terça-feira, 5 de junho de 2012

O verdadeiro significado do sexo, por Dietrich von Hildebrand – Parte III – A diferença e a complementaridade entre os sexos

O verdadeiro significado do sexo, por Dietrich von Hildebrand – Parte III – A diferença e a complementaridade entre os sexos



É verdade que o caráter especial do amor conjugal se assinala pelo fato de este amor não poder existir senão entre homens e mulheres, e não entre pessoas do mesmo sexo, como ocorre com a amizade e com o amor paterno ou filial. Seria porém incrivelmente superficial considerar tal diferença entre homens e mulheres somente como de ordem biológica. Com efeito, defrontamo-nos com dois tipos complementares de pessoa espiritual na espécie humana.

A diferença entre o homem e a mulher não a devemos exagerar nem subestimar. Por vezes, têm-na exagerado grosseiramente; foi caso, por exemplo, de Aristóteles, ao afirmar que o homem é um ser em ato e a mulher um ser em potência. Ademais, têm-se estabelecido, pelos costumes, no decurso de muitos séculos, diferentes padrões morais para a conduta já do homem, já da mulher. Isso é absolutamente falso. Há uma única moral para ambos, e ambos são igualmente pessoas humanas completas. A natureza humana é idêntica em ambos.

Por outro lado, não se deve subestimar nem reduzir só à biologia a diferença entre o homem e a mulher. Há, sem dúvida, traços especificamente femininos ou masculinos da personalidade. Por mais que as feministas de todas as categorias o tentem negar, ou pelo menos reduzir ao mínimo a existência de características pessoais baseadas no sexo, por mais que as mulheres modernas se mostrem ansiosas por eliminar tal diversidade, adaptando o seu comportamento ao dos homens, usando calças compridas e assim por diante, permanece inegável realidade a diferença na estrutura da personalidade do homem e da mulher. Se tentamos delinear estes traços especificamente femininos ou masculinos, encontramos nas mulheres uma unidade de personalidade decorrente do fato de o coração, o intelecto e o temperamento estarem nela muito mais entrelaçados, ao passo que no homem há uma específica capacidade de emancipar-se, com o intelecto, da esfera afetiva. Aquela unidade do tipo feminino da pessoa humana se revela também em maior unidade na vida interior e exterior, uma unidade de estilo que envolve tanto a alma como o comportamento exterior. Na mulher a própria personalidade se situa mais em primeiro plano do que as realizações objetivas, ao passo que o homem, por ter uma criatividade específica, é mais atraído para as realizações objetivas. (…)

O que importa no nosso contexto é compreender, em primeiro lugar, que o homem e a mulher não só diferem na ordem biológica ou fisiológica, mas são duas expressões diversas da natureza humana; em segundo lugar, que a existência desta duplicidade da natureza humana possui grande valor. Ainda que nos abstenhamos, por enquanto, de todas as razões biológicas, bem como da procriação, temos de compreender como o mundo é mais rico por esta diferença, e que de modo algum é desejável que se elimine demasiadamente esta distinção no reino espiritual. Infelizmente, a tendência neste sentido está demasiadamente disseminada nos dias de hoje.

É necessário compreender também que esta diversidade tem caráter complementar específico. O homem e a mulher são espiritualmente determinados um para o outro – foram criados um para o outro. Em primeiro lugar, têm uma missão recíproca; em segundo lugar, mais do que entre pessoas do mesmo sexo, é possível entre eles, por causa desta diferença complementar, uma comunhão mais íntima e um amor mais perfeito.

A sua missão recíproca revela-se tanto num benéfico enriquecimento mútuo como na diminuição dos perigos a que estão expostos os tipos masculino e feminino do ser humano quando se encontram privados desta influência. A inegável influência enriquecedora manifesta-se numa tensão animadora, numa fecundação no plano puramente espiritual.

Quanto à redução dos perigos, pode-se facilmente notar que os homens correm o risco de se tornar vulgares, esgotados ou despersonalizados pelo seu ofício ou profissão, quando estão completamente afastados de qualquer contato com o mundo feminino; e que as mulheres estão sujeitas a se tornar mesquinhas, egoístas e hipersensíveis, quando estão completamente afastadas de qualquer contato com os homens. Por conseguinte, é uma grande bênção para a criança, do sexo masculino ou feminino, receber a influência tanto do pai como da mãe.

Dietrich von Hildebrand foi um filósofo alemão do séc. XX com publicações em Ética, Estética e Metafísica. Também escreveu abundantemente e apresentou reflexões profundas sobre a natureza do amor, o Matrimônio, a pureza e a castidade. Este trecho apresentado é parte do livro ‘O amor entre o homem e a mulher’, com tradução de Carlos A. Nougué. Grifos nossos


Fonte: http://humanizandoosexo.wordpress.com