Ayin Hará: O que é isto?
Pergunta: Por que devemos nos preocupar com um “olho mau”, ayin hará 1? Se servimos a D'us, Ele nos protegerá!
Rabi Shlomo Chein: Você não precisa se preocupar com ayin hará; você pode confiar em Hashem.
Pergunta: Então porque isso é mencionado nas preces de Shacharit?
Rabi Shlomo Chein: É por que confiamos em Hashem! Rezamos a D‘us para que Ele cuide de nós e não fiquemos sujeitos ao ayin hará.
Pergunta: Mas ao reconhecermos de maneira a "proteja-nos do ayin hará" não estamos afirmando que "foi o ayin hará" que causou algo negativo?
Hamsa
Rabi Shlomo Chein: Eu não disse que não existe o ayin hará, e não foi isso que você perguntou, mas sim por que se preocupar com isso quando Hashem cuida de nós. E eu disse Não se preocupe e que é por isso que rezamos: para que Hashem tome conta de nós e desta forma, não devemos nos preocupar. Portanto, eu não entendo a sua última pergunta.
Pergunta: Acho problemático o fato de darmos tamanha importância à existência de um ayin hará como uma causa (aparentemente) de algo mau. Não é tudo pela vontade de Hashem? Não está tudo conectado com nossas ações? Não temos o poder de mudar a maneira de Hashem nos tratar? Por que se incomodar com este supersticioso ayin hará? Consegue imaginar Yaacov dizendo que a decepção de Lavan foi o ayin hará? Não somos mais inteligentes que isso?
Rabi Shlomo Chein: Sua pergunta fornece a resposta. Tudo é pela vontade de D’us, e está conectado às nossas ações. Portanto, se fazemos algo que causa ayin hará pode ser a vontade Divina que algo resulte disso. Você sabe o que ayin hará realmente significa?
Pergunta: Mau olhado, não é?
Rabi Shlomo Chein: E o que isso quer dizer?
Pergunta: Mau olhado é como um feitiço que alguém lança sobre outra pessoa.
Rabi Shlomo Chein: Esta é a tradução correta, mas qual é o conceito?
Pergunta: Geralmente uma maldição.
Rabi Shlomo Chein: Não realmente… o conceito é que quando alguém olha demais ou de maneira errada, isso pode causar que D'us olhe novamente, por assim dizer, decida mudar de idéia ou trazer algo sobre você.
Pergunta: Olhar demais ou da maneira errada – o que quer dizer?
Rabi Shlomo Chein: Por exemplo, quando um professor vê um aluno fazer alguma coisa, mas decide fazer vista grossa e ignorar aquilo… mas então se outro aluno começa a dizer: ‘Ei! Olhe o que aquele aluno está fazendo’, etc., o professor pode reexaminar a situação.
Pergunta: Então, é o olho do professor que percebe o mau comportamento e o castiga como resultado?
Rabi Shlomo Chein: Como os "olhos" dos alunos estavam focalizados naquilo, isso trouxe o "olho" do professor de volta para o fato. Isso acontece o tempo todo… uma criança faz alguma coisa mas somente é castigada porque todos começaram a observar e isso atrai atenção.
Pergunta: Então o castigo é o ayin hará? Ou a averá que o colocou em ação?
Rabi Shlomo Chein: Ayin hará não é um castigo, pode ser a fonte de problemas. Como foi explicado antes, pode "reabrir" um caso antigo, ou chamar atenção para algo que de outra forma teria passado despercebido.
Pergunta: Então averot, pecados, repetitivo que resultam em punição seria o ayin hará?
Rabi Shlomo Chein: Não entendi…
Pergunta: Se eu roubo um biscoito – posso ficar impune, mas se roubar um biscoito todo dia – terminarei por ser castigado.
Rabi Shlomo Chein: Isso nada tem a ver com o ayin hará, tem a ver com a sua ATIVIDADE.
Pergunta: Mas como essa noção de ayin hará existe independentemente de nossas ações?
Rabi Shlomo Chein: Voltando à analogia, é como o aluno que consegue se livrar de algo errado que fez e então faz de novo, e de novo, até que finalmente o professor diz basta. Ayin hará é a PRIMEIRA vez que o aluno faz aquilo, e ele teria se livrado, mas alguém estava "olhando" para ele e portanto criou caso, e o professor decide que não pode deixá-lo sair impune daquilo.
