O LIVRO DA LEI E O SALMO 133
Na Maçonaria, a Bíblia integra os ornamentos de uma Loja, sendo denominada o Livro da Lei, símbolo da vontade suprema, que impõe as crenças espirituais estabelecidas pelas religiões e não se traduz apenas pelo Velho Testamento, mas de acordo com a filosofia religiosa de cada povo. Juntamente com o Esquadro e o Compasso constituem as três Grandes Luzes da Maçonaria.
Segundo o Landmark nº 21, é indispensável a existência do Livro da Lei no Altar dos Juramentos. Pois, Ele contém a verdade revelada pelo G A D U .
As Lojas Simbólicas seguem desde 1717, quando da fundação da Grande Loja da Inglaterra, a abertura dos trabalhos com a leitura pelo Ir Orador de um trecho do Livro da Lei, correspondente ao grau. Na Sessão de Aprendiz o Salmo 133, versículos 1, 2 e 3 é o selecionado, porque encerra significado especial, manifestado no ensinamento simbólico e filosófico da fraternidade. Faremos a interpretação simbólica/histórica/espiritual/esotérica das diversas partes que o compõem.
INTERPRETAÇÃO DO SALMO 133
"Oh! Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união"...
De 586 a.C. a 538 a.C. foi o período da escravidão dos hebreus na Babilônia. Portanto, 48 longos anos de cativeiro. Na primeira frase do Salmo, uma lição se deve colher: soa como um hino de especial expressão em favor da união, porque foi assim que o povo de Israel pode extrair coragem da própria desventura, e, com ela, esperar longamente a hora da liberdade. Ciro, um conquistador que acreditava num Deus justo e bom, em 539 a.C. conquista a Babilônia após 15 dias de cerco à cidade. Conta Heródoto que os Persas chegaram a desviar o curso do rio Eufrates para, usando o leito seco penetrarem na capital.
Após um ano de sua conquista, Ciro expede o decreto no qual autorizava os ISRAELITAS a regressarem à sua terra.
As caravanas foram organizadas. Chegara afinal o dia da partida. Eram agora os peregrinos do retorno, gente de grande fé, alimentada por extraordinário desejo de, voltando, rever a terra abençoada, que amava intensamente. Tomar o rumo do SIÃO. Reconstruir o TEMPLO!
Ao longo da jornada, a alegria abria-lhes o coração e os peregrinos entoavam os cânticos de louvor à liberdade.
Tem início a grande marcha. Os Israelitas vão subir para Jerusalém.
Chefiaram-nos: Zorobabel, Josué, Nehemias, Saraias, Relais, Mardocai, Belsã, Mesfar, Beguai, Reum e Baana. Alimentavam-se da expectativa de agasalharem-se em Israel, à sombra do velho Sião amado.
"...É como o óleo precioso sobre a cabeça..."
A importância do óleo nas cerimônias litúrgicas sempre foi da mais alta relevância. Desde os mais remotos tempos bíblicos, não somente os Semitas, mas todos os povos da antiguidade, utilizavam-se do óleo nos seus cerimoniais religiosos ou iniciáticos para a unção das coisas ou das pessoas. A própria Igreja Católica, nos dias atuais, serve-se do óleo nas cerimônias do batismo, da ordenação sacerdotal, na unção dos enfermos e na consagração dos templos e dos altares.
ÓLEO palavra derivada de OLIVA, é o azeite puro de oliveiras. Ele para ser puro e santificante deve merecer cuidados muito especiais na sua elaboração. É o próprio G A D U que orientou Moisés quanto ao modo de prepara-lo: Mirra pura/Cálamo aromático/Cássia/Canela.
O melhor óleo é o que se extrai da azeitona e somente a colheita a mão, fruto a fruto, proporcionará um óleo fino, precioso e puro. O óleo virgem é obtido a frio, mediante pressão e em moinhos próprios.
Conforme dito anteriormente, o óleo era utilizado para consagrar pessoas ou coisas. A unção descrita no Velho Testamento agia sobre a pessoa de modo a comunicar-lhe o espírito divino, como também a graça da conquista de um estado carismático e a transformação íntima do ungido.
