Você tem medo de sua alma?
Por Simon Jacobson
A religião organizada com freqüência é denunciada pelos cépticos como tendo a intenção de suprimir a lógica e a expressão singular. O mandamento bíblico de “temer a D’us” é especialmente condenado e trivializado como enfatizando demais a lei usada para manter o fiel na linha.
Há uma história bem conhecida sobre o famoso mestre chassídico do Século Dezoito, Rabi Levi Yitschak de Berditchev, que era famoso por sua empatia e caráter não condenatório.
Num Rosh Hashaná ele convidou o vizinho para ir com ele à sinagoga. O vizinho declinou, dizendo:
“Rebe, sou ateu, não acredito em D’us. Seria hipócrita da minha parte pisar numa sinagoga.”
Rabi Levi Yitschak sorriu e respondeu:
“O D’us em que você não acredita, eu também não acredito.”
As palavras hebraicas comumente traduzidas como “temor a D’us” são Yirat Shamayim, que na verdade significam “reverência pelo Céu.” Medo tem muitas implicações negativas de longo alcance. Como companheiro constante, o medo pode ser extremamente doentio, como o terror de uma criança se encolhendo na presença de um pai alcoolizado. Reverência, no entanto, implica mistério e a percepção de algo maior. Quando nos colocamos perante a natureza, ou quando nos deliciamos com a beleza de uma obra prima artística, ficamos em estado de reverência, e na verdade somos elevados pelo conhecimento de que a vida é um presente.
Reverência a D’us é o reconhecimento da distância entre o homem e seu Criador, algo que somente eleva o homem a maiores alturas. De maneira alguma minimiza o desejo humano de atingir a verdade. Pelo contrário, “reverência pelo Céu” evoca o sentimento de dignidade no homem à medida que ele se enxerga como parte do grande esquema da Criação.
Segundo a história favorita do cínico, a sobrinha céptica pergunta ao tio religioso, temente a D’us:
“Diga-me, se você tivesse de escolher entre a verdade e D’us, qual escolheria?”
Sem parar para piscar, o tio responde:
“D’us, é claro.”
Isso serve para alimentar o estereótipo segundo o qual D’us, religião e verdade não são necessariamente sinônimos.
O objetivo do homem é descobrir a majestade dentro do próprio coração e alma. Ele apenas tem de cortar as ervas daninhas, a resistência e as distorções que o impedem de subir acima das suas limitações inerentes. A chave é não se deixar distrair pela vida ou tornar-se vítima das cicatrizes de atitudes subjetivas. As flores vão surgir se as ervas daninhas não impedirem.
Um notável rabino declarou certa vez:
“A tradição judaica ensina o homem quão pequeno ele é e quão grande pode se tornar.”
Não tenha medo de D’us; coloque-se em reverência perante ele. O medo enfraquece o espírito; reverência o fortalece. O medo é desmoralizador; a reverência é elevadora.
Entremeada ao amor, a reverência é a base do Judaísmo com a qual a pessoa pode começar a comunicar-se com D’us e rezar, concretizando um relacionamento com a alma.
Você tem medo da sua alma?