quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A discriminação contra os pequenos indígenas

A discriminação contra os pequenos indígenas
SÍTIO FUNAI, 20.11.2010
O POVO-CE

Até hoje as crianças Tremembé têm cerimônia de se apresentar como índio, porque ainda sofrem discriminação. Falar de índio é sempre aquela imagem que passam na televisão, índio nu, pintado. Esse racismo, de mangofar da gente, ainda não acabou-se, ainda existe muito e a gente sofre muito isso no dia a dia.
O preconceito se manifesta de várias maneiras: é aquela chateação, aquela mangofa. Nós fomos obrigados a criar uma escola diferenciada porque as crianças indígenas eram criticadas pelos próprios amigos de sala. Eles perguntavam: quantos calangos vocês comeram hoje? Já tomaram o caldo do calango? A própria escola obrigou a criar uma escola diferenciada, que nasceu embaixo de um coqueiro e de um cajueiro; mas hoje estamos numa escola de qualidade.
A nossa escola é diferente em todos os modos, desde a hora de chegar na escola. A criança não indígena tem que ter a farda, sapato, livros, material senão não entra. Na nossa se o menino chegar com os pés descalços é recebido, se chegar atrasado é recebido. A história que ele aprende é a vivência do seu povo, é voltada para a questão cultural do nosso antepassado. Todo dia ele dança o ritual sagrado. Não tem onde escapulir, é tudo diferente.
Por tudo isso tem que ter escola indígena. Se a criança indígena sair e for para a escola tradicional ela se perde, porque o ritmo é outro. Na nossa, os professores, por serem da comunidade, têm mais compromisso, responsabilidade.
O impacto do preconceito é muito ruim nas nossas crianças, porque elas ficam receosas; às vezes ficam com vergonha de se apresentar como índia porque vão mangar, vão chatear. Ficam com cerimônia. Isso é um desrespeito muito grande. Mas vejo que a maioria das pessoas que faz isso é gente que não sabe nem de onde veio, que se aboleta por aqui, que não conhece a história de originalidade do povo Tremembé.
Apesar de tudo, no atual momento, o preconceito está moderado mais um pouco porque as escolas hoje estão fazendo um trabalho de pesquisa dentro das escolas indígenas, mas a situação já foi muito pesada. Hoje os professores trazem seus grupos de alunos para pesquisar as escolas indígenas, o ensino diferenciado. Isso traz um pouco de tranquilidade. Hoje já tem um reconhecimento muito grande por parte das instituições, do Estado, dos governos, graças à luta do nosso povo.
A lei chega tarde porque os primeiros habitantes do Brasil foram os índios, mas de qualquer forma ela faz um aparo que era para ter desde muito tempo e para se trabalhar melhor isso, é
preciso uma política para a questão indígena, na educação, na saúde....
E para acabar com racismo só vejo como saída a divulgação da história dos povos, que o índio foi gerado da mesma forma, até ainda mais amorosa. O índio tem seus idiomas, sua cultura própria - não copiada de ninguém -, respeita a natureza. A gente tem esse respeito, de zelar, respeitar e amar a mãe natureza.
Hoje os professores trazem seus alunos para pesquisar as escolas indígenas, o ensino diferenciado
João Venâncio Cacique e mestre da Cultura Indígena Tremembe

Fonte: Clipping da 6ªCCR do MPF.