domingo, 13 de junho de 2010

Índios Maxacali MG

Aldeia Maxacali em Minas Gerais


YÃMÎY MAXAKALI – UM GÊNERO NATIVO DE POESIA BRASILEIRA



O texto a seguir é um yãmîy maxakali, canto ritual do tatu. O autor é Damazinho Maxakali, aluno do Curso de Formação de Professores Indígenas de MG. O texto foi escrito e traduzido em maio deste ano em curso no Remar.

KOXUT
Koxut hãmkox hu kopa moyõn
Koxut yã hãmkox kopa tokpep
Koxut ãpnîy yîta yãy hi hu xit hã yãy hi
Koxut tute komîy mahã xi kohot xi puxõõy
Koxut yã hãmtup tu yãy hi xi ãpnîy hã
Puxi. Ûkux.
Ûgãxet ax Namãyiy Maxakani.

O TATU
O tatu dorme dentro do buraco
O tatu dá cria dentro do buraco
O tatu sai à noite pra andar e pra comer
O tatu come batata, mandioca e minhoca
O tatu anda de dia e de noite
Chega. Acabou.
Meu nome é Damazinho Maxakali.

Vocabulário:
Ãpnîy – noite
Hãmkox - buraco
Hãmtup – dia
Kohot – mandioca
Komîy – batata
Kopa – dentro
Koxut – tatu
Mahã – comer
Mãmkox – buraco
Moyõn – dormir
Puxi – chega
Puxõõy – minhoca
Tokpep – parir
Ûkux – acabou


YÃMÎY DA PREGUIÇA
XÛÛY
Xûûy atute hãm tu yãy hi ah
Xûûy tute mîxux mûn mãhã
Xûûy amõkaok ah
Xûûy yã pepi yãy hi hu mîxux mãhã
Xûûy pepi xit payã a pepi yõn ah xi xux ah
Xûûy a pepi ûyõg konãg pip ah
Yã tute mîxux kopa xoop konãg hu
Yã ha munha yum pepi
A hitop hu nam tup ah yã yõn putup
Xe’ex hu nãhã xi xux putup xe’ex hu

A PREGUIÇA
A preguiça não anda no chão
A preguiça come folhas
A preguiça não anda depressa
A preguiça anda lá em cima e come folhas
A preguiça anda lá em cima mas não caga e nem mija lá em cima
A preguiça não tem água lá em cima
Então ela bebe a água de dentro das folhas
Ela desce quando quer cagar e mijar


YÃMÎY MAXAKALI – UM GÊNERO NATIVO DE POESIA BRASILEIRA

Mîmtat é o nome em língua maxakali para a Crotalaria Incana, também conhecida como xique-xique. A plantinha produz uma pequena vagem cheia de sementinhas. Como me foi demonstrado por Rafael Maxakali, os índios a apanham no mato e, depois de pedir para que o filho ainda pequeno abra bem a boca, eles a apertam lá dentro de um jeito que faz com que a pequena vagem da mîmtat dê um estalo, uma diminuta explosão, na cavidade oral da criança e pronto. “É para chamar a fala. Para a criança não ficar muda”, diz Rafael. Perplexo, pego a vagem na mão e examino. E pergunto: “As sementes são as palavras da língua?” Rafael sorri e confirma.
Uma dessas sementinhas da vagem da mîmtat é a palavra yãmîy. Uma das palavras mais importantes da língua dos maxakalis, índios que vivem no nordeste de Minas Gerais, precisamente no Vale do Mucuri. São em torno de mil indivíduos vivendo numa reserva pouco maior que cinco mil hectares. Segundo os lingüistas, sua língua pertence à homônima família Maxakali, que por sua vez pertence ao tronco Macro-Jê. Macro-Jê e Tupi são os dois principais troncos lingüísticos indígenas do Brasil. Os maxakalis surpreendem por ainda manterem intacta não só sua língua, mas quase toda sua cultura, incluindo a religião, a organização social, os costumes, etc. Como nos ensinam os antropólogos, são um povo tradicionalmente semi-nômade, caçadores e coletores. Costumavam vagar por ampla área que se estende do sul da Bahia ao norte do Espírito Santo, abrangendo todo o nordeste de Minas. Depois de trágica história de contato com o chamado mundo civilizado, cujo início se registra há pouco mais de trezentos anos, acabaram por ter o território restringido aos limites que hoje se conhecem. São duas as aldeias em que se dividem suas terras: Pradinho e Água Boa. A primeira pertencente ao município de Bertópolis, a segunda, ao de Santa Helena de Minas.
Yãmîy quer dizer “canto” em Maxakali. E também “espírito”. Yãmîy é a concepção central para se entender a cultura e a religião Maxakali. Para o Maxakali o trabalho com a palavra é o cerne da vida, da religião e da cultura. Em sua concepção o ser humano nasce com um koxux (fala-se algo como “kochui” - palavra que na sua língua designa qualquer idéia ou manifestação de imagem: seja um desenho, uma fotografia, a sombra, e a própria alma). Quando morre, o ser humano deve ter seu koxux transformado em yãmîy. Para isso deve-se “colecionar” yãmîys-cantos ao longo da vida. (ALVARES, 1992)
Mais especificamente os yãmîys são cantos sagrados; verdadeiras composições poético-musicais (poemúsicas) cantadas nos rituais.1 Os yãmîys referem-se aos yãmîys (lembremo-nos que a palavra designa tanto os cantos quanto os espíritos). Ou seja, para cada divindade Maxakali há pelo menos um canto correspondente.
Tais divindades incluem desde animas terrestres, como a paca, o tatu; voadores, como o morcego, o gavião, o papagaio; os insetos, como a cigarra; figuras míticas, dentre as quais o mais famoso provavelmente é Inmõxã, fera que caça humanos à noite nas matas, normalmente metamorfoseado em onça; e as almas dos humanos mortos, os parentes (ou xape em Maxakali).
Segundo ALVARES (1986), “a escatologia Maxakali divide a pessoa em dois aspectos: o cadáver – xukxax – ‘coisa morta’ e o espírito vivo – koxuk – que também recebe o epíteto de – yina xe’e – ‘palavra verdadeira’. Para escapar ao seu destino de onça canibal, o cadáver deverá ser cercado por uma série de precauções rituais que inscrevem-se no complexo de ‘abstinência do sangue’. O koxuk transformar-se-á em yãmiy – ‘os donos do canto’ – a Palavra por excelência” (p. 95).
Eu participei de três rituais, ou yãmîyxop como dizem os índios, nas aldeias maxakalis. Xop é partícula que indica plural. Os yãmîyxops são cerimônias religiosas, verdadeiras festas, que envolvem toda a comunidade de uma aldeia. São realizadas para agradecerem aos deuses por uma boa colheita, ou para pedirem uma. São realizados também para pedir a cura de um doente. Nelas se canta uma variedade de yãmîys incessantemente. Durante todo o dia que precede a noite do ritual todos os membros da comunidade de uma aldeia ficam envolvidos com os preparativos do yãmîyxop.
Participei de um yãmîyxop pataxop (papagaio), um yãmîyxop mõgmõka (gavião) e um terceiro, de cujo yãmîy não consigo me lembrar. Ironicamente o que mais me marcou foi justo o qual de cujo yãmîy não me lembro. Foi o que mais me marcou porque neste eu fui uma espécie de convidado especial. Era o meu primeiro ritual e os índios, sabendo disso, me trataram diferentemente, ou deferentemente. Levaram-me para o centro do pátio cerimonial, em frente à kuxex (a “casa de religião”), onde me assentei no chão. Os índios então se colocaram à minha volta em pé e cantavam e dançavam todo o tempo. Já era noite e o céu muito estrelado, mas sem lua, contribuía para que eu não reconhecesse nenhum dos rostos que me circundavam, dentre os quais estavam alguns dos professores que eram meus alunos na disciplina de Português – Leitura e Escrita do Programa de Implantação de Escolas Indígenas de Minas Gerais-PIEIMG em meio a outros índios que eu não conhecia. Como é comum a muitas tradições musicais indígenas, seus cantos são como mantras. Repetidos fortemente à exaustão acabam por criar uma ressonância. Sei que em certo momento parece que nos afinamos à melodia e ritmo de seus cantos. A sensação é parecida a de quando se afinam as cordas de um violão e ouvimos os sons em vibrações diferentes, até que encontramos a afinação correta e os sons passam a ser um só, harmônico.

