domingo, 13 de novembro de 2011

Descendentes de índios colombianos escravizados no ciclo da borracha revelam sua história ao mundo e cobram seus direitos

O Globo


LONDRES - Omarino foi trocado por uma muda de roupas. Ricudo foi o prêmio num jogo de cartas. A história desses dois colombianos veio a público cem anos atrás quando o cônsul britânico Roger Casement os trouxe da Amazônia Colombiana à Inglaterra para revelar ao mundo suas histórias de escravidão. Casement trabalhava no Rio de Janeiro quando foi enviado para investigar as atrocidades da empresa Peruvian Amazon Company e começou a contar a história em seu diário. "O mundo pensa que o comércio de escravos está extinto há um século! A pior forma de escravidão está mais viva do que nunca aqui há 300 anos", escreveu. Agora, Fany Kuiro, da mesma tribo que Omarino e Ricudo, quer descobrir o que aconteceu a seus ancestrais, para que seus espíritos possam descansar em paz, segundo reportagem do "Independent".

Casement escreveu detalhes de uma rotina horripilante de pelo menos 30 mil pessoas escravizadas, torturadas e mortas na região de Putumayo, na Colômbia. "Somos mandados para longe para conseguir borracha e se não conseguirmos, ou se não conseguirmos rápido o suficiente, somos mortos", contou Omarino na época ao "Daily News", um jornal fundado e editado por Charles Dickens.

Os escritos de Casement mostram que ele entregou os dois à família de George Babbington Mitchell, o cônsul britânico em Iquitos, maior cidade da região. Mitchell escreveu a Casement para contar que Omarino tinha encontrado um emprego em um navio e que Ricudo tinha conseguido encontrar sua mulher, mas os dois nunca mais foram vistos.

Muitas tribos amazônicas são consideradas descendentes das atrocidades do ciclo da borracha, povos que fugiram para áreas remotas para escapar da matança que dizimou culturas inteiras.


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