "Busca e apreensão"

Welington - "De quê?"

Eduardo - "De armas, essas coisas, né"

Welington - "Mas não tinha nada lá não, é? Ou tinha?"

Eduardo - "Tinha. Você tá onde?"

Welington - "Eu estou aqui na rua, você está dependendo de alguma coisa da gente aí?"

Segundo o MPES, Eduardo responde que não.

De acordo com os áudios, quando o comerciante foi preso, o tenente coronel ainda tentou melhorar a imagem do acusado com um colega policial.

Welington - "Como tá a situação aí?"

Policial - "Ta pesada porque tem duas armas de porte restrito"

Welington - "É, poxa vida, ele é um cara bom, mas gosta desse negócio, rapaz", disse.

Depois de preso, o comerciante ainda alertou a sogra, por telefone, para esconder as armas que estavam na casa dela. Ele sabia que a polícia já estava se encaminhando para a casa dela.

Eduardo - "Tira essas coisas e põe tudo no quintal aí, que a polícia vai na casa da senhora"

Sogra - "Como vou fazer isso sozinha, Eduardo?"

Eduardo - "Faz rapidinho aí. Tem uma arma aí, uma da capa preta, uma espingarda da capa preta grande. Deixa só ela, entendeu? (...) Deixa correndo aí, que a polícia vai chegar".

A sogra teria escondido as outras armas no quintal da casa. Tendo conhecimento dessa informação, os policiais civis voltaram à casa da sogra de Eduardo e ela teria confirmado ter escondido as outras armas nos fundos do quintal, onde várias armas foram apreendidas pela polícia.

Advogado diz que há cerceamento da defesa do tenente coronel
A defesa do tenente coronel Welington Virgilio Pereira afirma que, até esta sexta-feira (9), nem ele nem os outros presos foram interrogados pelo Ministério Público. Segundo o advogado Adenir Gomes de Oliveira, na segunda-feira (12), ele vai entrar com pedido de habeas corpus do tenente coronel e de mais três policiais presos.

"O que está havendo é um cerceamento da defesa. Entendemos que a prisão temporária é desnecessária. É arbitrária e está servindo a outros interesses que não apurar um crime. Na hora que abrir o sigilo das investigações, vocês terão noção dos absurdos que estão sendo feitos pelo MP", afirma.

Segundo o advogado, foi dada uma interpretação equivocada às interceptações telefônica. Ele afirma que "conversas comum entre autoridades foram interpretadas como tratavtivas de organização criminosa". Ou seja, para o advogado, palavras simples foram interpretadas como códigos para despistar um suposto esquema, que trataria de proprina, de corrupção, como se fosse imediação do coronel.

"Isso é loucura. Se o sigilo for quebrado vocês vão ver que as ligações trataram de assuntos administrativos inerentes ao coronel, onde ele tratava de aumento de efetivo, articulando operações no município e até mesmo fazendo gestão junto ao exército, trazendo um tiro de guerra para Ibatiba. Essas ligações foram interpretadas como sendo provas de crime, como sendo de organizações criminosas. Isso não existe", afirma o advogado.

Sobre a relação do coronel com o empresário Eduardo Gomes de Matos, o advogado afirma que os dois são amigos. "Se o Eduardo cometeu algum erro, não quer dizer que os amigos também cometeram. Ninguém acredita que ele seja culpado. O tenente coronel Welington está sendo vítima de uma perseguição", afirma.

O G1 deixou recado na caixa postal do celular da defesa do empresário Eduardo Gomes de Matos, mas o advogado não retornou às ligações.

Entenda o caso
Segundo o Ministério Público do Espírito Santo (MPES), a operação Magogue teve início a partir das investigações de um inquérito policial de 2010, instaurado para apurar a morte de um suposto traficante de drogas, encontrado morto em um cafezal, com indicíos da execução por parte dos policiais militares. Foram requeridas diversas interceptações telefônicas e vários pedidos de mandados de busca e apreensão e prisões temporárias foram deferidos, inclusive de policiais militares, entre eles o tenente coronel Welington Virgilio Pereira.

Após as prisões, vítimas do esquema de extorsão foram até a Delegacia de Iúna, no Sul do estado, e denunciaram como agiam os envolvidos. Durante as investigações, outros crimes surgiram, como fraude, a licitação, lavagem de dinheiro, depósito de armas ilegais, sonegação fiscal, desvio de bens do pátio do 14º Batalhão da Polícia Militar, entre outros, que ainda estão sendo investigados pelo Grupo Especial de Trabalho Investigativo (GETI), do Ministério Público, e Polícia Civil. Vários crime ocorridos na região de Iúna, nos últimos 10 anos, estão sendo investigados.

http://g1.globo.com/espirito-santo/noticia/2011/12/mpes-divulga-dialogos-suspeitos-de-comandante-da-pm-e-comerciante.html