quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Vida, Morte e ressurgimento dos índios Puris


Vida, Morte e ressurgimento dos índios Puris



 

Introdução
Pouco se fala ou se estuda a respeito dos primórdios de Itaperuna, muito menos ainda se comenta, pesquisa ou se escreve sobre aqueles que foram os primeiros habitantes desta região: Os Puris.
Vítimas, desde o inícío da colonização, dos mais diversos aventureiros, tiveram os Puris nos poalheiros a sua mais forte degradação. Eles os exploravam o mais que podiam, pagando com aguardente, a extração de um vegetal chamado poaia, muito abundante em nossa região. Essa bebida exercia grande atração sobre os Puris e, muitas das vezes, em troca da bebida ofereciam aos poalheiros suas mulheres e filhas.

Origem
Descendente dos Goytacazes que, perseguidos, caçados e derrotados, subiram o Rio Muriaé, invadindo a densa floresta virgem e povoando-a até o início do Século XIX.

Índole
O temperamento dos índios Puris, segundo alguns historiadores, era calmo, apático e conformado com sua condição, porém quando enfurecidos, tornavam-se vingativos, não esquecendo uma ofensa.

Características Físicas
Possuíam estatura baixa, entre 1,35m e 1,65m, rosto largo, nariz curto, dentes magníficos, olhos oblíquos. Tinham braços musculosos, pelo de coloração acobreada, cabelos negros e grossos, compridos e abundantes. As mulheres da tribo mediam em torno de 1,40m.

Habitação
Eram construções rudimentares feitas de madeiras e fibras e cobertas de capim, palha ou casca de árvore, ou mesmo folhas de palmito ou brejaúba.
Construídas em terrenos planos e, principalmente sob o abrigo de grandes árvores, sua técnica de construção consistia em fincar duas forquilhas distantes uma da outra e sobre elas atravessar um pedaço de madeira que passava por cumeeira, colocando pedaços de madeira inclinados de um lado, presos a essa cumeeira por fortes embiras ou cipós apropriados para tal fim; esta armação de madeira recebia uma densa camada de capim ou folhas de palmito que ficavam inclinados para um só lado, a fim de permitir o escoamento da água.Tinham por leito a própria terra, cavavam o chão, fazendo nele uma depressão onde pudessem acomodar seu corpo, como se fosse uma cama

Religião
Acreditavam que um ser poderosíssimo e bom os acompanhava.
Tinham seus "pajés" e a eles ficava a incumbência de dirigir as atividades religiosas e rituais da aldeia, cuidar dos doentes e ministrar-lhes medicamentos, transmitir aos membros as poucas lendas e tradições de sua gente.
Acreditavam no feitiço e a eles era reputada, pelas tribos que viviam nas redondezas, a fama de grandes feiticeiros.

Alimentação 
Plantavam, em pequena escala, "fava mangalês", batata-doce, banana e milho. Utilizavam também em sua alimentação, cará branco, mandioca e abóbora que comiam crus ou cozidos.Apreciavam o araçá, ananás, abacaxi, goiaba, mamão e coco de vários tipos, sendo a banana, considerada por eles, fruta nobre. Para eles, o mel representava saboroso alimento.Usavam uma cuia, feita de certos frutos silvestres secos, como a cuité, a cabaça e postados de cócoras, faziam suas refeições.

Caça e Pesca
Da caça e da pesca dependia quase que totalmente sua sobrevivência.
Como técnica de pescaria utilizavam o cipó chamado "Timbó" que,  eles embebedava o peixe.
Usavam um tipo de balaio com tampa e dispositivo para desarmar quando o peixe entrava em seu interior.
Possuíam um método incomum de pescar, que consistia em amarrar algumas minhocas na ponta de uma linha (trazidas pelos aventureiros) e joga-las dentro d'água. Ao sentirem que o peixe engoliu a isca, puxavam a linha de repente e, com ela, vinha o peixe.
A caça também era abundante, nessas paragens como: anta, capivara, paca e outros animais silvestres, sem contar com a grande variedade de aves; muitas vezes, nem as levava ao fogo, comendo-as cruas.
Era crença entre eles que o caçador que abatesse um animal por flechamento não deveria provar de sua carne "para não perder a pontaria".