"...que desce sobre a barba, a barba de Aarão..."
O Salmo 133 fala da "BARBA DE AARÃO". Por que essa preocupação, e qual a razão desse destaque?
A barba recebeu dos povos da antiguidade um trato todo especial. Símbolo de masculinidade, afirmação de seriedade, de austeridade, de respeitabilidade. Nos nossos dias ela passou também a ser um símbolo de membros de organizações de tendências políticas e/ou dogmáticas de estruturas contestatórias. Mas, os israelitas, a quem pertencia Aarão, demonstravam especial estima pela barba. Quando se tomava a barba de um amigo e nela se depositava um beijo, demonstrava-se verdadeira amizade por ele. A ofensa pesada e grave era cortar no todo ou em parte, a barba de alguém. O rei Davi quando mandou seus emissários aos Amonitas e estes cortaram-lhes a barba, tomou-se isto como um insulto ao próprio rei, que não teve outra alternativa senão a de declarar-lhes guerra.
Até certo tempo, quando se dava por séria a palavra empenhada tínhamos no Brasil, o costume de oferecer-se, como aval e compromisso de honra, um fio de barba.
A barba fala da personalidade. Tanto que a legislação penal pode considerar como injúria o fato de raspar-se compulsivamente a barba de alguém.( Art.140 do Código Penal).
AARÃO: eis um nome que encontra na Maçonaria especial importância, principalmente por sua menção freqüente quando da leitura do Salmo 133. Tornou-se ele, como que um familiar da Fraternidade.
AARÃO, cujo nome vem do hebraico AHARON, significando monte ou montanhês, filho de AMRAM e JOKEBED, irmão de MOISÉS, nasceu no Egito.
Na presença do povo de Israel, Aarão já demonstrara os dons da palavra pronta e firme. Era orador fluente. Foi quando Deus o fez intérprete de Moisés. Lado a lado com o irmão, Aarão enfrentou o povo, que por diversas vezes se rebelou quando da volta do Egito. A esse homem extraordinário e a Moisés foi cassado o direito de poderem entrar na terra prometida.
Para a Maçonaria, a figura do notável patriarca e profeta deve associar-se ao ideal de paz e de concórdia. Quando os ânimos se exaltam e os irmãos se dividem, transportemo-nos à figura do imponente profeta e extraiamos a essência dos seus exemplos: "AARÃO AJUDANDO MOISÉS ... IRMÃO AJUDANDO IRMÃO."
"...E que desce à orla de suas vestes..."
De especial significado litúrgico eram as vestes daqueles que tinham por missão exercitar atos religiosos, como a unção, o sacrifício e o culto. Veja-se até hoje as vestimentas da Igreja Católica por seus representantes.
Aarão foi ungido com o óleo, este derramado na cabeça desce à barba e daí passa à própria roupa. E diz o Salmo até onde ele atinge: "À ORLA E/OU À GOLA DE SUAS VESTES".
Segundo o Dicionário Aurélio, ORLA significa: tira, margem, borda ou extremidade das saias ou vestidos.
GOLA significa: parte do vestuário, junto ao pescoço ou em volta dele, goela, etc.
Se o óleo vai até a orla significa que molhará toda a roupa. Se atinge até a gola, não se expande pelas vestes. Estas dúvidas são dirimidas, segundo os pesquisadores, no capítulo 29, versículo 21 do Êxodo.
O sentido da unção é duplo, ou seja, ungir também a vestimenta, com o mesmo óleo que vem da cabeça.
Do hebraico encontramos a palavra MIDOTAV, que traduzida é: MIDO significando medidas; TAV suas. Portanto, MEDIDAS SUAS. Então o óleo descia da cabeça para a barba de Aarão e daí até suas medidas.
A expressão "suas medidas" refere-se ao fato do óleo chegar até a orla da roupa do sacerdote que era uma vestimenta talar. Não há, em hebraico qualquer palavra que se possa traduzir por GOLA.
