quinta-feira, 22 de julho de 2010

OS ÍNDIOS PURIS


OS ÍNDIOS PURIS

Fabiana Lima

"Os povos indígenas despertam todas as fantasias possíveis e imagináveis: Passam a ser encarados com romantismo, receios infundados, exotismo, folclore... raramente, como seres humanos capazes de realizar, de escolher livremente, de tecer a sua vida, de fazer a sua história, e até de errar".

Os primeiros habitantes do Vale do Paraíba
Os índios Puris habitaram grande parte do Vale do Paraíba concentrando-se principalmente entre as Serras do Mar e da Mantiqueira.
Podemos afirmar que os indígenas do Vale do Paraíba entraram em contato com o homem branco acerca do ano de 1587, na exploração comandada por Domingos Luis Grou, uma das primeiras expedições a percorrer o Vale. Porém,

em 1562, já existem escassos registros dos índios Puris próximos às margens do Rio Paraíba. Uma reunião na Câmara de São Paulo, no ano de 1591, refere-se à presença de "Gente, no Paraíba, e Guaramiris e os índios do sertão".
Com a abertura do Caminho novo a movimentação pelo Vale do Paraíba, inclusive pelas terras da Freguesia da Piedade, intensificou-se. Os brancos adentraram a mata fechada, ocorrendo os embates entre os exploradores e os índios.
Os Puris foram descritos como calmos e receptivos por alguns e valentes e armados por outros, de fato, podemos perceber que o homem branco facilmente os combateu. Com a exploração das terras o índio também foi empregado. Sobre os indígenas temos os relato de alguns viajantes e escritores segundo os quais traçar o perfil deste indígena valeparaibano; temos que leis cuidavam para que não fossem exterminados, mas como em toda história brasileira, e como nesta região não seria diferente, a extinção dos indígenas ocorreu. Contudo, a presença indígena no Vale fica clara nos costumes da população e nos traços físicos carregados pelas gerações que aqui edificaram suas moradas e como conseqüência da miscigenação de raças deram continuidade à cultura indígena, mesmo que mesclada com a do homem branco. A seguir, veremos onde habitavam os índios Puris, costumes, tradições e destes primeiros habitantes do Vale.

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Localização dos Puris no Vale

Os índios Puris habitaram grande parte do Vale do Paraíba, iniciando seus relatos em São José dos Campos, Caçapava, Taubaté, Guaratinguetá, Lorena, Canas, Cachoeira Paulista, Bananal e chegando em áreas de Minas Gerais e Rio de Janeiro em Angra dos Reis. Os Puris tem suas grupos distribuídos desde o Rio Paraíba até o Espirito Santo, penetrando na parte oriental de Minas Gerais e os Goyatkás entre o Baixo Paraíba e Macahe.
O território habitado por estes índios eram regiões por onde passavam o Caminho velho e o Caminho novo com destino a Minas Gerais. O Caminho Velho era iniciado por Parati, porém em 1725 o Caminho Novo começa a ser criado, abrindo picadas na mata e assim sendo utilizado, expulsando os índios da região, como veremos a seguir.
Dos Puris que habitavam o Vale do Paraíba paulista, iremos focalizar a região de Lorena, a antiga Freguesia da Piedade. Os indígenas dessa espécie, além de Lorena, habitavam a garganta do Embaú. Poucos registros são encontrados sobre este assunto, mas as informações podem ser encontradas nos documentos da época.

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Quem eram os índios Puris?

Encontrar descrições sobre os Puris elaboradas pôr cientistas da época, se bem que também iremos encontrar algumas divergências ou falta de detalhes nos relatos existentes.
Os índios Puris são identificados como descendentes dos Coropós e Coroados, ou espécie semelhante a estes, como descrevem os cientistas von Spix e von Martius nas expedições realizadas no início do século XIX. Seus aspectos físicos não eram diferenciados das demais tribos.
Estes indígenas são mencionados com os seguintes aspectos físicos: baixos ou de estatura mediana, robustos, largos, achatados, pescoço curto e grosso, formas arredondadas, pés largos e dedos grandes, pele macia de cor parda-escura, cabelo comprido liso de cor negra, sem cabelo nas axilas e peito, rosto largo, testa estreita, nariz curto, olhos pequenos, boca pequena e de dentes claros.