Da oralidade à escrita
A escrita foi introduzida na língua maxakali por Harold Popovich, missionário do Summer Institute of Linguistics – SIL, órgão norte-americano que patrocina catequeses mundo afora. Popovich conviveu com os maxakalis na década de 60, aprendeu sua língua, e se admirou com sua cultura. Prova disso é o trabalho realizado por ele acerca do vasto mundo dos espíritos maxakalis. Dotados de um método eficiente, em pouco tempo os membros do SIL aprendem a língua de povos tradicionalmente ágrafos, instituem uma escrita, alfabetizam alguns índios e finalmente traduzem a Bíblia, no intuito de arrebanhar mais almas para o Cristianismo. Com os maxakalis, no entanto, isso não se deu. Eles ainda mantêm intacta sua própria religião. Seu complexo panteão vive.
Hoje em dia o lingüista maxakali é Sandro Campos, da Faculdade de Letras da UFMG, e seu propósito é laico.
A Constituição Brasileira, em seu artigo 210, parágrafo segundo, dispõe: “O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas também a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem.” E no artigo 231: “São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.” Com base aí tiveram início em todo o Brasil programas de educação diferenciada para os povos indígenas. Em Minas se criou o Programa de Implantação de Escolas Indígenas de Minas Gerais – PIEI-MG. Como parte do Programa objetiva-se a elaboração de material didático a ser usado pelos índios em suas escolas: cartilhas de alfabetização, livros de Geografia, Matemática, História e naturalmente obras literárias. Esta produção, no caso maxakali, costume ser bilíngüe. E sua literatura, antes exclusivamente oral, agora surge em livros. É assim que vemos nascer um novo e rico acervo literário a ser consumido também pela sociedade envoltória. “O produto final”, revela Maria Inês, “aponta para um modelo de texto cuja leitura demandaria antes os cinco sentidos do corpo, ao invés de um modelo logocêntrico, racional. Existe, portanto, a possibilidade de uma leitura semiótica dos livros indígenas, na medida em que, para os leitores/escritores pataxós, krenaks, maxakalis e xacriabás, pude observar que o texto verbal não tem predominância absoluta na produção de sentidos, como se dá normalmente com a literatura escrita. Podemos sobrepor, ao conceito de livro, o de projeto gráfico, considerando este termo na sua literalidade, livrando-o do peso vocabular técnico: o livro, como projeto e grafias, pode ser desculturalizado, retornando ao seu estado de coisa, para ser recolocado na cultura indígena” (ALMEIDA, 2000: 48).
A língua maxakali é muito rica em poeticidade. Como é sabido, os povos indígenas não operaram a separação, e conseqüente especialização, dos conhecimentos, que idealmente em nossa sociedade se realiza. Em nossa sociedade, quando se quer poesia, procura-se um poeta. Quando se quer música, cabe ao músico apresentá-la. Etc. Nas sociedades indígenas os conhecimentos se inter-relacionam numa malha gigantesca e conscientemente inter-comunicante. Então a poesia se difunde em quase tudo, emaranhada em todos os campos do conhecimento e da expressão, especialmente na língua. A língua maxakali é cheia de repetições sonoras, aliterações, assonâncias, até por ser uma língua essencialmente monossilábica. Metonímias e metáforas enfeitam o discurso maxakali como miçangas num colar. Claro que isto se torna comum para o falante nativo, assim como para nós, falantes do português, muitas vocábulos criativos perderam seu encanto. Mas para um observador externo é diferente. Nietzsche escreveu que as verdades são metáforas desgastadas. Se as verdades nos chegam pelas palavras, o que Nietzsche aponta é muito mais comum que se imagina. Especialmente sobre as metáforas, eu mesmo já apontara em um artigo de pesquisa de Iniciação Científica, de nome “Ideogramaxakali – uma poética da língua maxakali”, a recorrência de vocábulos criativos, pelo menos aos olhos e/ou ouvidos de um não maxakali. Palavras como mîpkox, (“canoa”), que é formada por duas: mim (“árvore” ou “madeira”) e kox (“buraco”). Portanto, a canoa é um “buraco na árvore”. Ou pataxax, que significa “sapato” e é formada por pata (“pé”) e xax (“casca”), dando numa “casca do pé”. O mesmo princípio rege “casca da cabeça” para “chapéu”. Os exemplos são infinitos, ainda mais quando se tomam as nomeações de artefatos industrializados da sociedade envoltória que pela primeira vez adentram a sociedade indígena. “Carro”, por exemplo, em maxakali virou mîptutmõg, unindo três significados: mîp (que já se conhece de mîpkox), tut (“mãe”) e mõg, que é o verbo “ir”. Ou seja, o carro na visão maxakali é algo como uma “casa que anda”. Sem o verbo neste último exemplo tem-se o vocábulo mîptut, cujo significado é casa. “Casa”, portanto, no contexto maxakali, é uma “madeira-mãe”, o que se justifica, pois as casas em seu território são construídas prioritariamente com madeiras retiradas de suas matas; e é mãe provavelmente porque acolhe e protege. Basta usar a imaginação.

