quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Incertezas marcam a ´Casa de Passagem´



Clique para Ampliar

Abrigados não têm para onde ir e acabam extrapolando o tempo no lar provisório; há nove crianças no local
ALEX COSTA

Os 37 usuários do abrigo provisório da Prefeitura estão sem rumo definido, à espera de casa ou dinheiro

O nome do abrigo provisório já diz tudo. "Casa de Passagem", local gerido pela Prefeitura de Fortaleza que recebe aqueles que perderam o rumo da vida, caíram na miséria, são moradores de rua, despejados de seus lares ou entraram no mundo das drogas. O tempo médio de permanência tem sido de quatro, cinco meses. Entretanto, nem todos estão conseguindo refazer a vida nesse curto prazo.

Hoje a unidade, localizada na Avenida da Universidade, 1885, completa um ano de instalação e já recebeu mais de 160 usuários. Atualmente, dos 37 abrigados, nove estão com futuro indefinido. São idosos, dependentes químicos e doentes com transtornos mentais que não têm ainda para onde ir, vão acabar extrapolando o período de permanência e ocupar vaga cativa que deveria ser temporária.

A maioria diz sonhar com a casa própria, estão no programa "Minha Casa, Minha Vida". Uma das abrigadas, inclusive, já espera há mais de seis anos pela morada. Restam expectativas.

No meio disso, nove crianças - entre recém-nascidas e outras mais crescidas - se misturam aos demais, tentando sobreviver. Os mais fragilizados veem o tempo passar e as vulnerabilidades aumentarem a cada dia.

É o caso da autônoma Fernanda (nome fictício), 61. Ela está na "Casa de Passagem" há dois meses. O olhar cansado, a magreza do corpo e o choro contido mostram que a mulher é sofrida. Morou na rua a vida inteira. Não tem emprego, família, nada. Apenas a solidariedade das assistentes sociais. "Se não fosse essa casa estaria morta. Acho que vou ficar para sempre", diz.

Junto à história de Fernanda se reúnem tantas outras. O dilema da coordenadora do abrigo provisório, Maria de Lourdes Gomes, só cresce. "Apesar de muitos não terem autonomia, não podemos tirá-los daqui. O ideal é que eles não ficassem na ´Casa de Passagem´, mas não podemos abandoná-los", afirma a gestora, ressaltando a maior necessidade de unidade entre as políticas.

Uma outra moradora, Liana (nome fictício), 22, antiga habitante do "Poupa-Ganha", terreno no Centro da Cidade, brigou com o marido, usuário de drogas e foi expulsa de casa com seus quatro filhos. Dois estão na "Casa de Passagem", os outros ficaram em outro abrigo. "Não queria que a Prefeitura me botasse para fora. Só queria sair quando dessem uma casa", diz.

Apesar das dificuldades, a coordenadora diz que 90% dos atendidos foram restabelecidos, retomaram os seus rumos.

A Fundação de Desenvolvimento Habitacional de Fortaleza (Habitafor) informou que está sensível à questão e trará as demandas com prioridade.

IVNA GIRÃO
REPÓRTER

http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1034779