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Hábitos e costumes indígenas dos Puris

Os Puris poucos se distinguem dos Coropós e Coroados também em seus aspectos culturais. O significado da palavra Puri, em tupi, pode ser colocado como "... gentinha ou povo miúdo ou comedor de carne humana (dependendo da interpretação)" . Contudo, no Brasil, afirmam que a expressão "comedor de carne humana" não se aplicará, pois este conceito não se firma nos estudos, e sim, apenas nos relatos dos viajantes da época.
Poucos estudiosos atribuem aos Puris as práticas antropofágicas, porém essas acusações de canibalismo não deixaram nenhuma evidência, não podendo ser comprovada esta afirmação. Também existem relatos que descrevem os índios Puris como traiçoeiros e desumanos com os homens brancos, contudo esses atos podem ser tidos como resistência contra as agressões e conquistas dos europeus para defesa de seu território, sua família, sua tribo. Para o autor Cláudio Moreira Bento:

"...Não se conhecia fato algum de um puri que haja matado um branco. Quando os brancos
embrenhavam-se na mata para colher a planta medicinal poaia, ao encontrarem os puris
estes se punham a correr arriscando-se furtivamente a apanharem para seus usos as
ferramentas dos brancos. O próprio nome puri significava na língua deles gente mansa
ou tímida."

Na região do Vale do Paraíba, as afirmações são claras a respeito do comportamento do índio Tupi: são calmos, covardes, medrosos e ingênuos, eram mansos e tímidos.
Muitos relatos dão conta do medo e da suscetibilidade com que aceitavam a invasão pelo homem branco e trabalhavam para estes. Não roubavam, não eram mentirosos e nem ambiciosos. A personalidade do índio Puri é descrita, na maioria dos relatos, como dócil e suscetível ao trabalho a ele imposto pelo homem branco.
Quanto aos costumes e hábitos indígenas muito se diferenciavam da cultura dos portugueses, que iniciavam suas entradas na mata e tinham contato com uma cultura diversa da sua, muitas vezes aos olhos do homem branco eram exóticas, incompreendidas e mal interpretadas.
A contradição da busca por riquezas e a indiferença do índio pelas coisas materiais, eram fatores que o homem branco não conseguiam compreender. Eram opostos extremos, os índios almejavam a harmonia com a terra para o seu sustento, e o europeu buscava apenas a riqueza, adentrando a mata e tomando posse, do que antes era de todos, e a partir de então seria do homem branco. Esse encontro dos distintos veremos nos capítulos posteriores.
A língua dos Puris era diferente dos demais indígenas, das outras tribos, era caracterizado como um vocabulário esparso e do qual alguns viajantes fabricaram pequenos dicionários. (Vide anexo)
Os Puris tinham sua sociedade composta por um chefe, por um pajé e, homens e mulheres com funções distintas. O chefe era eleito pela astúcia, braveza e habilidades de guerreiro e não tinha poder efetivo sobre seu povo:

" Na sociedade indígena, chefe não é aquele que manda, mas sim, que
aconselha o que deve ser feito. Se os seus, seguem ou não o seu
conselho, o problema não é do chefe. Ele é apenas um líder que
aconselha, não um patrão que determina o que deve ser feito."