Yãmîy como um gênero poético
A poesia yãmîy é originalmente multimídia. No estilo das melhores performances. Um yãmîyxop é um espetáculo que apela aos cinco sentidos. Alguns podem dizer que também ao sexto. Mas essa questão fica para os esotéricos. O que sei é que nos rituais nas aldeias, canto, dança, poesia e teatro são indissociáveis. Dentro do aspecto visual, o figurino também não é menos importante. Cada yãmîy tem sua indumentária, suas cores e formas de pintura, que enfeitam o corpo daqueles que encenam. Ouve-se, canta-se, vê-se, respira-se, tateia-se e degusta-se com intensidade num ritual yãmîyxop.
O tato acontece no contato físico entre os participantes. Há momentos na dança em que se formam grandes círculos em que todos giram abraçados.
O paladar também é aguçado, pois faz parte dos rituais a ingestão de bebida (principalmente café e cachaça – sabe-se que tradicionalmente os maxakalis usavam certo chá cuja composição se desconhece, mas que se perdeu no tempo e foi substituído pelas bebidas acima mencionadas) e comida. O alimento costuma ser servido em caprichados pratos com xuinãg (“arroz”), às vezes pêyôg (“feijão”), xokkakak (“frango”) ou carne de xapup (“porco”) ou mûnûy (“boi”) e mãkãhãm (“macarrão”). Se houver, também kômîy (“batata”), kohot (“mandioca”) e paxok (“milho”). A comida é uma oferenda aos yãmiys, que se satisfazem comendo vorazmente dentro da kuxex, a “casa de religião”.
O olfato, nas aldeias, é estimulado pelo cheiro do mato, da terra, do corpo e da fumaça, principalmente. Há muita fumaça (kuho – “corrô”). Seja impregnando os objetos e as pessoas, uma vez que, recolhidos ao lar, os maxakalis acendem fogueiras praticamente dentro de casa, o que acaba por defumar a tudo e a todos (é característico o cheirinho de fumaça que impregna os objetos maxakalis, seu artesanato principalmente), sejam os cigarros fumados durante os yãmiyxops. A fumaça é sagrada para os maxakalis. É considerada alimento dos espíritos. Por isso se fuma bastante, tanto nos rituais, quanto no dia-a-dia. Fuma-se tanto o kohomanîy (“cigarro preto”, que é o cigarro não industrializado, de palha ou enrolado em papel) quanto o kohopodo (“cigarro branco”, o cigarro industrializado). Koho é “fumaça”, e metonimicamente, “cigarro”. Manîy (“manin”), como já se percebeu, é “preto”, e podo (“pôdô”), “branco”.
Nem Rimbaud, em luta para se libertar das amarras logocêntricas de sua França oitocentista, sonhou algo parecido em seus delírios sinestésicos.
Pode-se pensar no yãmîy como os cantares medievais, composições originalmente compostas para a vocalização, como nos mostra Paul Zumthor. Com a diferença de que, se raras partituras restaram dos textos medievais, dos yãmîy, elas não existem, pois, mais ainda que no medievalismo europeu, nas sociedades indígenas, ágrafas, seus registros são puramente mnemônicos, existindo quase que exclusivamente na memória dos membros da comunidade. Digo “quase” porque já há alguns poucos registros de tais cantos. O Livro de cantos rituais maxakali, por exemplo, além da tradução, traz encartado um CD, gravado nas aldeias de Pradinho e Água Boa, contendo três yãmîys cantados pelos índios. Noutro nível, a Profa. Rosângela Tugny, da Escola de Música da UFMG, realiza pesquisas sobre a tradição musical maxakali, tendo já registrado grande quantidade de yãmiys.
Pode-se dizer ainda que os yãmiys guardam semelhanças com a nossa MPB, entendendo o termo não só como a de estirpe exclusivamente baiano-sambossanovista, mas abrangendo também ritmos tão ou mais profundamente enraizados no Brasil, quanto os nortistas, de fortes vínculos com as tradições indígenas, isto no que tange a união num só produto dos quesitos letra, música, espetáculo. Assim como as canções de MPB, os yãmîys são frutos de pura invenção de seus criadores. Não seguem receitas prontas e são a expressão criativa de um povo sobre sua realidade.
O yãmîy, portanto, não é uma forma fixa, como é o soneto no ocidente ou o haicai tradicional no japão; ambos tendo determinada quantidade de versos, esquema métrico e esquema rímico. O yãmîy não sofreu a ação de nenhuma forja que pretende enquadrar a expressão poética dentro de qualquer molde, como costuma acontecer na cultura de mentalidade tipicamente branca e/ou ocidental. Pode-se dizer que o yãmîy é um gênero natural e verdadeiramente livre.

Transcriando yãmîys – o espírito e a coisa
José Paulo Paes, sobre o fato de não falar e nem ouvir, mas apenas traduzir 12 idiomas, diz: “sou surdo e mudo em 10 línguas”. Eu sou surdo e mudo em Maxakali. Não falo, e nem entendo uma conversação maxakali, mas sento para estudar e, em cooperação com um maxakali, conseguimos traduzir seus textos.
Eu não falo maxakali, mas o que aprendi da língua nestes quase dez anos de contato, muita troca e aprendizado, me permite traduzir, em colaboração com os índios, seus textos e, no caso da poesia, buscar uma transcriação. Ao longo deste período elaborei, e continuo recheando-o, um pequeno dicionário da língua maxakali, que já está em fase de ilustração pelos índios e logo deve ser publicado.
No processo de tradução de yãmîys primeiro são elaboradas versões prosaicas traduzidas palavra por palavra, em colaboração com os índios na reserva. Depois, com calma, busca-se a reprodução dos sons, a musicalidade dos versos, com certo ritmo; tentam-se criar algumas imagens que se compatibilizem com a profusão metafórica natural da língua indígena. E outros elementos que fazem de um texto um texto poético.
A transcriação de poesia é a tentativa, como escreve Haroldo de Campos, de captar o “espírito” do texto poético. Em suas palavras: “…ser fiel ao ‘espírito’, ao ‘clima’ particular da peça traduzida…” (CAMPOS, 1970: 26):

“Numa tradução dessa natureza, não se traduz apenas o significado, traduz-se o próprio signo, ou seja, sua fisicalidade, sua materialidade mesma (propriedades sonoras, da imagética visual, enfim tudo aquilo que forma, segundo Charles Morris, a iconicidade do signo estético, entendido por signo icônico aquele ‘que é de certa maneira similar àquilo que ele denota’). O significado, o parâmetro semântico, será apenas e tão-somente a baliza demarcatória do lugar da empresa recriadora. Está-se pois no avesso da chamada tradução literal” (CAMPOS, 1970: 24).

