domingo, 3 de julho de 2011

Casamento Perfeito

Casamento Perfeito





“Seus caminhos são caminhos agradáveis, e todas as suas trilhas são de paz.”

Mishlê 3:17

“A Torá foi dada somente para trazer paz ao mundo.”

Maimônides

Exige Esforços – Não Há Exceções!
Os casais mostrados nos filmes de Hollywood estabeleceram um padrão muito elevado. Todos nós temos uma imagem mental de marido e mulher que se adoram, que foram feitos exatamente um para o outro.

Neste casal idílico cada um entende instintivamente os sentimentos do outro, e o romance jamais arrefece. Todos já ouvimos falar que “a vida não é como nos filmes ou nos romances” e reconhecemos a verdade dessa declaração, porém ainda alimentamos a esperança de que talvez possamos ser uma exceção a essa regra…

A realidade é que sim, existem almas gêmeas, marido e mulher que foram feitos um para o outro; porém só isso não garante um casamento suave.

Nenhum casamento jamais sobreviveu somente com paixão e amor. A errônea presunção de que isso possa acontecer infelizmente tem destruído muitos casamentos que poderiam ser salvos. Manter um casamento harmonioso e bem-sucedido envolve esforço, comprometimento e dedicação.

Segundo o Talmud, quarenta dias antes de uma criança nascer, uma voz celestial anuncia a identidade de sua alma gêmea. Embora as almas desses casais predestinados sejam eminentemente compatíveis, isso não significa que seus temperamentos e hábitos combinem. O casamento envolve um esforço constante para assegurar que os lados físico e emocional do casal sejam tão harmoniosos quanto suas almas – que segundo a Cabalá, são na verdade duas metades de uma grande alma.

Os problemas conjugais são especialmente comuns nos primeiros dias após o casamento. No início do casamento, os cônjuges descobrem para sua grande surpresa que os adoráveis anjos que eles desposaram são na verdade seres humanos com falhas e fraquezas. A percepção de que este é um fenômeno normal, e um processo pelo qual todo casal passa e que pode ser resolvido, é animador. Muitos, muitos casais que passaram por essas dificuldades iniciais no casamento compreenderam a “vida real” e conseguiram manter relacionamentos exemplares e amorosos.

As prateleiras de qualquer biblioteca ou livraria estão lotadas de livros dedicados a resolver problemas de harmonia conjugal; muitos deles contendo sugestões e teorias úteis. Nas linhas a seguir tentaremos dar algumas ideias inspiradas em fontes da Torá.

O Esforço Vale a Pena
A Torá confere a maior importância à manutenção de relacionamentos amorosos pacíficos entre marido e mulher. Nenhum esforço é poupado na tentativa de atingir essa meta. Nas palavras do Talmud, “Notável é a paz entre marido e mulher. Pois a Torá diz que [a fim de – esperamos – trazer paz entre um marido e sua esposa 1 o nome de D'us que é escrito em santidade deveria ser apagado em águas [amargas].”2

Outro bom exemplo da alta prioridade conferida a preservar a paz conjugal: sinceridade e integridade, normalmente consideradas como sendo valores invioláveis, são suspensos em prol de assegurar a paz entre um casal. O próprio D'us estabeleceu este precedente. Quando Sarah foi informada de que ela e Avraham seriam abençoados com um filho apesar da idade avançada, ela exclamou incrédula: “mas meu marido é velho!” Quando subsequentemente D'us repetiu suas palavras a Avraham Ele com tato mudou as palavras para “e eu sou velha!”!3

Nossos Sábios dizem que o divórcio de um casal faz o próprio Altar no Templo Sagrado chorar. O Altar é um símbolo nacional que proporcionava expiação a todos de Israel. O choro metafórico do Altar ilustra que quando um casal não pode resolver suas diferenças, é mais que um problema pessoal; é uma tragédia nacional.

O Importante é a Atitude
Quando um casal encontra turbulência durante a sua viagem de vida a dois, o ingrediente chave para resolver os problemas e voltar à viagem traquila é sua atitude para com o desafio que lhes é apresentado. Uma determinação absoluta de fazer o casamento funcionar é vital.

Por que a determinação? Por que não tomar uma atitude de “vamos esperar para ver” – se as coisas funcionarem, ótimo; caso contrário, sempre há outras pessoas solteiras disponíveis no mercado.

A visão judaica sobre o casamento esclarece essa questão. Marido e mulher não são duas entidades separadas; como foi mencionado acima, são duas metades de um todo. Assim, se um cônjuge está demonstrando comportamento irritante ou grosseiro, não é somente problema seu – é um problema a compartilhado por ambos – um desafio deles.