Ao pajé se destinavam a tarefas religiosas e rituais de cura; aos homens cabiam a fabricação de armas, a caça e a guerra; as mulheres cuidavam da colheita, recolher as caças abatidas e cuidar das vasilhas e demais utensílios usados na tribo. Cada índio podia escolher mais de uma esposa, eram polígamos.
A sociedade indígena desta espécie não exercia a agricultura nem a navegação, retiravam da natureza seus meios de subsistência. Por isso, viviam em habitações provisórias, eram nômades.
A religião era a devoção a vários seres poderosos, contemplavam a natureza e seus fenômenos como Deuses. Usavam colares protetores, para afastar animais ferozes, ressalta-se o papel do pajé como símbolo maior do poder da religião dentre os índios. Os índios após o falecimento eram colocados em vasos de barro e sua habitação era abandonada por medo do espirito do morto. Alguns destes vasos foram encontrados no município de Canas, cidade vizinha de Cachoeira Paulista, porém, somente estudos arqueológicos avançados poderão explicar a origem real, sem deturpações históricas formuladas pelo homem branco sobre os costumes, utensílios e a verdadeira genealogia desses habitantes primordiais do Vale.

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Bibliografia

EVANGELISTA, José Geraldo, 1922-. Lorena no século XIX. São Paulo: Governo do Estado, 1978.

PASIN, José Luiz. Algumas notas para a História do Vale do Paraíba. Desbravamento e povoamento. Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, 1977.

RAMOS, Agostinho. Cachoeira Paulista. 1971, 1v.
______. Cachoeira Paulista. 1971. 2v.

REIS, Paulo Pereira. O caminho novo da Piedade no Nordeste da Capitania de S. Paulo São Paulo, Governo do Estado de São Paulo.
______. O indígena do Vale do Paraíba. São Paulo, Governo do Estado de São Paulo, 1979.
______. Lorena nos séculos XVII e XVIII. São Paulo, Fundação Nacional do Tropeirismo, Objetivo.

Cláudio Moreira Bento, Uma controvérsia - o massacre dos índios puris de Resende, Itatiaia, Porto Real, Quatis, Barra Mansa e Volta Redonda, http://www.militar.com.br/artigos/artigos2001/celbento/massacreindios.htm.

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Links sobre os Purís:

Índios Puris

A lenda resendense do Timburibá (Dos índios Puris) - Abrir

Dança dos Puris- Abrir Uma controvérsia - o massacre dos índios puris de Resende, Itatiaia, Porto Real, Quatis, Barra Mansa e Volta Redonda - Abrir


Índios Tupinambás

Os Tupinambás - Abrir

Tupinambá: Todo dia era dia de índio - Abrir

Habilidades e Costumes dos Índios Tupinambás - Abrir

As cerimônias feitas pelos índios Tupinambás ao enterrarem seus mortos- Abrir

Índios Tamoios A confederação dos Tamoios - Abrir

Índios Tamoios e Ipaum Guaçu - Abrir

Projeto Brasil 500 anos? Índios (vários temas) - Abrir

Índios Guaianazes Índios Guaianazes em São José dos Campos- Abrir

Índios Guaianazes em Guarulhos - Abrir



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Fabiana Lima é formada em História pela Faculdade Salesiana de Lorena, aluna do curso de pós-graduação em História do Brasil Republicano na Universidade de Taubaté.

Fonte: Portal Vale do Paraíba

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NOTA

Os Índios Purís habitaram a Zona da Mata de Minas Gerais até serem aldeados, escravizados e quase totalmente exterminados a partir do final do século XIX. Seus descendentes ainda podem ser vistos por várias cidades da região, mas famílias inteiras, inseridas na sociedade rural ou urbana povoam as cercanias da Serra do Brigadeiro, outrora Serra dos Arrepiados. Muitas dessas pessoas assumem a identidade Puri.
Os Índios Purís estão se organizando, também, na cidade de Arapongas, Minas Gerais.


Aprenda mais sobre OS ÍNDIOS PURIS

Links afins:

Comunidades Indígenas em Minas Gerais


Forum Questões Indígenas

Índios Purís em Minas Gerais

Etnias Indígenas em Minas Gerais

Mais uma etnia reconhecida em Minas Gerais

Quadro resumo das Terras Indígenas no Brasil


Índios na Miséria

Purís-Goitacá, meus ancestrais

Índios e Eucaliptos



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