Índios abandonam diálogo com governo sobre Belo Monte
Por racismoambiental
Cerca de 400 indígenas das margens do Rio Xingu decidiram ontem, em assembleia final do encontro Acampamento Terra Livre Regional, em Altamira, no Pará, que não dialogarão mais com o governo federal quando o assunto for a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, que será construída em Altamira.
A reportagem é de Fátima Lessa e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 13-08-2010.
“O governo só mente. Não há mais diálogo e agora temos de partir para a luta física”, disse a liderança indígena Sheyla Juruna, de Altamira. Ela não quis falar que tipo de luta física, mas explicou que “o momento agora é de pensar direitinho como faremos para mostrar ao governo que estamos unidos cada vez mais e a única certeza é que somos contra a Belo Monte”.
O cacique Raoni Metuktire Kayapó disse que índios e ribeirinhos e pequenos agricultores precisam se unir cada vez mais: “Nossos ancestrais moravam aqui nesta região e temos de lutar por nossos direitos e dos nossos futuros descendentes”. Para ele, todos devem se preparar para que o homem branco respeite os índios. ”Estou vivo, forte e muito presente.”
O Acampamento Terra Livre foi realizado durante três dias em Altamira e o tema principal foi a Belo Monte. Considerada a principal obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a usina será construída no Rio Xingu (PA) e vai inundar uma área de 516 quilômetros quadrados. A capacidade de geração é de 11.233 megawatts.
Além dos índios das etnias Juruna, Xipaya, Ara da Volta Redonda, Kuruaia e Xicrin da região de Altamira, Guajaja, Gavião, Krikati, Awa Guajá, Kayapó, Tembé, Aikeora, Suruí, Xavante, Karintina, Puruborá, Kassupá, Wajapi, Karajá, Apurinã, Makuxi, Nawa Acre, Mura do Amazonas, Tupaiu, Borari, Tapuia, Arapiuns, Pataxó, Tupiniquim, Javaé, Kaigang, Xucuru, Marubu, Maiuruna e Mudukuru -, ribeirinhos, pequenos agricultores e atingidos por barragens do Xingu, participaram do encontro.
O bispo do Xingu, dom Erwin Kräutler, disse que os habitantes do Xingu temem acima de tudo que o governo retome o projeto de construção de uma série de usinas no rio, uma vez que o gasto de R$ 30 bilhões não se justifica para uma usina que produzirá cerca de 40% da capacidade na maior parte do tempo. “É mentira que só Belo Monte será construída porque ela inviável economicamente”, afirmou.
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