É da natureza humana julgar os outros. Enxergar as falhas de caráter e defeitos do outro nos distancia da pessoa ofensora. A deficiência da outra pessoa é óbvia. Isso não se aplica, porém, às nossas próprias falhas. Nosso amor e carinho por nós mesmos é incondicional e inabalável; não deixamos de amar a nós mesmos só porque estamos aborrecidos ou incomodados por ter feito algo tolo ou impensado. Pensar sobre as nossas próprias deficiências não nos faz perder a autoestima; apenas nos faz procurar maneiras de melhorar. O aspecto deficiente não é óbvio, aquilo que vemos é um desafio que deve ser superado; uma oportunidade de aperfeiçoamento.

É exatamente assim que deveríamos enxergar as falhas do nosso cônjuge.4 Os erros do companheiro deveriam gerar um sentimento de empatia e a determinação de fazer todo o possível para ajudar a pessoa mais importante na nossa vida a ser quem pode e deseja ser.

O casamento vem com obstáculos – e às vezes com montanhas, e por vezes com obstáculos que parecem ser montanhas… Mas D'us não nos apresenta desafios que não estejamos equipados para lidar. Desde que tomemos a atitude de que isto é problema nosso, esses obstáculos são desafios superáveis,não impedimentos.

Passos Práticos
Não há duas pessoas iguais. Cada pessoa é produto de uma combinação de genes, experiências passadas, talentos e potenciais únicos. Assim um relacionamento – que por definição envolve mais de uma pessoa – é sempre uma proposição capciosa; envolve duas pessoas que estão dispostas a aceitar diferenças de opinião e temperamento. Embora isso seja verdade em qualquer relacionamento, a necessidade de aceitar diferenças se torna mais premente quando o relacionamento é abrangente, como o casamento. Acrescente a isso as diferenças naturais entre os gêneros, e fica óbvio que fazer um casamento funcionar exige sensibilidade e sabedoria.

Sim, manter um casamento feliz dá trabalho, mas é isso que torna o relacionamento tão significativo e tão bonito. Faz aflorar as mais nobres das qualidades humanas –o desejo de transcender o próprio ser natural e concentrar-se num bem maior. A capacidade de dar é um dos maiores dons que recebemos. A capacidade de enxergar o quadro geral é a chave para um casamento feliz.

Quais assuntos não são negociáveis, e quais são menos irritantes?

Uma avaliação honesta revelará que a maioria dos problemas que são causa de contenção e discórdia é relativamente pouco relevante. O comprometimento e a capacidade de permanecer concentrado nos assuntos importantes pode solucionar a esmagadora maioria dos “problemas”.

Separe um tempo para trabalhar em prol de seu casamento. Uma segunda lua-de-mel, se possível, é sempre uma boa ideia.

Às vezes, no entanto, o fosso que separa marido e mulher é grande demais para ser transposto com suas próprias forças. Nenhum deles consegue entender as necessidades do outro. A essa altura, é necessário o envolvimento de um terceiro. O ideal é que o árbitro seja um rabino qualificado, uma rebetsin, ou outra pessoa que possua valores de Torá. Sem dúvida, às vezes esta pessoa vai sentir que os problemas levantados precisam do envolvimento de um terapeuta profissional,e neste caso, a preferência deve ser dada a um terapeuta devotado aos ideiais judaicos.

O Envolvimento Alheio
Qual deveria ser a nossa reação quando um amigo ou parente está passando por problemas conjugais?

A Torá nos fornece um brilhante exemplo a seguir. Aharon, o Sumo Sacerdote, é descrito como alguém que “buscava a paz”, um conselheiro matrimonial por excelência. Apesar de suas responsabilidades no Santuário e sua posição de prestígio como Sumo Sacerdote de Israel, ele visitava pessoalmetne os casais que estavam passando por dificuldades conjugais. Tentava dissuadi-los do divórcio, explicando a eles as consequências drásticas de tal ação, consequências que não podem ser vistas de antemão.

Ele também tinha outra tática que costumava usar para aproximar pessoas em conflito. Abordava uma das partes e relatava o quanto o outro estava arrependido. “Ele deseja tanto consertar o relacionamento, mas não tem a coragem de fazê-lo!” Aharon então procurava o outro parceiro e repetia as mesmas palavras… Na primeira vez que se reencontravam os dois se abraçavam colocando fim às hostilidades.

Ora, se alguma dessas táticas irá funcionar num caso em particular depende das circunstâncias específicas envolvidas. A lição, porém, é clara – é nossa responsabilidade fazer tudo que estiver ao nosso alcance para consertar um relacionamento.

Infelizmente, tantos casamentos são destruídos por familiares ou amigos bem intencionados que oferecem conselhos úteis. Eles “se preocupam” tanto e não podem tolerar ver seus entes queridos pasando por tanto sofrimento, portanto aconselham a cair fora. Sofrem junto com seu amigo ou parente e assim reforçam seus sentimentos de amargura.

