terça-feira, 5 de junho de 2012

O verdadeiro significado do sexo, por Dietrich von Hildebrand – Parte II

O verdadeiro significado do sexo, por Dietrich von Hildebrand – Parte II



O amor é uma resposta ao valor. Por esta expressão, que talvez não seja familiar ao leitor, entendemos os atos pessoais que se motivam pelo valor intrínseco do objeto, em contraste com as atitudes originadas pelo simples aspecto subjetivamente satisfatório de um bem.

(…) Em resposta ao valor, o homem amolda-se àquilo que é importante em si mesmo, a um bem que é dotado de valor. Aqui ele está interessado em alguma coisa, não porque esta lhe satisfaça algum apetite ou porque seja um bem para ele mesmo, mas por causa da sua beleza e bondade intrínsecas. Uma típica resposta ao valor é o ato de vontade mediante o qual nos amoldamos ao apelo moral, obedecemos à lei moral. Não obstante, as respostas ao valor não se restringem à esfera volitiva; encontram-se também na esfera afetiva, como o entusiasmo, a admiração e, sobretudo, o amor.

O amor é uma resposta a uma pessoa que nos comoveu o coração pelo belo e precioso da sua personalidade. O amor é uma resposta ao valor.Quando amamos alguém, esta pessoa permanece preciosa, nobre e louvável para nós. Se alguém nos é somente útil ou somente nos diverte, não podemos amá-lo. Podemos ‘gostar’ dele. Quando amamos, temos necessariamente consciência de que o ente amado é louvável, de que nos merece o amor. O amado sempre é não só um amatus, mas um amandus.

Por conseguinte, a ideia de que a pessoa que ama vê o outro como um meio para a sua própria felicidade constitui o mais radical equívoco a respeito do amor.

A resposta que damos à preciosidade e beleza do ente amado manifesta-se no desejo de união com ele, a intentio unionis, e no interesse pela sua felicidade ou bem-estar, a intentio benevolentiae.

Vejamos primeiro a intentio unionis. Todo e qualquer amante deseja unir-se à pessoa amada. Amando, não só se lhe busca a presença, não só se busca saber-lhe acerca da vida, das alegrias e sofrimentos, e se nutre o desejo de compartilhá-los de algum modo, mas sobretudo se aspira a uma união dos corações, uma união que só o amor recíproco pode proporcionar.

A intentio benevolentiae, que igualmente é uma sinal fundamental de todo e qualquer amor, manifesta-se no completo interesse pela felicidade, bem-estar terreno e eterno da pessoa amada. Revela-se numa participação singular do seu destino. A intentio benevolentiae, todavia, é mais que o profundo interesse pelo bem-estar da pessoa amada, ou até que o desejo de fazê-la feliz. É o modo bondoso de vê-la, é o sopro da bondade que se encontra no amor mesmo, o próprio elemento que torna o amor uma bondade crescente. No amor, vertemos (por assim dizer) esta mesma bondade na alma do ente amado – acariciamos-lhe a alma.

Após estas referências acerca da natureza do amor em geral, voltemos ao amor entre o homem e a mulher, isto é, ao específico tipo de amor que, como se disse antes, se chamará aqui amor conjugal.

Seria um grande erro crer que as características deste amor derivam do fato de o sexo acrescentar-se ao amor em geral, por exemplo, ao amor de amizade. Falamos já sobre a tentativa absurda de reduzir o amor ao sexo. Não basta, contudo, abster-se dessa superstição; é preciso também ver a diferença básica entre o amor conjugal e os meros instintos sexuais. É preciso também proteger-se do erro segundo o qual a específica categoria do amor entre o homem e a mulher reside na mera combinação de amor e sexo.

Dietrich von Hildebrand foi um filósofo alemão do séc. XX com publicações em Ética, Estética e Metafísica. Também escreveu abundantemente e apresentou reflexões profundas sobre a natureza do amor, o Matrimônio, a pureza e a castidade. Este trecho apresentado é parte do livro ‘O amor entre o homem e a mulher’, com tradução de Carlos A. Nougué. Grifos nossos.

Fonte: http://humanizandoosexo.wordpress.com