"...Como o orvalho de Hermon, que desce sobre os montes de Sião..."
A união dos irmãos assemelha-se tanto ao óleo da unção de Aarão, como ao orvalho, belo e prodigioso que cobre o monte.
Que é o Hermon? Trata-se de importante maciço montanhoso, situado ao sul-sudeste do antiLíbano. O antiLíbano é a cordilheira que se estende paralelamente ao Líbano, separando-o das planícies de Bekaa. Suas extensões e altura são visíveis a partir do Mediterrâneo, e seu ponto culminante é precisamente o Monte Hermon, com 2841m. de altura; deste ponto pode-se ver um panorama inenarrável: de Tiro ao Carmelo, os montes da Galiléia e Samaria, o Lago de Tiberíades até o Mar Morto, as estepes da Transjordânia e a região dos Drusos.
O Monte Hermon, desde os mais primitivos tempos, depois considerado a fronteira setentrional da Terra Prometida, foi lugar de culto, quando ali se venerava um deus, possivelmente conhecido por BAAL-HERMON.
É indiscutivelmente um símbolo de respeito, principalmente por causa do seu orvalho, que é uma verdadeira benção de Deus.
O Monte Sião: As profecias, dos mais distantes pontos da terra, falam em Paz no fim dos tempos. E, de todos os montes, só o Sião conservará um valor premonitivo. Pois, anuncia-nos no Salmo 133 a era de Paz definitiva entre os homens. Enquanto o Sinai é uma lembrança do passado, o Sião expressa o futuro, os acontecimentos que ainda estão para acontecer, porque ali o G A D U , num grande banquete, reunirá os dispersos de Israel e os estrangeiros. É um símbolo para que se compreenda a reunião de todos os povos.
O Monte Sião simboliza a meta de perfeição e a sua subida, o esforço em prol do melhoramento de cada um. Quando os peregrinos rumaram para Jerusalém vindos da Babilônia tiveram de "SUBIR" , quer no sentido físico-geográfico, quer no sentido religioso-místico.
No alto está a recompensa de quem se esforça pelo progresso. O Sião é o futuro, o que está por acontecer. Entretanto, não será o fim, uma vez que ali estando o G A D U , ali estará a eternidade. Jamais o final. Pois, "NÃO HÁ FIM NO ETERNO".
O Salmo 133 trata da excelência do AMOR FRATERNAL, base dos ensinamentos da Maçonaria Simbólica. Como é bonito, como é agradável, como é confortante, como é suave que os irmãos vivam em união. Essa união ainda é configurativa da unção com o óleo que despejado sobre os cabelos, os une pela força de agregação. Há também o sentido de amaciamento produzido pelo óleo, significando a eliminação de atritos entre os irmãos, para uma convivência unida e fraterna.
Porém, a figuração mais bonita está contida nesta parte: "É COMO O ORVALHO DO HERMON QUE DESCE SOBRE OS MONTES DE SIÃO..." .
O que é o orvalho do Hermon?
Naquela região, da antiga Palestina, quase não chove. Mas existe fenômeno semelhante à chuva, que é o orvalho. Esse orvalho é produzido pela formação de nuvens que vindas do Mar Mediterrâneo, deslocam-se até as colinas de Golam, onde encontram a maior elevação, que é, justamente, O Monte Hermon. As gotículas d'água contidas nas nuvens vão encontrar uma corrente de ar mais quente que as lançam para cima até atingirem grande altura, onde a temperatura está abaixo de zero grau. Aí as partículas se cristalizam e caem sob a forma de neve sobre o Hermon. E o processo continua, ano após ano, século após século, e o Monte Hermon ostenta uma grande e bela geleira.
A luz do sol ao bater sobre a geleira, derrete o gelo, e a água vai escorrendo montanha abaixo até transformar-se numa corrente formando o RIO JORDÃO, o qual leva a vida e a abundancia a todo lugar por onde passa. Foi assim nos tempos bíblicos e é assim nos tempos atuais. Os Israelitas canalizaram o Rio Jordão e transformaram aquelas terras áridas em verdadeiro "ÉDEN" .