Dança
A dança era um dos divertimentos favoritos dos Puris e a eles era reputada a fama de grandes dançarinos. Suas danças eram acompanhadas de cantigas que produziam um "alarido infernal", executadas por um grupo de cinco índios; o ritmo variava segundo a finalidade. As danças religiosas eram realizadas em louvor ao "Sol" e aos "Astros", de preferência as "Estrelas".

 Puris Coroados
Casamento
Logo que apareciam nos jovens os primeiros indícios de puberdade, seus pais procuravam tomar as providências para o seu casamento, porém estes não eram arranjados por eles e sim, casavam-se por afeição, levando em conta a inclinação amorosa..

Nascimento
Não existiam parteiras nas aldeias, as mulheres grávidas ao pressentirem o nascimento próximo, dirigiam-se para o interior da floresta e lá, forrando o chão com folhas, davam à luz, inclusive seccionando o cordão umbilical e resolvendo por si todas as complicações que pudesse advir. Fatais eram os casos de bacias estreitas e hemorragias.

Armas
A flecha e o bodoque eram armas muito simples, porém usados com perícia tornavam-se perigosíssimas.

Artesanato
ARTESANATO DOS ÍNDIOS PURIS
Faziam os Puris vários objetos para seu uso, empregando a argila faziam suas panelas e enormes potes, denominados "igaçaba", onde depositavam seus mortos.Faziam também com barro cozido colheres, pratos, potes para água e outros utensílios dos mais diversos formatos, sendo que alguns deles venceram a barreira do tempo e chegaram até os nossos dias.
Utilizavam em seus trabalhos manuais fibras vegetais, madeira e taquara. Com as embiras de imbaúba branca, do tucum e do embiruçu, teciam cordas com as quais faziam suas redes de pescar; com o fruto do cuité, faziam cuias. De madeira faziam os cochos para fermentação de bebidas, assentos e até mesmo gamelas.
Usavam em suas peças pintura primitivista, segundo o seu grau de cultura e na flora e na fauna encontravam o tema para seus trabalhos que, por vezes, representavam grosseiramente desenhos de serpentes, de aves ou de alguma forma geométrica copiada da natureza.


Morte
Foto: Site UENF
A morte atingia estes índios muito cedo, eram raros os que viviam mais tempo. Tinham grande pavor da morte e procuravam evitar assistir a um falecimento dos seus. Por isso, abandonavam os velhos e enfermos no meio da selva, com o fogo aceso, alguns galhos secos de árvore, água e comida.Quando morria alguém na tribo, o sepultamento era feito imediatamente para que os maus espíritos não se apossassem do corpo. O morto, por sua vez, era amarrado e enrolado em cordas feitas de embira e logo, em seguida, era colocado em uma igaçaba que lhe serviria de túmulo, indo com ele sua flecha e seu bodoque, bem como outros objetos que possuíse.


 Os Puris da Serra dos Arrepiados, hoje Serra do Brigadeiro
Os índios Puris eram hábeis pescadores que viviam originalmente no Litoral do Espírito Santo e Rio de Janeiro. No entanto, tiveram que se adaptar às regiões serranas a partir de 1500 em conseqüência da chegada dos portugueses, e a conseqüente escravização, algo que os Puris não suportavam, comum em todas as tribos.
Foi então que se viram forçados a se acuar pelo interior do Brasil. Em uma dessas imersões chegaram à região da Serra do Brigadeiro, um dos seus últimos redutos, antes denominada Serra dos Arrepiados. Encurralados pelos europeus e por algumas tribos indígenas mais selvagens como os Boruns, mais conhecidos por Botocudos ou Aymorés,dominantes do Vale do Rio Doce. A única opção de sobrevivência foi mesmo se adaptar às matas fechadas e ao frio da Serra dos Arrepiados, nome esse dado em referência aos Puris. Em 1680 o Capitão Antônio Raposo de Barretos, em uma de suas “Bandeiras” na caça aos índios, escrevendo ao correspondente comercial no Rio de Janeiro, expressava receio de perder os 40 (quarenta) Puris que seu filho tinha trazido da Serra da Mantiqueira.

