RAPOSA SERRA DO SOL – Índios do Flexal aprovam mini hidrelétrica
Por racismoambiental,
VANESSA LIMA
As cerca de 40 lideranças indígenas da reserva Raposa Serra do Sol que participaram da consulta formal realizada pela Companhia Energética de Roraima (Cerr), na comunidade do Flexal, no Município de Uiramutã, se mostraram favoráveis à implantação de uma Mini Central Hidrelétrica (MCH) na região. Foram três dias de discussões, de sábado até segunda-feira, 24, em torno da construção que faz parte do projeto especial do programa Luz Para Todos, do governo federal.
Durante o encontro, os técnicos da Cerr e da Eletrobras discutiram com as lideranças as vantagens da construção da MCH. As principais são reverter o impacto ambiental de combustível fóssil e garantir energia elétrica limpa e produtiva 24 horas.
Esta foi a segunda consulta realizada com as lideranças da reserva com o objetivo de se chegar a um consenso sobre a aceitação ou não da construção. Em dezembro do ano passado, vários órgãos e entidades ligadas ao assunto se reuniram com os indígenas, mas não se chegou a um entendimento.
Segundo a presidente da Cerr, Conceição Escobar, existem duas propostas de projetos especiais para a construção de MCHs em Roraima. A outra ficará na reserva São Marcos, em Pacaraima, na fronteira com a Venezuela. A consulta pública junto às lideranças indígenas da região ocorreu no início de dezembro do ano passado e a proposta também foi aprovada.
Na reserva Raposa Serra do Sol, a Mini Central Hidrelétrica deverá ser construída no rio Uailan, na cachoeira da Andorinha, em Uiramutã. Aproximadamente 41 comunidades indígenas deverão ser beneficiadas. Na reserva São Marcos, a unidade energética ficará em Pacaraima, no rio Surumu. Estima-se que 34 comunidades indígenas sejam beneficiadas.
Com a aprovação da continuidade dos estudos para a execução da obra, o próximo passo será apresentar o resultado das consultas realizadas no Estado ao Ministério de Minas e Energia. A presidente da Cerr tem uma reunião marcada ainda esta semana no órgão.
Após isso, será feita a captação na Eletrobras dos recursos para a execução dos empreendimentos. Os valores ainda estão sendo estudados, mas estima-se que cada Mini Central Hidrelétrica mais o sistema de distribuição ficarão orçados entre R$ 10 a R$ 15 milhões.
Os dois projetos, segundo Escobar, estão na mesma fase, o de licenciamento ambiental das regiões. Em seguida, será feito o georreferenciamento das comunidades, a elaboração do projeto executivo das redes, o cadastramento das famílias a serem atendidas, a aplicação do questionário do Luz para Todos e o de aptidão agrícola, dentre outros.
Ainda não foi fechado o cronograma fixo de construção das mini hidrelétricas. O contrato inicial com a Eletrobras fixa até o mês de dezembro de 2011 a finalização das obras, mas Conceição Escobar diz acreditar que o prazo será prorrogado.
Presidente da Cerr afirma que os impactos serão reduzidos ao mínimo
As vantagens da construção das Mini Centrais Hidrelétricas (MCHs) vão desde melhoria de vida às comunidades até o desenvolvimento das localidades com incentivo ao ecoturismo e o lazer. Mas, em contrapartida, existe a preocupação ambiental e a mudança de uma cultura dos indígenas que vem de séculos, pontos estes que, conforme a presidente da Cerr, Conceição Escobar, serão minimizados da melhor maneira possível.
Como são usinas a fio d’água, as mini hidrelétricas não terão barragens, por isso não haverá a preocupação em desviar o leito dos rios ou causar outras mudanças drásticas no meio natural das localidades.
“Outro desafio são as mudanças de mentalidade. Os indígenas vão sair de uma cultura do uso do óleo diesel para terem energia limpa por meio de uma mini hidrelétrica. Os benefícios são vários, estaremos inserindo essas comunidades nesse processo de acesso à energia elétrica”, disse Conceição.
Ela lembrou que a Raposa Serra do Sol e São Marcos possuem escolas, postos de saúde, laboratórios de informática e outras instalações que necessitam de energia para refrigeração de alimentos e medicamentos, principalmente. Na maioria das comunidades não há energia e, nas demais, a luz vem de geradores a diesel que funcionam apenas uma parte do dia.
“A Cerr assumiu esse compromisso junto às comunidades. Vamos fazer esforço máximo para tornar isso concretizado, porque nossa dificuldade é muito grande para manter funcionando as comunidades indígenas com geradores, principalmente em atender com combustível as comunidades de difícil acesso”, destacou a presidente.
CIR é contra construção de mini hidrelétrica
Em nota enviada à Folha, a coordenação do Conselho Indígena de Roraima (CIR) informou que remeteu à presidente Dilma Rousseff (PT) manifestação contrária das comunidades indígenas à construção da hidrelétrica Cachoeira do Tamanduá, no rio Cotingo, e também da intenção de construção das Mini Centrais Hidrelétricas, especialmente na terra indígena Raposa Serra do Sol.
O coordenador do CIR, Dionito Souza, diz na nota que a entidade não pode tomar decisões contrárias das comunidades indígenas vinculadas à entidade. “O CIR não se nega a dialogar. No entanto, não tem autorização das comunidades para tratar do assunto. As próprias comunidades estão discutindo suas prioridades, sem conflitos, buscando alternativas econômicas, que não venham atentar contra a natureza”, destacou.
A nota informa ainda que o assunto será discutido junto a lideranças da Raposa Serra do Sol e outras terras indígenas durante a Assembleia Geral dos Povos Indígenas, que será realizada de 11 a 15 de março na comunidade do Barro, na região do Surumu.
“Por isso, a referida consulta formal sobre a implantação do projeto especial do programa Luz Para Todos, que ocorreu de 22 a 24 desde mês, no Município de Uiramutã, para nós não atende os requisitos legais, pois não estão todas as comunidades indígenas da Raposa Serra do Sol”, afirmou Dionito Souza.
Deputado afirma que recursos deveriam atender todos os segmentos da sociedade
Mesmo não sendo contrário à construção das Mini Centrais Hidrelétricas (MCHs) nas reservas indígenas, o deputado federal Paulo César Quartiero (DEM) disse que, ao invés de beneficiar um segmento da sociedade, o investimento deveria ser feito para sanar a instabilidade energética que é uma realidade de todo o estado. O parlamentar defende que a prioridade seja a hidrelétrica de Cotingo.
“Não sou contra, os índios merecem, mas eu acho também que se produzisse energia para toda a cidade, beneficiaria os índios, ou seja, para toda a sociedade e não apenas para um segmento. Precisamos construir uma matriz energética para todos, isso se chama democracia. Enquanto isso, ficamos dependentes da Venezuela. Como é que vai se industrializar Roraima? Como vamos ter competitividade para desenvolver o estado? Energia é vida, progresso e civilização”, destacou Quartiero.
(Fonte: Jornal Folha de Boa Vista, de 25 de janeiro de 2011). Enviada por Ricardo Verdun.