Assim, o que se pretende no caso de yãmîys é se deixar cair na tentação de captar ou capturar o “espírito da coisa” no texto maxakali; sendo o espírito o significado e a coisa, o significante, para usarmos da terminologia semiótica. Aqui não é o símbolo que determina. É sim o ícone, que indetermina.
Porém, apesar da dualidade, a última coisa que se pretende é dizer que a concepção maxakali se aproxima de qualquer platonismo, do tipo que afirma a superioridade de um modelo, de um ideal, sobre o real, ou do espírito sobre a matéria, e por analogia, do significado sobre o significante. Pelo contrário: mais saudável seria pensarmos em termos de um nietzscheanismo, no que se refere à afirmação do filósofo de que o corpo é o espírito e vice-versa e desta maneira um não sobrepuja o outro, mas antes coexistem no mesmo nível, sendo essencial um para se alcançar o outro. Em resumo, é o equilíbrio que se dá na linguagem poética, de acordo com Valéry que diz que a poesia é une hesitación parmi le son e le sin, aforismo que pode ser assim transcriado em português: “poesia é uma sensação entre o senso e som”.
Vamos a um exemplo:
O yãmîy seguinte foi registrado por Sandro Campos, lingüista da UFMG que pesquisa a língua maxakali.

‘ÕNYÃM
‘õnyãm tuthi xux mãhã
‘õnyãm kutet xux mãhã
‘õnyãm ah hãm tu yãyhi ah
‘õnyãm mîm mõg yîmu yãy hih
‘õnyãm toktet xux mãhã
‘õnyãm ‘ãto kopa mõyõn
‘õnyãm mîm kox kopa mãm hu mõyõn
‘õnyãm a hãm tu mõ ka’ok
‘õnyãm ‘upip ‘uxãm xi pip ‘uxãm ‘oknãg
‘õnyãm nãg upnok xi xepnak um

Numa tradução prosaica temos:

O OURIÇO
o ouriço come folhas de embaúba
o ouriço come folhas de bambu
o ouriço não anda de dia
o ouriço anda em cima do galho da árvore
o ouriço come folhas de mamona
o ouriço dorme dentro do feixe de cipós
o ouriço fica dentro do oco do pau e dorme
o ouriço não anda rápido no chão
tem ouriço que tem espinho e outros que não têm espinho
o ouriço tem rabo e pêlos brancos

No entanto, se se persegue a poeticidade inerente a praticamente todo texto maxakali, e especialmente aos yãmîys, pode-se elaborar algo um pouco diferente.
Vejamos.
Acho que não há o que fazer nos três primeiros versos. Já há inclusive uma assonância espontânea entre “embaúba” e “bambu” e o ddd de “anda de dia” do terceiro verso não é mal. No quarto verso podemos sintetizar “anda em cima do galho da árvore” em “caminha no galho da árvore”, em que os dígrafos nh e lh reverberam-se. O sexto verso, traduzido por “dorme dentro do feixe de cipós” (Sandro explica em pé de página que ‘âto em Maxakali designa “feixe de cipós cujo interior é usado pelo ouriço como abrigo”), pode ser adaptado para “dorme num ninho de cipós”, onde as consoantes nasalizantes m e n, duplicadas, mais o nh, amaciam sonoramente o leito do ouriço. “No oco do toco”, do sétimo verso, reproduz a aliteração do k no verso original, kox kopa, literalmente “dentro do buraco ou oco”. Na língua maxakali, kox aparece, por exemplo, na composição de konãgkox, vocábulo para “rio”, que é a junção de konãg (“água”) + kox (“buraco”). Ou seja, “um oco ou buraco onde corre a água”. Sonora e visualmente, a palavra “toco” acolhe literalmente o “oco” dentro de si. O oitavo verso tenta se comparar, pela aliteração dos ss, em “vai suave sobre o solo”, ao original, também com aliteração, só que em m. O verso seguinte mantém a repetição pip ‘uxãm xi pip ‘uxãm oknãg, que literalmente em maxakali quer dizer “tem espinho e tem espinho pequeno” (oknãg quer dizer pequeno, diminuto), mas apresenta um verso mais sintético e harmonioso: “com espinho e sem espinho”. Por fim, o último verso traduz o quase anagrama do original, entre upnok xi xepnak (xi em maxakali é a conjunção e), em uma rima assonante interna: “rabo” com “claro”.

Sendo assim, temos a transcriação:

O OURIÇO
o ouriço come folhas de embaúba
o ouriço come folhas de bambu
o ouriço não anda de dia
o ouriço caminha no galho da árvore
o ouriço come folhas de mamona
o ouriço dorme num ninho de cipós
o ouriço dorme no oco do toco
o ouriço vai suave sobre o solo
tem ouriço com espinho e sem espinho
o ouriço tem um rabo e pêlo claro

Pode-se dizer que a transcriação aqui se funda no “equívoco” de que fala Eduardo Viveiros de Castro, “uma categoria propriamente transcendental da antropologia, é uma dimensão constitutiva do projeto de tradução cultural próprio da disciplina” (p. 07). Traduzir é sempre contactar o outro, sua língua, sua cultura. E aqui parece que mais uma vez a literatura intuitivamente já sabia o que a ciência viria a descobrir. Pois a literatura já sabia da impossibilidade da tradução, sobretudo a literária. É então que ela propõe a transcriação haroldiana, consciente da impossibilidade de se suprimir o “equívoco”. A literatura sabe que apreender o outro é impossível. Só cabendo encontrar o outro, contactá-lo e se deixar contaminar por ele, e a partir daí se deixar levar um pouco por ele, pois “traduzir é presumir que há desde sempre e para sempre um equívoco; é comunicar pela diferença, em vez de silenciar o Outro ao presumir uma univocalidade originária última – uma semelhança essencial – entre o que ele e nós ‘estávamos dizendo’” (CASTRO, 2005: 07). Da mesma maneira que se sabe, como explicita Viveiros, “a antropologia, então, ‘trata de equívocos’”, sabemos da impossibilidade da tradução literal. Não cabe nos casos de transcriações, seja de que língua e/ou literatura for, buscar os erros, pois esses sempre e abundantemente haverão, entendidos como equívocos: “um equívoco não é apenas um ‘defeito de interpretação’, mas uma deficiência no compreender que as interpretações são necessariamente divergentes, e que elas não dizem respeito a modos imaginários de ‘ver o mundo’ mas aos mundos reais que estão sendo vistos” (p. 08). Da mesma forma que um poema ou qualquer outro tipo de texto é único em sua língua e para ele não há tradução que o mensure, mas sim que o compare (p. 08), pois a relação com o outro, sua língua e sua cultura se dará sempre em termos de equívoco: “um equívoco não é um erro, um engano, um logro ou uma falsidade, mas o fundamento mesmo da relação que o implica, e que é sempre uma relação com a exterioridade. Um erro ou um engano só podem se determinar como tais dentro de um dado jogo de linguagem, enquanto o equívoco é o que se passa no intervalo entre jogos de linguagem diferentes” (p. 08).