Em 1693, outro bandeirante chamado Antônio Rodrigues de Arzão, tendo em uma de suas expedições partindo de São Vicente e passando por Taubaté a procura do Pico do Itacolomi (referência para os bandeirantes em suas expedições pela região do interior de Minas) marchou para a Serra do Guarapiranga com o objetivo de prear índios. Avistou a Serra dos Arrepiados que lhes pareceram mais próximas do que realmente estavam, desceu em sua direção e alcançou o Rio Piranga, onde vagavam alguns índios da naçãoPuri, que lhes deram  notícias da existência de ouro na região do Casca e os guiaram até a Serra dos Arrepiados, alojando-os em uma choça de casca de madeira, denominada Casa da Casca, nome que posteriormente foi transferido ao Rio Casca, o qual conserva até hoje. Nesta ocasião foram recolhidas amostras de ouro e vários índios foram levados.
Com a descoberta do Ouro na região, outros bandeirantes investiram nesta região, porém só a partir de 1780, com a nomeação de D. Rodrigo José de Menezes a Governador da Capitania de Minas Gerais, que realmente começaram o extermínio aos Puris dos Arrepiados. Com a crise do ouro e preocupado em aumentar os campos das minerações, e sabendo da existência de ouro na região da Serra dos Arrepiados, de imediato organizou-se expedições para a região, sendo a primeira datada de Julho de 1780 com permanência de um ano, onde ocorreram várias mortes e escravização de índios Puris. 
A segunda expedição, de Julho de 1781, foi mais desbravadora. Com a vinda do próprio governador e por mando seu, na ocasião fundou-se o Arraial dos Arrepiados (hoje Araponga). Por toda a região foram feitas abertura de caminhos, distribuição de terras e incentivo à mineração e à agricultura. Os conflitos entre índios e brancos se tornaram então cada vez mais freqüentes e contínuos, acarretando então na matança dos índios que não eram, à época, considerados, pelos “invasores”, ou melhor, pelos europeus, donos das terras nem seres dignos de respeito. 
Com isto, viu-se a necessidade de intensificar o processo de “civilização”, criando aldeamentos sem nenhum critério, misturando-se tribos e etnias diferentes, introduzindo, sem nenhum respeito à sua cultura, os valores europeus. Os índios que se rebelavam ou aqueles que não se submetiam a tal, eram caçados e praticamente exterminados através de guerra bacteriológicas principalmente com o vírus da varíola introduzida aos índios através de presentes. Também eram comuns massacres promovidos por soldados do governo e até mesmo o estímulo de guerras entre tribos, além de matanças isoladas, promovidas por fazendeiros, que se viam no direito de eliminar “obstáculos”.
O índios Puris só conseguiram sobreviver por mais tempo devido à sua imersão em matas e serras de difícil acesso, como a Serra dos Arrepiados, que até ao final do século XIX, mantinham-se boa parte de sua cultura e costumes, alguns destes ainda preservados por famílias, que a priori, se dizem descendentes dos indígenas.
Até pouco tempo julgava-se extinta a cultura e o povo Puri, porém, mais recentemente, tem-se notícia da existência de inúmeros descendentes que guardam a língua, a história, os costumes e outros saberes, além de marcarem presença no folclore e no imaginário religioso.

Serra dos Índios Arrepiados
Dança dos Cablocos
A Zona da Mata foi, outrora, habitada pelos Puris e seu último reduto foi a Serra do Brigadeiro, antes denominada Serra dos Índios Arrepiados. Até pouco tempo julgava-se extinta a cultura e o povo Puri, porém, mais recentemente, tem-se notícia da existência de inúmeros descendentes, famílias completas, que guardam a língua, a história, os costumes e outros saberes, além de marcarem presença no folclore e no imaginário religioso. Dentro dessas evidências se destaca o Grupo de Dança de Caboclos “Folguedo dos Arrepiados”, uma das mais importantes marcas da cultura Puri no nosso cotidiano. 
De acordo com pesquisas realizadas, esta dança era praticada pelos próprios índios Puris. Com o passar do tempo e devido a uma forte perseguição à cultura Puri, principalmente as de maior expressão, como as danças e outros rituais religiosos, foram sendo deixadas pelos seus últimos remanescentes, inibidos, e em alguns casos proibidos de cultuar e praticar seus costumes. Daí então, em memória aos Puris, descendentes e remanescentes, começaram a praticar a dança e cantos em forma de folclore, surgindo a popular Dança dos Caboclos que, mais do que uma simples dança folclórica, é um teatro, onde é encenada a história, os costumes e a preparação do jovem guerreiro. São apresentadas em três atos: Dança com Porrete (Lança), Dança com Arco e Flecha e Dança da Trança de Cordas.