Pergunta: Mas em nossa vida diária a maioria das averot é conhecida somente da pessoa que faz. Ninguém mais está ali para ver. Somente você e Hashem.
Rabi Shlomo Chein: OK, não estou falando sobre essas averot. É como qualquer reportagem investigativa de hoje em dia… as pessoas podem estar seguindo normalmente o curso de suas vidas, e de repente alguém decide chamar a atenção sobre elas… num instante toda a sujeira que a pessoa estava escondendo por anos começa a emergir e de repente aquela pessoa passa a ter problemas por ações que fez há muito tempo, ou de repente para de receber os benefícios que tem recebido há anos.
Pergunta: Acho que entendi. Alguém pode cometer averot todo dia, e então no dia 3.000 algo de mau acontece como resultado daquela averá original. Então o ayin hará "surge" quando as coisas estão estáveis e de repente derruba a pessoa com um soco.
Rabi Shlomo Chein: Certo. Deixe-me dar a você um exemplo talmúdico de ayin hará. O Talmud diz: “Coloque cercas ao redor dos seus campos para não ser atingido pelo ayin hará”, o que isso quer dizer? O seguinte: digamos que você é abençoado com bons frutos todo ano, e D'us, por algum motivo, decidiu abençoar você. Então, certo dia, alguém passa e vê todos os bons frutos e começa a pensar: "Ei, isso não é justo, conheço esse cara e ele fez isso e aquilo e aquilo outro, então, como ele recebe bons frutos e eu não?!" Isso pode fazer D'us reabrir o caso – é o ayin hará – um mau olhado olhando e causando problemas. Ora, é claro que D'us pode ignorar aquilo, e é por isso que rezamos todas as manhãs.
Pergunta: Por que a inveja de alguém, uma averá por si mesma, faria Hashem reconsiderar?
Rabi Shlomo Chein: Voltando ao exemplo do estudante: os alunos estão comendo na classe, o professor decide ignorar, mas se de repente três alunos estão olhando para aquilo que o garoto está comendo, e isso começa a causar confusão, ou poderia provocar uma tendência agora que outros viram aquilo, etc. O professor mudará de idéia e agirá por causa de algo que, cinco minutos atrás, ele teria ignorado totalmente.
Pergunta: Sim, Entendo o exemplo. Mas esta segunda pessoa que chega ao pomar, olha e fica invejosa – a inveja da segunda pessoa é uma averá. Por que Hashem daria ouvidos a alguém que está cometendo uma averá tão básica?
Rabi Shlomo Chein: Não importa por que a segunda pessoa está fazendo isso – o principal é que se ele tem algo a que se apegar.
Pergunta: Isso encoraja as pessoas a serem secretas com suas averot?
Rabi Shlomo Chein: Não é apenas sobre averot específicas – é sobre qualquer coisa… ninguém deseja ser examinado a fundo, certo? Todos desejamos que D;us continue a nos dar coisas boas sem chamar a atenção de todos sobre os nossos atos, portanto ficamos na moita e não jogamos nosso sucesso na cara das pessoas, pois isso chamaria a atenção (quer dizer, despertaria o ayin hará).
É claro que também rezamos a Hashem toda manhã para que Ele considere ayin hará, e faça o que é bom para nós.
Pergunta: Entendi o conceito, eu estava com problemas no conceito de recompensa e punição.
Rabi Shlomo Chein: Não sei o que mais posso dizer.
Pergunta: Você já disse muito, e foi bastante paciente. O melhor que pode dizer é Shalom, Laila Tov.
Rabi Shlomo Chein: Quando você está sob os holofotes, seja por qualquer motivo, se você é desagradável, ou se as pessoas ficam intrometidas, mas quando você está sob os holofotes (que é o mesmo que ayin hará) mais sujeira é descoberta sobre você, e você consegue se safar de menos coisas.
Pergunta: É meia-noite agora para mim, e tenho Shacharit às 6:30h.
Rabi Shlomo Chein: Então vamos rezar para que Hashem não preste atenção às histórias dos tablóides que as pessoas estão pensando a nosso respeito, ou qualquer outra coisa que possa atrair atenção indesejada.
Boa noite, e o principal é não se preocupar com as pessoas, mas confiar em D'us.
Pergunta: Você deixou isso muito claro. Obrigado. Shalom.
Nota:
1 . Ayin Hará
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