Ideogramaxakali ou a montagem artística do yãmîy
Antônio Risério, em seu Oriki Orixá, coloca o oriki, gênero de poesia oral africana, ao lado de outros, como o haicai japonês, o soneto ocidental, etc. Com a diferença de que o oriki não é um gênero de forma fixa como o soneto, por exemplo, que exige determinado número e tipo de estrofe e rimas para ser considerado um exemplar. Ou ainda o haicai que também, ao menos em sua origem no Japão, é estritamente composto por três versos cuja métrica é 5-7-5 sílabas poéticas respectivamente. E é o próprio haicai que nos fornece argumentos para considerarmos aqui o que se vai considerar.
Paul Zumthor diz que “só excepcionalmente uma forma é estável e fixa; ela comporta uma mobilidade proveniente de uma energia que lhe é própria” (1997: 81). Uma vez rompendo as fronteiras japonesas e ganhando o resto do mundo o haicai se libertou também de sua estrutura fixa. Hoje em dia, reconhecido e praticado ao redor de todo o mundo, o haicai não mais exige esquema rítmico e rímico fixos. Sabe-se que o haicai, como qualquer outro gênero de poesia é muito mais que um mero padrão rígido imbuído para enquadrar a expressão. Sabe-se que valores como síntese, imagética, ou sua candidez natural são valores tão ou mais intrínsecos.
Sobre o oriki, Risério explica: ele não é oração, “o rito oral milenar do fiel que se endereça ao seu deus, pedindo proteção, saúde, dinheiro, paz na família”. É sim uma “figuração paratática do orixá”. Entende-se a parataxe por oposição à hipotaxe. Décio Pignatari esclarece:

“a parataxe é a organização por coordenação, e o seu pivô é o conjunto das chamadas conjunções coordenativas; a hipotaxe é a organização por subordinação, que se articula graças às conjunções subordinativas. No Ocidente, domina amplamente a hipotaxe, desde quando os árias, saindo do norte da Índia, falando sânscrito, e caminhando para o ocidente, se transformaram nos gregos, que produziram a fissão nuclear da linguagem e das cabeças, ao criar e desenvolver o sistema predicativo da língua (sujeito/predicado/objeto ou complemento), especialmente quando o verbo ser é aplicado: tal coisa é tal coisa. Daí nasceu a lógica ocidental, que já tomou conta de todo o planeta” (PIGNATARI, 1995: 161).

Vejamos um exemplo de oriki. Trata-se do “Oriki de Oxumarê”, transcriado por Risério:

Oxumarê, braço que o céu atravessa
Faz a chuva cair na terra
Extrai corais, extrai pérolas.
Com uma palavra prova tudo
Brilhante diante do rei.
Chefe que veneramos
Pai que vem à vila velar a vida
E é tanto quanto o céu.
Dono do obi que nos sacia
Chega na savana ciciando feito chuva
E tudo vê com o seu olho preto (RISÉRIO, 1996: 154).

O oriki, assim como o yãmîy, é também um canto a um deus. No caso, deus africano: o orixá. Segundo Risério, citando o Dicionário de Cultos Afro-Brasileiros de Cacciatore: “cântico de louvor que conta os atributos e feitos de um orixá” (RISÉRIO, p. 93).
Paratático, portanto, é o oriki, - e, segundo nossa hipótese, também o yãmîy - no sentido de que o discurso que o estrutura prescinde de conectores lógicos, como as conjunções, e não se organiza em períodos compostos por subordinação, o que dá à fala ou à escrita seu caráter hierarquizante, como normalmente acontece no discurso ocidental. “Com a hipotaxe ontológica, (…) onde as frases se montam por subordinação hierárquica (oração principal, orações secundárias), você pode montar argumentos, numa seqüência de causas e efeitos” (PIGNATARI, 1995: 162). “Já com a parataxe, todas as frases estão em pé de igualdade. Não há orações secundárias ou subordinadas: todas são principais. São frases que podem ser justapostas e encaixadas ad infinitum” (PIGNATARI, 1995: 162).
Tal é uma característica não só do oriki, mas também do yãmîy maxakali. Vemos que o poema transcriado não apresenta “frases que se montam por subordinação hierárquica” numa “seqüência de causas e efeitos”. Ele se mostra muito mais como um texto em que “as frases estão em pé de igualdade”, sem orações subordinadas, em que as frases “podem ser justapostas e encaixadas ad infinitum”. É certo que o fato de ser o yãmîy um gênero oral exerce influência neste aspecto.
Cada verso se coloca como uma idéia ou imagem completa, sem conectores lógicos entre as frases. Cada verso é uma frase completa. O paralelismo que há no poema, principalmente pela repetição do sintagma “o ouriço” a iniciar cada um dos versos reforça tal concepção.
Analisando o mesmo procedimento presente no oriki, Risério diz: “O oríkì é sobretudo uma espécie de montagem de atributos do objeto que tematiza. Uma construção epitético-ideogramática. O que importa é isso: montagem de atributos, colagem de predicados, justaposição de particularidades e emblemas”. E mais à frente: “O método de montagem. Um oríkì de Omolu, por exemplo, é uma espécie de ideograma do senhor das pestes” (RISÉRIO, 1996: 93).
Montagem, ideograma, eis o princípio que rege também o yãmîy maxakali.
Pound, provavelmente o maior teórico e realizador do método ideogrâmico, em seu A arte da poesia, no que alguns chamam de “manifesto imagístico”, vai preconizar para o poema:
“- tratamento direto da coisa;
- economia de palavras;
- frase musical” (pp. 09-11).
Se considerarmos um yãmîy maxakali vamos encontrar exatamente o que o norte-americano apregoa. Em cada yãmîy o tratamento do tema é direto, sem rodeio. O foco do poema é claro e todas as enunciações giram em torno dele.
Num yãmîy se tem também a quantidade de palavras na medida certa. Não há excesso, não há verborragia ou palavrório vazio. Usam-se os termos necessários para se dizer o que se pretende. E nada mais.
Obviamente num yãmîy a frase é musical naturalmente. Até porque são cantos. Sendo assim, musicalidade e palavras (para usarmos os termos do próprio Pound: melopéia e logopéia) estão interligadas visceralmente.
Tudo isso em função da construção de uma imagem. No caso, a imagem de um totem (tal construção de imagens na poesia, Pound denomina fanopéia).
Claro que com isso não queremos dizer que os índios são “vanguardistas”. Mas que eles intuitivamente realizam algo que a vanguarda busca racionalmente, através de pesquisas, tentativas e erros. No sentido que Fenollosa diz que “a poesia apenas faz conscientemente aquilo que as raças primitivas faziam inconscientemente.” (Ideograma, p. 128) Poesia aqui, entenda-se a de vanguarda. Da mesma maneira o coreógrafo Maurice Béjart diz que o que os grupos de dança de vanguarda europeus buscam já está nos rituais de macumba e no teatro nô japonês. O que nos faz lembrar que as vanguardas são “primitivas”. Ou, em outros termos, temos o “eterno retorno” nietzscheano. Ou, para não alongar demais, podemos citar Valéry que sintetiza a questão numa sentença: “a serpente morde o próprio rabo.” Ou seja, um ciclo se fecha. Quando se chega a um patamar de desenvolvimento tal, o homem ocidental, não tendo para onde ir, se vê obrigado a voltar-se às origens, ao básico. De acordo com isso é que Wellek e Warren, em Theory of Literature, reconhecem que há certa linha descendente que liga os padrões atuais da literatura ao passado oral em cada cultura e, consequentemente a recorrência do retorno ao primitivo e falam de sua importância, sobretudo no que tange à literatura folclórica ou oral, para os estudos de teoria do gênero e de como a literatura necessita se “re-barbarizar” (não só a literatura mas todas as artes e por extensão a cultura de um povo):