E aí está a alegoria histórico-religiosa, modernamente renovada nos "KIBUTZ" de Israel. Confirmando, assim, que: "ALI O SENHOR ORDENA A BENÇÃO E A VIDA PARA SEMPRE" .
Finalizando, Os Salmos, grande parte deles composta pelo Rei Davi, receberam também o impulso do Alto. São cânticos e, preces também. Portanto, quando ele é aberto e lido na Loja, na grandeza mística do silêncio dos irmãos, compenetrados em sua mensagem, é porque todos o estão orando, entoando o seu cântico de louvor ao G A D U , é a nossa prece preparatória.
Sobre a prece, disse o poeta e místico Gibran: "A prece é a canção do coração..." .
Lembramos com tristeza, que na Terra Santa e, em particular, na nossa sociedade crescem, constantemente, o ódio, a violência e a desigualdade social entre irmãos. Perdem-se os referenciais éticos e morais em relação à vida humana e à família. Neste momento, através da interpretação do Salmo 133, experimentamos o desejo grande de convivência fraterna, marcada pelo resgate da dignidade humana e pela reconciliação entre povos, raças e crenças.
Aproveitamos o momento para lembrar a conquista do Pentacampeonato Mundial de Futebol e, sobretudo, dos gestos de dois dos nossos pentacampeões: O Artilheiro da Copa Ronaldo Fenômeno e o do Capitão Cafu. O primeiro, doando ao Instituto Nacional do Câncer todo o prêmio de U$150 mil recebido pela conquista do título. E o segundo, num gesto magnânimo, em pleno auge das comemorações, além de demonstrar humildade, exibindo sua origem paupérrima e seu querido "Jardim Irene" para todo o Planeta, vem amparando crianças carentes através da sua Fundação criada para esta admirável finalidade.
Caríssimos Irmãos, é para Jerusalém que seguem as águas que vêm do orvalho e da neve do Hermon. Então, a amizade fruto dessa mesma união a que se refere o Salmo 133, assemelha-se ao orvalho que tudo fertiliza na aridez das regiões ressequidas. É o mesmo que acontece com a União Fraternal, que, sendo pura e autêntica, fertiliza a aridez da vida, dá-lhe vigor para que germine a Paz, tão ansiada entre os homens. Rogamos ao G A D U , que é Deus, para que se estabeleça o amor, a justiça e a concórdia e, eles reinem eternamente entre nós e possamos, sobretudo, atender o objetivo maior da nossa Sublime Ordem: "O BEM ESTAR DA PÁTRIA E DA HUMANIDADE".
Dentro das nossas possibilidades, devemos imitar os gestos fora de campo dos nossos heróis pentacampeões antes aqui mencionados. Pois, só assim, seremos uma Nação de homens livres e de bons costumes.
Ilhéus, Julho/2002.
Ir Luiz Roberto A. Rodrigues Maia - Gr 4.
A R L S Regeneração Sulbahiana - Or Ilhéus - Ba.
BIBLIOGRAFIA
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A MAÇONARIA E SUA HERANÇA HEBRAICA - Castellani, José - Ed. Trolha -1995
SIMBOLISMO DO PRIMEIRO GRAU - Da Camino, Rizzardo - Ed. Aurora - 1976
MANUAL DO MESTRE MAÇON - Gomes, Manoel - Ed. Aurora - 1969
RITUAL APRENDIZ - GRANDE ORIENTE DO BRASIL - Edição - 2001
A VIDA OCULTA NA MAÇONARIA - C.W. Leadbeater - Tradução: J. Gervásio
Figueiredo - Editora Pensamento - 1969
REVISTAS TROLHA(Números avulsos) - Editora Trolha.
ENCICLOPÉDIA BARSA - Edição - 1967
GRANDES ACONTECIMENTOS QUE TRANSFORMARAM O MUNDO - Reader's
Digest - Livros - 2001
ALMANAQUE ABRIL -Ano - 2001