Por mais difícil que seja, não estamos sendo amigos quando tomamos lados. Estamos na verdade causando danos irreversíveis! Se não temos a dizer nada que possa beneficiar o relacionamento, então devemos manter silêncio.

[A exceção a essa regra é num exemplo em que abuso está envolvido. Neste caso, é uma mitsvá libertar o cônjuge abusado de um ambiente prejudicial. No entanto, antes de intervir, deve-se tomar muito cuidado para ter certeza de que é realmente uma situação abusiva. Se houver dúvida, fale com seu rabino – ou outra pessoa sábia com experiência na área – e deixe que ele ou ela, de maneira imparcial, tome uma decisão.]

Considerações Espirituais
Além das medidas práticas acima mencionadas, há passos espirituais que podem ser tomados para melhorar a harmonia conjugal. Torá e mitsvot são os condutores para bênçãos Divinas; bênçãos que podem certamente ajudar a navegar com sucesso pelas águas freqüentemente revoltas do casamento. Um lar baseado em valores judaicos, estudo de Torá e cumprimento das mitsvot é um receptáculo digno para bênçãos do Alto.

Nossos Sábios ensinam que um casamento não é apenas um relacionamento de um homem e uma mulher, mas que deve também incluir a D'us. Uma alusão a isto é que a palavra hebraica para homem, ish, é a mesma que a palavra hebraica para mulher, isha, com exceção de uma letra em cada palavra. A palavra para homem tem um “yud” e a palavra para mulher tem um “hei”, que são as duas letras que representam o nome de D'us. As letras que eles têm em comum escrevem aish, fogo. A ideia é que um homem e uma mulher juntos são como um fogo. Podem ser intensos, apaixonados, mas aquele fogo também pode queimar e se dissipar. O que faz do fogo uma chama eterna que ilumina e aquece é aquele que tem D'us no seu centro.

Falando praticamente, também, um lar que é devotado a um ideal mais elevado possui automaticamente uma qualidade unificadora. Eleva seus ocupantes a um nivel de altruísmo que é necessário para resolver conflitos – ou evitá-los, o que é melhor.

Existem também algumas mitsvot orientadas para o lar que têm um grande impacto sobre a harmonia conjugal.

Pureza Familiar
O fluxo contínuo de bênçãos sobre um lar judaico depende basicamente do cumprimento das leis da Pureza Familiar.

Um casal cujo relacionamento está passando por tempos difíceis deveria pensar em cumprir as leis da Pureza Familiar em seu casamento. Um casal já observante dessas leis deveria considerar fazer um curso de renovação sobre o assunto. Com o tempo, detalhes vitais podem ser esquecidos ou deixados de lado.

Praticamente, também, as leis da Pureza Familiar impedem que o relacionamento entre marido e mulher se torne murcho e monótono. A separação física ordenada pela lei da Torá permite que o casal renove seu romance e paixão numa base mensal. Mesmo sem os benefícios espirituais oferecidos pela Pureza Familiar, recomeçar o relacionamento com uma “mini lua-de-mel” a cada mês é uma ótima maneira de manter o amor e a harmonia conjugal.Mezuzot

Mezuzot casher proporcionam bênçãos e proteção para todos os ocupantes da casa. No evento de conflito conjugal é aconselheavel assegurar que uma mezuzá casher esteja afixada em cada batente da casa. Se este já é o caso, peça a um escriba para verificar as mezuzot para certificar-se que ainda estão casher. Colocar tefilin todo dia também é um poderoso transmissor de bênção. Eles, também, devem ser entregues a um escriba para uma inspeção minuciosa.

Caridade
Quando somos bons com os outros, D'us é bom para nós. As horas mais propícias para fazer caridade é todo dia antes da prece, e momentos antes de acender as velas do Shabat e das Festas Judaicas.

Relacionamentos Prévios Rompidos
É declarado nos livros sagrados que às vezes o conflito conjugal pode ser uma consequência de relacionamentos anteriores que terminaram com sentimentos residuais amargos. Marido e mulher devem explorar sua história pessoal – houve talvez um noivado rompido ou um divórcio que deixou a outra parte se sentindo enganada ou magoada? Se for este o caso, a pessoa ofendida deveria ser localizada e é preciso apresentar um sincero pedido de desculpas juntamente com um pedido de perdão.

Notas

1 – Veja Bamidbar 5:11-30
2 – Chulin 141a
3- Bereshit 18:12-13; Talmud Yevamot 65b
4 – Na verdade, espera-se que tratemos todo judeu dessa maneira – “Ama teu próximo como a ti mesmo” – pois todo judeu é parte de uma macro-entidade. Isso se aplica especialmente, porém, entre marido e mulher, que compartilham uma alma também no micro-nível.