“Some important topics for genre theory we should like to suggest, though we can offer only questions and tentatives. One concerns the relation of primitive genres (those of folk or oral literature) to those of a developed literature. Shklovsky, one of the Russian formalists, holds that new art forms are ‘simply the canonization of inferior (sub-literary) genres’. Dostoyevsky’s novels are a series of glorified crime novels, romans à sensation, ‘Pushkin’s lyrics come from album verses, Block’s from gipsy songs, Mayakovsky’s from funny-paper poetry’. Berthold Brecht in German and Auden in English both show the deliberate attempt at this transformation of popular poetry into serious literature. This might be called the view that literature needs constantly to renew itself by ‘re-barbarization’” (pp. 235-6).

Não é à toa que os movimentos artísticos inovadores ao longo do século XX buscaram inspiração em expressões ditas “primitivas”. Picasso se inspirou nas máscaras rituais africanas para pintar seu Mademoiselles d’Avignon. Stravinsky buscou subsídios para a Sagração da Primavera nos rituais pagãos dos povos eslavos primitivos. O surrealismo, na linguagem inarticulada do inconsciente freudiano. O dadaísmo, na lógica (talvez fosse melhor dizer analógica) infantil. O modernismo brasileiro, com Oswald, se inspira na imagem do índio e seu “primitivismo” visceral antropofágico. Todos no fundo buscando superar o racionalismo do símbolo através de uma linguagem mais icônica, para mais uma vez usarmos os termos da Semiótica de Peirce. Uma linguagem mais imediata, intuitiva, livre de conectores lógicos e concatenações subordinativas, hierarquizantes. Enfim uma linguagem mais ágil, mais artística.
Para Eisenstein: “Montagem é a idéia que nasce da colisão de duas tomadas independentes” (CARONE NETTO, 1974: 103-4). Em seu “Palavra e imagem” (O sentido do filme, 2002), ele vai compará-la em nível lingüístico com as palavras portmanteau de Lewis Carrol, também conhecidas como palavras-valise, uma palavra dentro de outra, ou dois vocábulos justapostos dando origem a uma nova e criativa palavra: “dois significados colocados em uma palavra, como se a palavra fosse uma mala portmanteau” (EISENSTEIN, 2002). Um dos mestres de tal procedimento seria, como cita o russo, James Joyce. Nos dizeres de Eisenstein “todo idioma tem seu profissional de ‘portmanteau’”. No Brasil com certeza seria Guimarães Rosa, principalmente no Grande Sertão: Veredas. Os Maxakalis também os têm, como vimos nos exemplos vocabulares no início deste artigo. Uma palavra como mîptutmõg (“carro”), que trás dentro de si outras três ou quatro (“madeira”, “mãe” – dessas origina-se a palavra “casa” – e o verbo “ir”), e que nos leva à metáfora “casa que anda”, pode muito bem ser considerada como tal. São o que, nos dizeres de Haroldo de Campos, se constituem n’“a palavra-metáfora. A palavra-montagem. A palavra-ideograma” (CAMPOS, 1986: 21). No idioma maxakali a criação de palavras deste tipo se dá numa freqüência muito maior que no português, sobretudo quando os índios necessitam nomear artefatos industriais levados ao seu território.
Eisenstein vai, em seu famoso estudo “O princípio cinematográfico e o ideograma”, analisar o haicai e o tanca, gênero mais antigo que derivou o primeiro, e dizer: “Ambos são pouco mais que hieróglifos transformados em frases. Tanto que metade de sua qualidade é avaliada por sua caligrafia. (Podemos pensar que no caso de uma obra oral, tal metade deve ser avaliada em função da performance) O método de resolução de ambos é inteiramente análogo à estrutura do ideograma” (CAMPOS, 1994: 152).
Significativamente num livro maxakali intitulado Yãmîy xop xohi yõg tappet, traduzido por Livro de cantos rituais maxakali, obra que apresenta yãmîys tradicionais vertidos para o português e ilustrado por Gilmar Maxakali, não se pode deixar de perceber a semelhança com os poemas tradicionais do Japão. Nas páginas do livro o texto é acompanhado de ilustração, como se costumam apresentar os haicais. São textos curtos, sintéticos. Os temas, como não poderia deixar de ser, são intimamente relacionados à natureza: “Canção do Martim-pescador”, “Canto do morcego”, “Canto da andorinha grande”, etc. E os poemas descrevem as ações e características de tais entes de maneira simples, singela, como um haicai, originalmente. Como se não bastasse, o autor Gilmar, na ocasião de publicação do livro, frisou que o mesmo devia ser editado da direita para a esquerda, como as edições livrescas em muitas culturas orientais. Desta forma, o que se obteve foi um objeto sui generis: um livro que se lê “ao contrário”, como a demandar e representar uma outra lógica. Tal poesia se aproxima muito da noção que, segundo Leyla Perrone-Moisés, Roland Barthes faz do haicai: “O haicai consegue a façanha de dizer a pura constatação sem nenhuma vibração de arrogância, de sentido, de ideologia” (BARTHES, p. 86). Também o yãmîy é a linguagem sendo usada pura e simplesmente como representação do real, representação esta livre de arrogância e ideologia. O que Perrone diz mais à frente serve também ainda para o yãmîy: “O que diz o haicai é um momento intensamente vivido por ‘alguém’, mas fixado em linguagem sem o peso do sujeito psico-lógico do Ocidente. Nenhuma moral da história. O haicai é, para Barthes, um lugar feliz em que a linguagem descansa do sentido, e neste momento, segundo ele, é o de que ela necessita. Não como uma fuga, mas como uma tomada de fôlego; não para alienar-se, mas para ‘dar um tempo’” (BARTHES, p. 87). Tal concepção é muito próxima do que se pode inferir do método ideogrâmico de Pound, “a process where the artist, by precise perceptions, attains a vision of the relationships between the particulars observed and the working of nature. From the exactness of these perceptions the artist recreates this vision in the literary work; and from this, acute and attentive readers may attain their own vision or revelation”. E finalmente: “The artist seeks out the luminous detail and presents it. He does not comment.” (Ideogram, p. 8) Portanto, tanto o haicai, como os poemas ideogrâmicos de Pound, e também o yãmîy maxakali, são inscrições em que o indivíduo tão tipicamente ocidental, egocêntrico, se ausenta, ou, nas palavras de Perrone, “dá um tempo”, numa linguagem livre das metáforas decorativas ou asserções pessoais. Uma linguagem sem ideologia, pois “nossas línguas ocidentais estão cansadas de fazer sentido” (BARTHES, p. 85).
Tal retomada de fôlego de que fala Barthes pode ser traduzida na já mencionada “re-barbarização” de Wellek & Warren: um retorno ao dito “primitivo” para uma renovação da arte. Em nosso caso, em se tratando de americanos, brasileiros, até para evitar o risco que corremos, mencionado sagazmente por Perrone, de “ruminar os velhos discursos europeus e de desembocar nos mesmos impasses a que eles agora chegam” (BARTHES, p. 86). O yãmîy e todos os prováveis outros gêneros de literatura indígena no Brasil podem ser um atalho a nos desviar dessa senda já excessivamente trilhada e repisada.
“Do nosso ponto de vista, estas são frases de montagem. Séries de tomadas” (CAMPOS, 1994: 153) acrescenta Eisenstein sobre o haicai. É como se cada verso fosse a tomada de uma cena num filme. Entre um e outro há um corte. Como se cada verso fosse um fotograma. Ou, como diz Modesto Carone em seu estudo sobre a poesia de Georg Trakl, “… as imagens isoladas do poema se comportam como as ‘tomadas’ ou os fotogramas montados num filme…” (CARONE NETTO, 1974: 15) O mesmo se dá no caso dos poemas maxakalis: cada verso pode ser visto como a tomada de uma cena, como se o poema fosse um roteiro sintético. Vejamos o exemplo da “Canção do martin-pescador pequeno”.

