quinta-feira, 21 de julho de 2011

Nações Unidas revela legislação deficitária no reconhecimento das questões de gênero

Nações Unidas revela legislação deficitária no reconhecimento das questões de gênero
Camila Maciel
Jornalista da Adital
Adital

"Agressões contra mulheres somente ultrapassam o limite doméstico, quando resultam na morte dessas mulheres”. É o que destaca o Relatório Regional sobre as Respostas à Violência de Gênero no Cone Sul, elaborado pelo Escritório das Nações Unidas contra Droga e o Crime (UNODC) com o apoio da ONU Mulheres. Apresentado na última terça-feira (19), o estudo revela que, por não encontrarem uma resposta efetiva na legislação, a violência de gênero muitas vezes é silenciada.

Discriminação, invisibilidade nas estatísticas nacionais e resistência em reconhecer a violência por razões de gênero como uma violação aos direitos humanos. Esse é o tratamento dado à questão, o que ampara as práticas violentas contra a mulher nos países analisados: Argentina, Chile, Brasil, Paraguai e Uruguai. Nesses países, com exceção do Brasil e Argentina, "a legislação não inclui medidas específicas para proteger as mulheres em situações de violência de gênero”, assinala o documento.

Entre 60 a 80% dos casos de violência intra-familiar, a denunciante é mulher, número que chega a 88% no Uruguai. Na Argentina, por exemplo, 86% dos denunciados são homens, o que denota a evidência de que a violência doméstica baseia-se na questão de gênero.

O Chile é o único país, dentre os analisados, que tipifica a morte de mulheres por razão de gênero como feminicídio. Entre 2007 e 2010, identificou, portanto, que 58,9% das mulheres chilenas assassinadas foram mortas pelas mãos de homens com os quais tinham alguma vinculação afetiva. No Uruguai, o número é ainda mais alarmante, 85% das mulheres foram assassinadas em um contexto de violência doméstica.

Nesse sentido, muitos são os desafios apontados no relatório do UNODC. Uma das debilidades destacadas refere-se à legislação que, na maioria dos países, não reconhecem a especificidade das questões de gênero. O Escritório das Nações Unidas critica também a exposição a que são submetidas as mulheres que buscam apoio institucional. Muitas vezes são levadas a buscar diferentes instâncias, tendo que reviver o caso diversas vezes. São, portanto, expostas a processos de re-vitimização.

Como avanço na região, o relatório do UNODC revela que as Delegacias de Mulheres representam a principal porta de acesso à justiça. A contratação de polícias femininas para as unidades especializadas também figuram medidas importantes para diminuir a insegurança e a vergonha por que passam as vítimas no momento de denúncia. Além disso, os cinco países são signatários dos principais documentos internacionais de proteção aos direitos das mulheres.

"Explicitar o componente de gênero como causa da violência”, recomenda o relatório aos países que ainda não adotaram uma legislação sobre violência doméstica, que contemple as desigualdades históricas entre homens e mulheres. Reconhecer que as mulheres são a maioria das vítimas da violência familiar é apontado como passo importante para tornar as legislações efetivas.

Para ler, na íntegra, o relatório: http://www.unodc.org/documents/southerncone/noticias/2011/07-julho/Diagnostico_consolidado_espanol_2.pdf

http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cat=75&cod=58601