O martin-pescador pequeno está na árvore seca
Ele desce no rio
Ele entra na água
Ele sai com um peixe
Ele está parado comendo o peixe
Ele corta caminho entre dois morros
Ele vai rio abaixo
Ele vai rio acima
Ele voa entre o céu e a terra
Ele desce no rio grande (MAXAKALI, 2004: 8-17).

Ou seja, o que temos aqui é o que é chamado de “montagem de atributos”. No caso, atributos de um totem, o martin-pescador pequeno. Nos dizeres de Géfin: “the very basis of the ideogramic method, Pound’s ‘intuitive affinity for description by particulars’”… (Ideogram, 1982: 5) Da mesma maneira que no método ideogrâmico poundiano, os yãmîys maxakalis também apresentam os atributos dos seres cantados. O yãmîy maxakali é um ideograma que presentifica um deus ou totem. Sua estruturação se dá basicamente por montagem. A mesma montagem que é pressuposto do haicai e do oriki de Risério e que no cinema de Eisenstein, é uma “atividade de fusão ou síntese mental, em que pormenores isolados (fragmentos) se unem, num nível mais elevado do pensamento, através de uma maneira desusada, emocional, de raciocinar – diferente da lógica comum” (CARONE NETTO, 1974: 103).
O yãmîy é no âmbito maxakali o que o oriki é no âmbito africano. Assim como os orikis, que Risério reconhece como um gênero de poesia, os yãmîy são uma espécie de avatar que também expressa a concretização de um espírito ou totem na terra através do método da montagem ou ideograma.
Pensando numa analogia podemos dizer que assim como para o católico a hóstia não representa o corpo de Cristo (como se dá para um protestante), mas é o próprio corpo de Cristo, para o maxakali o yãmîy/canto é o próprio yãmîy/espírito. Da mesma maneira que uma metáfora é muito mais visceral que uma comparação, pensando em termos de figuras de linguagem. Pensar e dizer que algo é alguma coisa é muito mais pungente que dizer apenas que algo se parece, ou é como alguma coisa.
O yãmîy é portanto coisa, no sentido de “coisificação da poesia”. Sinteticamente, “coesia”, no dizer de Pignatari. O yãmîy é quase que a coisa ou o yãmîy em si. Não é à toa que os maxakali chamam tanto o espírito quanto o canto de yãmîy. Ou seja, não se diferencia um do outro. Como já foi dito aqui, o yãmîy canto é o yãmîy espírito. “É o poema que coisifica a coisa, coisificando-se – e incitando a uma nova visão da coisa, ou seja, ressignificando-a” (PIGNATARI, 2005: 23). Para ter a visão do yãmîy-espírito os maxakakis o cantam. Assim ele se mostra, aparece diante dos olhos através das palavras. O símbolo leva ao ícone. A palavra leva á imagem, assim como na espiritualidade maxakali, o koxuk (alma-palavra) leva ao yãmîy (canto-espírito).
No caso maxakali, segundo os próprios índios, retomando o que foi dito acima, o yãmîy/canto não representa ou homenageia o yãmîy/espírito, mas é o próprio espírito. O que nos remete a algo que está na origem da relação signo (pra ser mais específico neste caso devemos mencionar “símbolo”) e referencial - para voltarmos à Semiótica -, que é a antiga concepção de “palavra mágica”, como formulada por Ernst Cassirer, que em seus estudos sobre a relação entre a linguagem e o mito escreve:

Este vínculo originário entre a consciência lingüística e a místico-religiosa expressa-se, sobretudo, no fato de que todas as formações verbais aparecem outrossim como entidades míticas, providas de determinados poderes míticos, e de que a Palavra se converte numa espécie de arquipotência, onde radica todo o ser e todo acontecer (CASSIRER, 1972: 64).

A “palavra mágica” é aquela que está na origem da criação e que tem o poder de, ao ser mencionada, fazer surgir a coisa. Trata-se do velho dixit bíblico: no começo era o verbo: “e Deus disse: faça-se a luz e a luz se fez”. Em certa medida equivale à “palavra-força” de Zumthor, que, em contraposição à palavra ordinária, banal, superficial, “tem seus portadores privilegiados: velhos, predicadores, chefes, santos e, de maneira diferente, os poetas” (ZUMTHOR, 1989: 89).
Quando em ritual os maxakalis recitam ou cantam seus yãmîys estão presentificando seus deuses e com eles se relacionando, conversando, recebendo ensinamentos, aprendendo a tradição e também, porque não, a como lidar com o novo.

Toteogramas
A lógica que rege o yãmîy maxakali é a do totem. Um clã se identifica com as características de determinado animal e sua vida espiritual gira em torno disso. Freud, em Totem e tabu (1995), nos dá uma explicação cabal do termo:

Via de regra é um animal (comível e inofensivo, ou perigoso e temido) e mais raramente um vegetal ou um fenômeno natural (como a chuva ou a água), que mantém relação peculiar com todo o clã. Em primeiro lugar, o totem é o antepassado comum do clã; ao mesmo tempo, é o seu espírito guardião e auxiliar, que lhe envia oráculos, e embora perigoso para os outros, reconhece e poupa os seus próprios filhos. Em compensação, os integrantes do clã estão na obrigação sagrada (sujeita a sanções automáticas) de não matar nem destruir seu totem e evitar comer sua carne (ou tirar proveito dele de outras maneiras). O caráter totêmico é inerente, não apenas a algum animal ou entidade individual, mas a todos os indivíduos de uma determinada classe. De tempos em tempos, celebram-se festivais em que os integrantes do clã representam ou imitam os movimentos e atributos de seu totem em danças cerimoniais (1995: 22).

Popovich (1976a) reconheceu que os seres sobrenaturais (“supernatural beings”) maxakalis e seus rituais se baseiam na idéia do yãmîy, termo que, de acordo com ele, pode ser traduzido como “alma dos mortos”: “Yãmîyxop consists mostly of souls of dead Maxakalí, and a few souls of Indians of other tribes, national Brasilians, and animals” (p. 02). Ele reconhece 10 grandes grupos de yãmîy, os quais se constituem de mais de 200 subrupos (1976a: 2). Dentre os 10 grupos encontram-se por exemplo o da anta (ãmãxuxxop), o das folhas (mîxuxxop), o do papagaio (putuxop), o do morcego (xûnînxop), o do kotkuphi (palavra que designa o talo da mandioca), etc. Nos subgrupos encontram-se a própria anta, a capivara (kuxakkuk), o abacaxi (kutitta), a cachoeira (kukmok), o veado (mûnûy), a vaca (mûnûytut), a onça (hãmgãy), o caititu (xapupnãg), a jaguatirica (xokãnêhnãg), a abelha (kutapax), a cigarra (patakak), a grama (mîxux kupnãg), o bambu (tatakox), a arara (putuxop xexka), etc. (cf.: pp. 3-10).
Popovich no entanto resolve não utilizar o termo totem em relação aos maxakalis, porque, segundo ele, “even though these groups are societies consisting of certain dead and living going by various names, they do not divide the tribe into distinct societies” (p. 2).
O fato é que não há um estudo específico e significativo sobre a questão do totem junto aos maxakalis. Em entrevistas com os índios, no entanto, pude comprovar que Izael Maxakali, professor, e sua família, por exemplo pertencem ao grupo ou clã da chuva (texxop). Ele mesmo me revelou ainda que para casar é necessário que a moça venha de um grupo ou clã diferente do seu. O que nos faz crer que os yãmîys interferem sim na organização social dos maxakalis. De fato seriam totens.
Ainda que, como escreve Freud, “muitos investigadores tendem, assim, a encará-lo [o totem] como uma fase necessária do desenvolvimento humano que tem sido universalmente atravessada” (p. 23), podemos pensar que mesmo nas sociedades não-indígenas atualmente ainda encontramos seus resquícios em metáforas do tipo “ele está uma fera”, ou “ele virou um leão”, ou ainda “ela é uma flor”, etc., donde reconhecemos, assim como no totemismo, afinidades entre os humanos e outros seres da natureza. Donde se pode pressupor uma relação ancestral entre o totem e a metáfora.
A questão da formação de uma imagem ou diagrama é cara ao totemismo. Em explicação sobre a origem do totemismo Freud apresenta três teorias. Numa delas, a Teoria Nominalista, o psicanalista cita Keane, que encara os totens como ‘insígnias heráldicas’, por meio das quais os indivíduos, famílias e clãs procuravam distinguir-se uns dos outros” (Totem e tabu, p. 117), donde a idéia de um ícone simbolizando um clã, como nos brasões de famílias e modernamente as logomarcas de empresas. Ou seja, a idéia de uma marca associada a uma organização.
Tal imagem ou ícone pode se formar através das palavras, num processo de montagem ou ideogrâmico, como se dá nos yãmîys. É o caso do que estamos denominando aqui de toteogramas. Citando Julius Pikler em seu estudo, Freud escreve: “’A humanidade exigiu, tanto das comunidades quanto dos indivíduos, um nome permanente que pudesse ser fixado pela escrita (grifo meu) (…) Assim, o totemismo não surgiu das necessidades religiosas dos homens, mas de suas necessidades práticas e cotidianas. O âmago do totemismo, a nomenclatura, é o resultado da técnica primitiva de escrita (grifo meu). Em sua natureza, um totem assemelha-se a um pictograma facilmente desenhável (grifo meu). Entretanto, uma vez portadores do nome de um animal, os selvagens passaram a formar a idéia de um parentesco com ela’” (Totem e tabu, p. 118).
Ou seja, o totemismo parece ser uma modalidade “primitiva” da concepção de grama, inscrição, escritura ou registro, o que Pikler está chamando de pictograma, em termos imagéticos. Na concepção semiótica peirciana, trata-se da formação de um signo icônico. E este grama, chamemos assim, independe se é formado em desenho ou palavra, ícone ou símbolo. No caso dos yãmîys-cantos são palavras.
Os yãmîys, como cantos sagrados, celebrados sobretudo nos yãmiyxops (verdadeiros festivais) maxakalis, apresentam os animais totêmicos, seres espirituais, presentificando-os, através da palavra, mostrando-nos seus atributos, características, etc, tudo se dando em termos paratáticos, naturalmente poético. Aqui, portanto, parto da expressão que Décio Pignatari - traduzindo do russo e teorizando sobre a poesia de Marina Tsvietáieva (que ele considera uma “tentativa de estruturar uma montagem gestáltica da poesia de Marina”) - usa para denominar os poemas da autora russa, para também criar um neologismo. Décio escreve: “a predileção pela organização frasal paratática destrói o discurso ou o mete a perigo, substantivando, coisificando todos os formantes do complexo poético, que a mente lembra e retém como um todo, diagrama totêmico (grifo meu)” (PIGNATARI, 2005: 14). Estritamente falando, ainda mais totêmica que a poesia de Tsvietáieva, é a poesia maxakali e talvez por extensão a poesia indígena de um modo geral, por ser ela atravessada pela questão do totem, naturalmente associado à espiritualidade e cultura indígena. Daí podermos derivar da expressão “diagrama totêmico” de Décio o termo “toteograma”, a junção de totem + grama, analogamente a ideograma e outros tipos de escritura, para designar este tipo de texto que presentifica através da palavra os entes totêmicos do universo cultural indígena. Sendo assim podemos enxergar os yãmiys maxakalis como poemas toteogrâmicos. Verdadeiras escrituras do totem. Ou avatares escriturais do totem.2


NOTAS:

[1] Desde a origem do termo “poesia” já se pressupunha a união entre música e palavras. No Banquete platônico, Diotima, em diálogo com Sócrates, afirma, ao discorrer sobre “poetas”, que “de toda a criação artística apenas uma parte é considerada, a que se ocupa da música e dos versos, e que justamente a ela se dá o nome que pertence ao todo. Só essa parcela, como sabes, é chamada de poesia, e os que a realizam, de poetas.”
2 Em nota, Freud explica que “a palavra ‘totem’ foi introduzida em 1791 (sob a forma ‘totam’) por um inglês, J. Long, que a tirou dos índios norte-americanos”, e cita algumas obras fundamentais sobre o assunto: Totemism and exogamy (1910), de J. G. Frazer, e The secret of the totem (1905), de Andrew Lang.


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*Charles Bicalho

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